Antes e depois de Cabo Polônio. Sem clichês (quer dizer, me permitam só alguns neste relato de viagem). Estou falando da travessia que se pode fazer caminhando de Barra de Valizas até Cabo Polônio, na cada vez mais procurada costa do Uruguai. O antes é bonito, o depois empata, mas há um caminho bem lindo aí no meio, que pode variar em distância. Logo contarei.
Os meus cinco dias de folga no Ano-Novo eram para descansar, mas, quando cheguei a Valizas e comecei a ouvir pessoas - entre elas muitos brasileiros - perguntando, comentando e se planejando para a aventura a pé até a pacata praia de pescadores logo ao lado -, a curiosidade se tornou maior do que o cansaço acumulado que nos abate em dezembro.
Escolhi o melhor dos dias, mas não o melhor horário. O sol era forte, não havia nuvens. E, justamente por isso, muitos caem da cama logo ao amanhecer para atravessar as dunas. Mas só consegui me livrar do sono mais tarde.
- Tem de levar chapéu, protetor solar e água para o caminho - disse o rapaz do hostel onde eu estava hospedada, depois de me explicar que, indo pelo Cerro La Buena Vista, nas dunas, seriam oito quilômetros, enquanto que pela beira da praia virariam 12.
Com esses itens e aparatos arranjados - mais uma camiseta, já que meu braço sofria por ter sido preterido no dia anterior no uso do protetor solar -, parti enfim por volta das 10h.
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O barquinho
Existe uma espécie de trapaça no caminho a pé. É preciso pegar um barquinho que atravessa o arroio Valizas até uma outra margem, de onde realmente começa a travessia. Há quem se aventure a ir nadando neste trecho - que é bem pequeno mesmo. Mas, para quem estiver carregando algo, pode ficar complicado. Foi o meu caso, além do medo de onde não se dá pé. As viagens de barco são feitas das 8h às 20h30min e custam 40 pesos uruguaios (cerca de R$ 4) ida e volta. Errei em comprar essa opção porque, por ingenuidade, achei que voltaria pelo mesmo caminho (esqueci que, no total, seriam quase 24 quilômetros).
As pedras
Do outro lado do arroio Valizas, um grupo montado a cavalo se prepara para a jornada. É uma possibilidade de passeio até Cabo Polônio. Há famílias que vão para esse lado da margem em busca de uma praia mais tranquila, com menos gente. Também são mais belas essa paragens do que a beira-mar da Avenida Aladino Veiga, a principal rua de Valizas. Uns tantos seguem caminho até o Cerro La Buena Vista, batizado com um dos nomes mais sinceros que eu conheço. Depois de subir a areia quente das dunas, por momentos bastante fofa, chega-se às pedras deste pico, que permite uma visão 360º das duas praias. Bem distante ainda, enxerga-se Cabo Polônio e, a partir daqui, poucos seguem no caminho.
Praia quase deserta
Fotos: Maria Rita Horn
Depois do monte, sigo caminho pela beira da praia, em areia mais grossa (ganhei algumas bolhas, mas também reforcei as pernas). No mar mais bravo, dois surfistas, um escondido abaixo de uma lona e outro no mar, aproveitam as ondas. Como um alfajor, bebo um tanto de água e visualizo um sujeito pelado, apenas de óculos de sol, dormindo nas pedras. Alucinação? O sol está muito forte e sinto um pouco de medo de desmaiar, por isso me aproximo do passo da caminhada de um grupo de quatro pessoas. Esse é o trecho mais difícil, por causa da areia e da vista do farol de Polônio muito ao fundo, que demora para se aproximar.
Enfim, o Farol
Chego à praia La Calavera, depois de mais de duas horas. Ao contrário do que imaginava, há bastante gente à beira da praia. Pousadas, serviços de luxo, como um spa, e hostels ficam no entorno do mar, menos bravo do que no trecho anterior. Pessoas fazem ioga na areia e outras tantas se estendem em redes de varandas a meia dúzia de passos do mar.
Seguindo rumo à praia Sul, fica a "loberia" e o farol de Cabo Polônio. As centenas de lobos-marinhos buscam um cantinho nas pedras e brincam _ ou discutem? _ entre si. As pessoas têm um limite de aproximação dos animais, mas dá para ver bem direitinho até onde se pode chegar.
Hora de voltar
Um resquício de fôlego me sobrava para voltar a pé, mas outra curiosidade me afligia. Se carros de turistas não entram em Polônio, como se chega ou se vai embora? Em uma pracinha central, param caminhões 4x4 que levam passageiros até a entrada do parque. O percurso leva meia hora e é bastante divertido, passando pela beira da praia, por dunas e muito verde. No portal do parque, tomei o ônibus que me levou de volta a Valizas, em um trajeto de pouco mais de 20 minutos. Muito mais rápido do que a ida, mas, claro, bem mais sem graça.
Preste atenção
Nos últimos anos, foram limitadas as construções e regularizado o ingresso pela estrada. Hoje é um parque nacional e protegido. Saindo um pouco da beira da praia, charmosas e pequenas construções convidam a um retorno para passar a noite. Comenta-se que é lindo o anoitecer em Polônio. Não há água encanada ou luz elétrica - as estrelas se encarregam de boa parte da iluminação. De resto, geradores solares dão conta do recado.
Como chegar
- De ônibus
Para quem sai de Porto Alegre, a forma mais fácil é ir até o Chuí. A Planalto faz o trecho. Ao chegar na rodoviária da cidade, pergunte onde fica o terminal de ônibus da Rutas del Sol. Os que vão a Valizas param na entrada do Parque, onde se pegam os caminhões 4x4.
- De carro
O endereço do parque é o km 264,5 da Ruta 10, onde fica o estacionamento. Cabo Polônio fica a 85 quilômetros do Chuí e a 268 quilômetros de Montevidéu. O estacionamento no parque custa 170 pesos uruguaios (cerca de R$ 17).
Para ajudar a preparar a viagem: puertadelpolonio.com.uy evivirocha.com.uy