Veja a localização no mapa abaixo:
Partimos do Brasil em dezembro de 2011, em três amigos - eu, Patrick Darós e Guilherme Zanini -, com tudo certo para passarmos o Réveillon surfando no Marrocos. O país é um paraíso para surfistas. O que não imaginávamos é que a virada do ano seria na neve.
(Fotos: Arquivo pessoal) O empresário Bruno Bonet foi atrás de ondas no país africano e acabou em cima de uma prancha de snowboard
Desembarcamos em Casablanca (famosa por dar nome ao filme homônimo) e alugamos uma camionete para caber todas as tralhas. Pranchas e malas no carro, partimos para Marrakech para fazer turismo, pois é lá que fica o maior mercado do país. Depois, fomos para Taghazout, distante 200 quilômetros, em busca das tão sonhadas ondas. O curioso de toda história é que, após alguns dias pela região e no meio de altas ondas rolando no Atlântico, ouvimos falar sobre uma montanha excelente para prática de snowboard (surfe na neve) perto dali. Ficamos surpresos, nenhum de nós jamais imaginaria que, em um país africano, pudéssemos ver neve, e ainda mais neve boa para a prática do esporte.
Autoestrada antes de rebanhos
Não deu outra: no dia seguinte, de manhã bem cedo, estávamos partindo de carro rumo à Montanha Oukaïmeden. A estação de esqui está situada na cordilheira do Grande Atlas, a cerca de 150 quilômetros de Marrakech. O local se encontra entre 2,6 mil e 3,2 mil metros de altitude. De onde estávamos, no litoral, ficava a cerca de três a quatro horas de carro em estradas excelentes, estilo highways americanas, muito bem sinalizadas.
Ao chegar na região das montanhas a paisagem muda, a estrada afunila e, aos poucos, começam os primeiros picos nevados. O trecho sinuoso da base até a estação de Oukaïmeden é um espetáculo à parte. Passamos por diversas vilazinhas, onde agricultores cuidavam de plantações e rebanhos.
A estação tem muito o que melhorar e não se compara em nada com as estações da América do Sul, dos Estados Unidos e da Europa, mas para quem nem sonhava em esquiar na África, já estava ótimo. Alugamos o material (roupa e prancha) e subimos o lift (acesso por teleférico) até o topo da pista e de lá contemplamos uma vista linda da cordilheira Atlas.
A pérola do Sul
A cidade de Marrakech, conhecida como a Pérola do Sul ou cidade vermelha, é cultura pura. Lá conhecemos e visitamos diversos museus, restaurantes, praças, parques, monumentos, mercados e muito mais. Falando em mercados, vale a pena citar que Marrakech tem o maior suq (mercado tradicional) do país, além de uma das praças mais movimentadas da África, a Djemaa el Fna, que abriga acrobatas, vendedores de água, dançarinos, músicos e barracas de comida. Foi nesta praça que deparamos com os famosos encantadores de serpentes. Muitos deles estão pela praça à espera dos turistas que veem, curiosos e espantados, as cobras dançarem ao som das flautas.
Nas movimentadas praças de Marrakech, encatadores de cobras deixam os visitantes espantados
O verdadeiro prato tradicional
Foi na Djemaa el Fna que descobrimos que o prato mais tradicional do Marrocos é o tajine, e não o cous cous. Provamos, claro! E é uma delícia. É como se fosse um ensopado brasileiro. Os ingredientes - carne, vegetais e condimentos - são cozidos em panela de barro, feitas de forma que todo o vapor condensado volte para o fundo da panela.
Deste processo, resulta uma carne tenra, que solta dos ossos, com vegetais aromáticos e molho. Sem a tampa, a base de barro pode ser levada para a mesa para o prato ser servido. É comum vermos os marroquinos comendo o tajine com as mãos, pegando com pão os pedaços de carne e vegetais. Tão tradicional quanto o tajine é beber chá após as refeições. É quase uma regra.
Direto para a água
Já adaptados à cultura marroquina, rumamos para o litoral em busca das famosas praias do Marrocos, nosso principal objetivo ao atravessar o Atlântico. A região que mais rola ondas é Taghazout, distante cerca de 200 quilômetros ao sul de Marrakech. O lugar é incrível. Nos anos de 1960 e 1970, a localidade era frequentada e habitada por hippies, que depois deram lugar aos surfistas.
A região que mais rola ondas é Taghazout, distante cerca de 200 quilômetros ao sul de Marrakech
Hoje, a cidade vive da pesca, da pecuária, da produção de óleo de argan e do comércio de artesanato. Devido ao surfe, também acabou virando um local turístico. Há inúmeras surf shops, pousadas, escolinhas de surfe e restaurantes. É um reduto de europeus. Homens, mulheres, crianças, famílias de várias nacionalidades conseguem se mesclar com o povo local.
A maioria dos surfistas que se reúne nesta região é "regular" (nome dado ao surfista que coloca o pé esquerdo na frente da prancha) em busca das famosas direitas marroquinas - lá, a maioria das ondas quebra para a direita. E realmente vale a pena surfar ali. Foram altas ondas durante toda a estadia em Taghazout.
*Empresário