Uma das maravilhas de Roma é a capacidade que a cidade tem de fazer o visitante sentir como se houvesse um lugar que passou séculos acumulando camadas de beleza e história, esperando pacientemente pela sua chegada. Mesmo quando a cidade está cheia de turistas se arrastando por trás do guarda-chuva de guias turísticos, mesmo no momento de calor mais intenso do verão, existem locais onde se pode desfrutar das riquezas culturais de Roma com relativo conforto.
Para aqueles que se cansam de disputar espaço para arremessar uma moeda na Fontana di Trevi ou que, esperando do lado de fora do Coliseu, acabam se perguntando se as filas da Disney teriam sido mais curtas, Roma oferece muitas oportunidades de escapar das multidões. Entre esses refúgios, considero os museus da cidade tão fascinantes e gratificantes - se não espetaculares - quanto qualquer um dos pontos obrigatórios do itinerário de um viajante. Recentemente, em uma visita, mais uma vez fiquei encantada com três museus raramente visitados, extremamente diferentes entre si.
(Fotos: Nadia Shira/The New York Times) Entrada do museu Palazzo Doria Pamphilj
Museo di Palazzo Doria Pamphilj
Convenientemente localizado entre a Piazza Navona e a Piazza Venezia, o Museo di Palazzo Doria Pamphilj possibilita que deixemos para trás os pedestres que transbordam das calçadas es- treitas da Via del Corso e o tráfego movimentado - e adentremos um ambiente tranquilo, um palácio barroco cujas paredes são cobertas por arte.
Apesar de ter sido restaurado em 1996, o palácio dá a sensação de não ter mudado muito desde o século 18, quando a família Pamphilj se mudou para lá, se instalando e levando a coleção cuja curadoria o príncipe Camillo Pamphilj tinha começado um século antes. Entre as mais de 700 pinturas e esculturas expostas, talvez a mais famosa seja o retrato feito por Velázquez do papa Inocêncio X. Há telas de Caravaggio, Hans Memling, Ticiano, Rubens, Guercino, Correggio, Claude Lorrain, Tintoretto e Lorenzo Lotto.
Museo delle Anime dei Defunti
O Museo delle Anime dei Defunti é o menor, mais estranho e, na minha experiência, menos frequentado museu de Roma. Também conhecido como Museo delle Anime del Purgatorio, no Sacro Cuore, ele é considerado a única igreja neogótica da cidade.
O nome do museu pode ser traduzido livremente como o museu das almas no purgatório. A lenda conta que, em 1897, a igreja sofreu um incêndio em uma de suas capelas, após o qual o sacerdote viu o rosto de uma alma sofrendo - uma imagem que as chamas haviam queimado na parede atrás do altar. O sacerdote chegou naturalmente à conclusão de que o rosto pertencia a um dos mortos desesperados para entrar em contato com os vivos, e começou a fazer uma coleção de objetos que pudessem provar a sua teoria. (Nadia Shira/The New York Times) Sacro Cuore é considerada a única igreja neogótica da cidade
Na pequena coleção (uma exposição que ocupa uma parede de uma capela lateral), há provas documentais de casos em que os mortos usaram fogo para comunicar desejos - e convencer família e amigos para orar mais por eles e, assim, apressar a libertação do purgatório.
Também estão presentes no Museo delle Anime dei Defunti impressões digitais que foram queimadas em vários objetos corriqueiros: uma manga de roupa, uma camisa, um livro de orações, um travesseiro, uma touca de dormir e um avental. Há também uma fotocópia de uma nota de 10 liras deixada por um padre falecido como pagamento por missas extras que pudessem ser realizadas em benefício da sua alma. Textos nas paredes, traduzidos em várias línguas, explicam as circunstâncias particulares envolvidas em cada uma dessas aparições sobrenaturais.
Centrale Montemartini
Nosso taxista nunca tinha ouvido falar do Montemartini Centrale. Na verdade, não é tão difícil assim encontrá-lo - basta um breve trajeto de ônibus ou uma caminhada um pouco mais longa pela Via Ostiense a partir da estação de trem Ostiense, que fica na base do Monte Aventino e no limite do bairro de Testaccio.
Com a sua magnífica coleção de esculturas clássicas gregas e romanas, alojada em uma antiga estação de energia elétrica construída logo após a virada do século 20, o museu aproxima engenhosamente as estéticas de duas eras radicalmente separadas pelo tempo - e convence o visitante de que estes dois grupos muito distantes e diferentes de objetos foram feitos para serem mostrados conjuntamente e complementar um ao outro.
(Nadia Shira/The New York Times) O museu fica em uma usina termelétrica fundada em 1912 pela empresa Franco Tosi Co.
Em 1997, as esculturas gregas e romanas foram levadas dos Museus Capitolinos no centro de Roma para a usina para abrir mais espaço em museus mais antigos da cidade. Mais tarde, decidiu-se fazer da Centrale Montemartini uma instalação que abrigasse permanentemente essas aquisições dos Museus Capitolinos.