Foi um voo desde Buenos Aires que me deixou no Fim do Mundo, como é chamada Ushuaia, a cidade mais austral do planeta e o meu ponto de entrada na Patagônia. Era fim de dezembro, portanto verão, e a temperatura não passava dos 10ºC. Por sorte, o sol dava as caras às 4h e só se ia às 23h, esquentando looooongos dias. Existe um encanto só pelo fato de se estar lá embaixo, naquele ponto do mapa que fica a menos de mil quilômetros da Antártica (há passeios para lá).
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Mas aí ainda tem o vibrante das cores das flores, de tons que só vi por lá, o aconchego dos restaurantes e o emblemático Canal de Beagle, que separa Argentina e Chile, as ilhas do Arquipélago da Terra do Fogo e liga os oceanos Atlântico e Pacífico. Um passeio por suas águas permite a aproximação com lobos-marinhos, pinguins, os "primos" cormoranes e a história dos antigos habitantes do local, os índios da tribo Yamana.
Ator Domingos Montagner em cena da novela "Sete Vidas"
João Miguel Junior/TV Globo/Divulgação
Se você puder deixar a travessia para o fim do dia, melhor ainda. A volta para o continente reserva um belíssimo pôr do sol. E como um tour pela região contempla parques e montanhas, que devem ser desbravados a pé, levar um bom calçado é uma ótima ideia. As caminhadas, geralmente quilométricas, são acompanhadas de pequenos animais, que aparecem do nada. E há córregos, lagos e até água potável por todos todos os lados.
Bruna Scirea com familiares e amigos no glaciar Martial, em Ushuaia
Bruna Scirea/Arquivo Pessoal
As botas, comprei lá mesmo - por ser uma zona alfandegária, Ushuaia oferece produtos a bons preços. E as coloquei no barro no mesmo dia, quando percorri trilhas do Parque Terra do Fogo. No fim, a calculadora dos quilômetros percorridos em uma viagem dessas são as próprias pernas. Mas nada que um bom sono e um relaxante muscular não recuperem. Vale cada passo dado.
Pinguins, criaturas fofas e engraçadas
Depois, é só se jogar na gastronomia local. No Fim do Mundo, conheci dois patrimônios da culinária: o cordeiro patagônico, um assado suculentíssimo, e a centolha, um caranguejo gigante, que pode ser escolhido vivo. Então ele é pesado, vai para a panela e volta ao gosto do esfomeado. No meu caso, com muito queijo. Energias recarregadas. Era hora de encarar 18 horas de ônibus até a parte chilena da Terra do Fogo, onde visitaríamos Punta Arenas - a viagem incluiu um trajeto de balsa pelo Estreito de Magalhães.
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O destaque do local vai para a pinguineira. Se você ainda não viu um pinguim andando e pulando obstáculos, assim, pertinho, ao vivo, VÁ. Quando vi, não sabia se morria de fofura ou de tanto rir. Passei o resto da viagem imitando, todos os dias, o jeitinho deles. A parada seguinte foi Puerto Natales, base para fazer os passeios no parque Torres del Paine. Minha amiga Maria Rita, mochileira nata, dá boas dicas do que fazer nesse pedaço de paraíso no texto ao lado. Por isso, serei breve: se lhe disserem que vale a pena caminhar 19 quilômetros, metade morro acima, metade morro abaixo. Acredite!
Farol de Ushuaia
Damian Curico/Free Images
As cerca de cinco horas de caminhada até a base das torres serão recompensadas com um visual que jamais sairá da memória. Bem, de ônibus mais uma vez, voltei para o lado argentino da Patagônia - El Calafate é indispensável no roteiro pela região (a Rita conta o porquê) - e terminei a viagem em El Chaltén, vilarejo de poucas centenas de habitantes, distante três horas de Calafate. O lugar é a capital do trekking. Portanto, há trilhas e mais trilhas...
Cormoranes no Canal de Beagle
Damian Curico/Free Images
E cada vez menos forças. Resolvi, então, fazer um programa mais light: caminhar (apenas) duas horas até um lago, de onde era possível ter uma linda vista da famosa montanha Fitz Roy, com seu topo branco de neve. Só me esqueci que para voltar seriam mais duas horas... Para conhecer a Patagônia de verdade, é recomendável ter um bom par de pernas.