Estive em Chengdu, capital da província chinesa de Sichuan, para ser jurado do CHIPP, o Concurso Internacional de Fotojornalismo da China, que distribui um bom dinheiro em prêmios. A cidade é conhecida por ser o berço dos pandas e a capital da comida apimentada na China. Conheci também Pequim, palco de inúmeros eventos históricos. Hoje com mais de 20 milhões de habitantes e uma área maior do que a da Bélgica, ela pouco se assemelha com o lugar reinado por Kublai Khan e visitado por Marco Polo. Se toda a China for 70% dessas duas, será uma loucura!
"As cidades não param, as cidades só crescem " Esse verso de Chico Sciense define bem o país. Por lá, encontra-se de tudo à venda. Tive uma noção disso já na chegada. O taxista que me pegou no aeroporto tinha um grilo cantante dentro de um recipiente que deixava o inseto respirar. O motorista alimentava o bichinho com cenoura e maçã. O grilo na cápsula é vendido normalmente, apesar da legalidade questionável.
Tudo que se mexe, o chinês come. O que não se mexe também. Na rua de comidas Wangfujing, a poucos metros de onde aconteceu a famosa cena do tanque na Praça da Paz Celestial, são vendidos escorpiões, lagartos, bichos-da-seda, lulas, codornas e outros animais que nem sei dizer o que são. Todos fritos no palito para o consumo ali mesmo. Não posso deixar de citar o famoso tofu fedorento, iguaria extremamente apreciada pela população e que tem cheiro de esgoto. Eu comi - e quanto mais fedorento, melhor!
Em Chengdu, se você pagar, um cidadão limpa seu ouvido enquanto você aguarda sentado na beira da calçada. É uma prática mais popular para os lados do Tibete, da Índia e da Indonésia.
Smartphones estão por todo lado. Praticamente todos os chineses têm um na palma da mão. E as mãos deles têm dedos que parecem já ter o caminho exato das conexões, que quase sempre os levam para longe do lugar onde o corpo está. Ninguém levanta a cabeça, a não ser quando passa um estrangeiro. Se tiver barba, mais estranho acham. Ninguém tem barba lá. Nas calçadas, nos shoppings, andando de bicicleta, no metrô, nas praças, nos restaurantes e nos carros, os smartphones parecem ser os motores para essa gente. Em todos os espaços, há internet sem fio.
As pessoas jogam, conversam com outras pessoas, assistem a filmes, estudam, leem livros - o lugar em que mais se vê isso é no metrô. O de Pequim foi inaugurado em 1971, com duas linhas - e assim se manteve até 2004. Com as Olimpíadas, houve um boom no metrô, que hoje tem mais de 15 linhas e centenas de estações.
Além da tecnologia por todos os lados, outro sinal de modernidade em cidades grandes são edifícios, que brotam do chão como mato. Chegam a ser 10 de uma vez. Prédios velhos não sobrevivem: são derrubados para dar lugar a grandes shoppings. Além de serem numerosos, os shoppings estão sempre lotados. Aliás, tudo é lotado, desde metrôs até casas de massagem. Agora, o país está ficando idoso - depois de 35 anos da política do filho único, finalmente abriram a possibilidade para dois filhos, para renovar o mercado de trabalho.
As ruas, nossa mãe, as ruas, são assustadoras tal o movimento e a quantidade de gente. Para motos e bicicletas, não há lei. Quando você menos espera, passa uma moto a 50 km/h na calçada. Capacete não é obrigatório. Na verdade, para as motos elétricas, muito mais numerosas que as movidas a gasolina, nem habilitação precisa. Bicicletas, motos e triciclos - muito comuns na China para fazer entregas - deveriam transitar apenas nas "fulu", rua lateral para veículos menores. Mas não há regra nem mão. Estão na calçada, na rua, na fulu e virados para frente, para trás e até de lado.
Leia também
"São experiências fantásticas", diz jornalista gaúcha que lançou guia sobre a China
Dez destinos turísticos que vão bombar em 2015
Myanmar: templos e tradições budistas encantam visitantes
Por que percorrer a ferrovia transiberiana é uma das grandes experiências para um viajante
Leitor conta sua jornada inesquecível pela Índia
Tailândia, fascinante país de praias e muita cultura
Outra diferença em relação ao nosso trânsito: pisca-pisca não existe. Carros cruzam pistas da esquerda para direita como se estivessem em um autódromo de Fórmula-1. O que funciona mesmo são buzinas. Elas substituem o pisca-pisca. É buzinaço o tempo todo.
Mas tem muita coisa legal também. A comida local, por exemplo. O huoguo de Sichuan, um tipo de sopão no qual a gente joga comida crua dentro e pesca depois de cozida, e o famoso pato de Pequim são deliciosos. Os famosos shuijiao, os bolinhos de massa com recheio fervidos em água, são um espetáculo.
Um passeio incrível, uma cultura totalmente diferente da nossa, um país enorme que, em uma só viagem, não basta. Fica a sensação de quero mais, por isso a vontade de voltar, conhecer mais ainda desse povo e dessa terra.
Confira outras fotos do fotógrafo Jefferson Botega