O plano de Kristof Pajer de transformar a menor vila da Hungria em um paraíso das férias rurais não estava indo tão bem quanto ele esperava. As reservas eram poucas. Os retornos demoravam. O dinheiro andava curto. Então, ele arrumou um plano novo: em vez de alugar uma por uma as poucas casas disponíveis em Megyer, por que não oferecer a vila toda?
- As pessoas estavam usando a vila toda de qualquer maneira, então, por que não? - pergunta Pajer, 42 anos, que recentemente começou seu terceiro mandato como prefeito de Megyer, que tem uma população de 18 pessoas, eleito com 100% dos votos.
Assim, por cerca de US$ 700 por noite (cerca de R$ 2,1 mil), quase qualquer um tem a chance de se tornar o vice-prefeito oficial de Megyer e controlar sete chalés reformados e decorados de maneira exótica, onde podem dormir até 40 pessoas, a prefeitura, os galinheiros, currais de gado e ovelhas, o desgrenhado cachorro da vila, chamado Csikas, um gazebo, uma churrasqueira, uma frota de bicicletas antigas renovadas, um matadouro de porcos, uma sala para treinamento e um restaurante e bar privados, tudo cercado por 400 hectares de ruas, pastos, florestas e plantações de vegetais.
Há até uma quadra de basquete coberta em miniatura, mas para ser usada teriam de tirar as pilhas de linguiças defumadas com páprica, tonéis de carne de porco curada, caixas de batatas sujas e um barril de cebolas amarelas que descansam sobre um ninho de cascas quebradiças.
Reservas aumentaram após notícia se espalhar
Como vice-prefeito, o inquilino pode renomear as ruas da vila - as duas - e receberá uma placa oficial com o nome da rua e um certificado para levar para casa.
- Na verdade, começou como uma brincadeira - explica Barbara Balogh, diretora de marketing do Charmosos Hotéis de Campo da Hungria (Charming Country Hotels of Hungary), um consórcio de 10 pequenos hotéis (e uma vila) administrados por famílias que, conjuntamente, fazem propaganda de seus negócios. - É incrível quantas pessoas estão se interessando por nossa pequena e divertida vila.
A ideia, anunciada em 23 de fevereiro em um site de propaganda certificado, foi divulgada por veículos de comunicação da Hungria, e a notícia se espalhou pela Europa e por alguns lugares até mais distantes.
Na semana passada, Pajer deu de ombros e chacoalhou a cabeça enquanto tomava um café em um McDonald's em uma estrada no subúrbio da capital, Budapeste, onde possui um negócio de conserto de equipamentos pesados de construção.
- Esperava alguma repercussão, mas nunca conseguir a atenção que tivemos. Falando sério, é no meio do nada - diz ele.
Um ano atrás, Pajer normalmente recebia duas ou três perguntas por dia sobre os aluguéis na vila.
- Só ontem, recebi mais de 400 - afirma.
Nos primeiros 10 dias, ele fez 17 reservas, incluindo a de um grupo grande da Holanda.
Plano de salvamento
Gusztav Egly, 62 anos, que cuida da vila, vai do velho escritório municipal até o local onde está sendo construída uma sauna com uma machadinha nas mãos.
- Há muito o que se fazer aqui, para que a vila realmente se torne um lugar para passar as férias. Esse é meu projeto para a próxima semana - conta ele, apontando para uma cerca de madeira quase caindo, perto de um galinheiro, que fica em pé apenas por causa de alguns fios e do mato.
Megyer, declarada oficialmente pela Hungria a menor vila remanescente no país em termos de área e número de estruturas, sofreu ameaça de desaparecer por completo, como dúzias de outras vilas remotas que foram abandonadas pelos jovens.
- Quis ter certeza de que não acabaríamos como esses outros lugares - afirma Pajer.
Ainda assim, houve muito ceticismo quando ele surgiu com a ideia de alugar algumas das casas para hóspedes. Mas quando os moradores viram o dinheiro que o prefeito foi capaz de conseguir da União Europeia e de outras entidades que apoiam seu projeto, e a gradual reforma de uma casa após a outra, as reclamações pararam.
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- Fiquei surpreso quando anunciaram que iriam alugar a vila toda, mas estou feliz, porque isso só trouxe mais hóspedes. Acho que em algum momento nós, os moradores, também vamos estar para alugar - brinca Lajos Ignacz, 50 anos, que chegou aqui há 16.
Pajer foi eleito prefeito em 2006 e rapidamente resolveu pedir subsídios e subvenções do governo, conseguindo um total de cerca de US$ 700 mil para a vila.
Um local multiuso
No começo deste ano, depois que 13 das 20 estruturas do lugar foram reformadas, ele decidiu começar seu plano de aluguel da vila. O projeto é administrado como uma cooperativa, que tem os donos dos chalés disponíveis como membros. Se houver lucro, o que é pouco provável, avisa Pajer, qualquer dinheiro que não for usado na propriedade será dividido entre os donos.
Já houve pessoas que perguntaram sobre a possibilidade de se fazer cerimônias de casamento na vila, assim como festas de aniversário, eventos corporativos de treinamento e até festas à fantasia completas, com máscaras e roupas.
- Nada mais me surpreende - diz Pajer.
Como chegar
Saindo de Budapeste, a estrada para Megyer segue a sudoeste por duas horas, passando pelo distrito vinícola de Somlo e seus vinhedos íngremes antes de ir para o sul, cruzando o Rio Marcal e fazendo uma curva para chegar ao pequeno amontoado de cabanas pálidas que é a vila.