Há diferentes versões sobre a origem do nome daquela que é a maior ilha das antigas Antilhas Holandesas. Uns dizem que vem do espanhol "corazón" ou do português "coração". Outros, que é uma referência ao fato de que era para lá que, durante muitos anos, eram levados negros doentes para serem curados por médicos e depois vendidos no infame mercado de escravos das Américas, um lugar de "curação" ou "curación". E alguns, mais engraçadinhos, apostam que a alcunha nasceu em um episódio em que índios nativos da ilha devoraram um padre que estava passando dos limites em suas pregações - em espanhol, padre ou sacerdote pode ser chamado de cura, daí "cura asado".
Independentemente da veracidade dessas hipóteses, uma coisa é certa sobre Curaçao: trata-se de um lugar com história. E que faz questão de se vender como um destino turístico que é mais do que um rostinho bonito do Caribe. Quem vai à ilha encontra uma realidade além do circuito praias, baladas e cassinos. Não que isso não bastasse, mas há muito o que conhecer por lá além de enseadas paradisíacas.
Entre as atrações, é obrigatória a visita a dois distritos de Willenstad, a capital da ilha, tombados pela Unesco como Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade: Punda e Otrobanda, ligados pela ponte Rainha Emma, que se abre para os lados a cada passagem de embarcação.
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Ali, é possível conhecer o mercado flutuante, uma espécie de camelódromo de barquinhos, onde venezuelanos que navegaram de oito a 12 horas desde seu país vendem frutas, verduras e legumes, cultivados em pequeníssima escala em Curaçao devido à pouca chuva - são apenas 42mm anuais.
Também vale a pena ir ao Mercado Viejo saborear comida típica da ilha e conhecer uma das mais antigas sinagogas das Américas, a Mikvé Israël-Emanuel.
Não bastasse tanta coisa interessante para fazer e conhecer, Curaçao, por acaso, fica no Caribe. Logo, tem praias espetaculares, como Kenepa Grande e Kenepa Pequena, na porção leste da ilha, paraísos de água transparente e quente protegidos contra a construção de grandes empreendimentos. Uma boa dica é alugar um carro e percorrer as mais de 30 enseadas, o que é possível fazer em dois dias, com bastante calma.
O idioma falado pelos nativos é uma atração à parte. Para fazer bonito e ganhar o coração dos simpáticos moradores, é só arriscar um "danki, dushi" (obrigado, querido). Aliás, "dushi" vale para tudo: é lindo, bonito, delicioso. Enfim, tudo de bom!
Klein Curaçao. Foto: Andreza Rodrigues, CVC, divulgação
Imperdível
Além de conhecer as praias da ilha de Curaçao, um passeio imperdível é passar o dia em Klein Curaçao (Curaçao pequena). Trata-se de uma pequeníssima ilha a cerca de uma hora e meia de catamarã, deserta e paradisíaca. A embarcação sai no início da manhã, e a viagem já é uma atração: o comandante não se preocupa com eventuais enjoos e encara as ondas pelo caminho a uma velocidade alta. Ao chegar lá, são distribuídos pés de pato e snorkels, e é possível mergulhar em busca de tartarugas marinhas (eu vi duas). Além disso, é bacana fazer uma caminhada até um farol abandonado e a um navio encalhado. O passeio inclui almoço (muito bom) no catamarã e bar liberado. Na volta, o comandante leva o catamarã em baixa velocidade, na companhia do sol de final de tarde do Caribe.
Sea Aquarium. Foto: Andreza Rodrigues, CVC, divulgação
Beijo de golfinho
Outro programa legal é conhecer o Sea Aquarium, onde é possível nadar com golfinhos. Depois de breves explicações e orientações, os instrutores comandam a festa dos bichos, com direito a beijo nos turistas e muitas brincadeiras. Informações em dolphin-academy.com.
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No mercado brasileiro
O governo de Curaçao aposta, e muito, na conquista de turistas brasileiros. Hoje, apenas 5% dos cerca de 250 mil turistas que visitam a ilha por mês são daqui. Há grande procura das agências locais por guias fluentes em português, e cresce a oferta de cursos da língua. Entretanto, ainda são poucos os que falam.
Falcatrua com final feliz
Willemstad guarda uma explicação curiosa por trás dos coloridos edifícios de Punda e Otrobanda. Contam os nativos que, em 1816, o recém-nomeado governador de Curaçao Albert Kikkert sofria de fortes dores de cabeça.
Após consultar um médico, o político lançou mão de uma lei esdrúxula: os moradores e comerciantes tinham dois meses para pintar suas casas de cores que não fossem a branca, que refletia demais o sol do Caribe nos seus sensíveis olhos. Em pouco tempo, a área à beira da baía havia se transformado em uma paleta de tons pastéis.
Seria apenas mais uma história curiosa, mas pode ter sido uma sem-vergonhice. Tempos após a morte de Kikkert, descobriu-se que a política não era sua única atividade - ele era um dos donos da única fábrica de tintas que existia por lá à época. Safadezas à parte, a lei seguiu valendo, e as cores continuaram sendo obrigatórias.
Caso a história seja verdadeira, é talvez um dos poucos casos em que a corrupção trouxe algo de bom. Mas há um problema. Praticamente a cada ano, as casas têm de ser repintadas devido a um fenômeno conhecido como "câncer de parede" - as habitações foram construídas com areia do mar, o que faz com que descasquem com mais facilidade.
Ponte Rainha Emma. Foto: Pedro Moreira, Agência RBS
Adolescente holandesa
Integrante das antigas Antilhas Holandesas, dissolvidas em 2010, Curaçao é como se fosse uma filha adolescente do país europeu. A Holanda é responsável pela defesa e pela diplomacia e ajuda financeiramente a ilha, que tem um governador representando o rei holandês. O primeiro-ministro local é eleito de quatro em quatro anos.
Levada em "pedacinhos"
A imponente ponte Rainha Juliana (na foto abaixo, a outra ponte, a Rainha Emma), erguida nas proximidades das refinarias de petróleo para que os grandes cargueiros pudessem atracar, foi construída na Holanda e levada a Curaçao em 50 pedaços. Trata-se de uma estrutura de 52 metros de altura e 30 mil toneladas que levou 12 anos até ser concluída, em 1972. E não foi finalizada sem uma tragédia: enquanto era instalada, conta-se que os construtores teriam usado água do mar para poupar dinheiro, enfraquecendo a estrutura, que acabou desabando. Quinze pessoas morreram.
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Laranja azeda
Um passeio bacana é visitar a fábrica do licor Curaçao. É possível degustar e comprar a bebida, além de conhecer sua origem. Consta que, pouco depois do descobrimento da ilha, em 1499, uma das variedades de plantas que os espanhóis levaram ao local era a da laranja de Valência. Entretanto, o clima árido fez com que as árvores não dessem bons frutos para comer. Décadas depois, alguém descobriu que a casca seca da laranjinha azeda tinha um cheiro espetacular. Daí até transformar em licor foi um pulo - a bebida originalmente não tem cor, mas é vendida em quatro outros tons, entre eles, o azul.
Bom de papiamento
Aruba e Curaçao são Estados independentes do Reino da Holanda. O holandês, é claro, é um dos idiomas oficiais e entrou na grade escolar. O outro é o papiamento, uma mistura de sete línguas: holandês, espanhol, inglês, castellano, francês, criolo e o português. Quando um nativo começa a falar com você em papiamento, o idioma até parece familiar. Mas, na terceira palavra, dá um nó no seu cérebro. A contribuição do português está em expressões como "bondia", "bontardi" e "bon nochi" (bom dia, boa tarde e boa noite). "Por fabor" e "con bay" (como vai) também lembram o nosso idioma.
*O repórter viajou a convite de Copa Airlines, CVC e Sunscape Curaçao, Resort, Spa & Cassino