Em uma tarde tranquila, perto da Place de la Bastille, em Paris, Alberto Ribeiro, turista espanhol, parou em um café pitoresco com a família e perguntou ao garçom onde poderiam se sentar. "Olhe à sua volta!", disse ele, abruptamente. "Não está vendo quantas mesas vazias?" Quando o grupo tentou fazer os pedidos em um francês hesitante, o homem revirou os olhos. Mais tarde, quando os pratos chegaram e um deles estava errado, quase saiu briga para que fosse devolvido.
- Em geral os franceses são simpáticos e solícitos - diz Ribeiro, que, no fim, teve uma estadia agradável. O incidente, porém, "foi um lembrete de que eles também podem ser bem grosseiros".
Na Cidade Luz, a eterna questão parece ter voltado à baila: o estereótipo do francês ríspido é justificado ou são os turistas que não o compreendem? O questionamento saiu de um local improvável: a Secretaria de Turismo de Paris, que está criando uma ofensiva cheia de charme para melhorar a imagem dos franceses - principalmente a dos parisienses - e convencer os turistas de que serão bem tratados. O resultado é que as autoridades estão afogando cafés, hotéis, lojas e pontos de táxi com panfletos intitulados Você fala a língua do turista?, manual que ensina como receber bem os visitantes.
Por meio dele, ficamos sabendo que os britânicos gostam de ser chamados pelo primeiro nome, que os japoneses gostam de se sentir seguros e os espanhóis só querem um pouco de simpatia. Já os americanos não largam seus objetos pessoais e gostam de jantar às 18h - o que é impensável para o parisiense da gema.
- O objetivo é combater a má fama e melhorar a qualidade da recepção - explica François Navarro, diretor de comunicações do Comité Régional du Tourisme Paris Île-de-France.
Paul Kappe, dono da famosa Brasserie de l'Isle Saint-Louis, atrás da Catedral de Notre-Dame, deu de ombros quando viu o manual.
- Já começa dizendo que os franceses são desagradáveis. Além de não ser verdade, ainda não impede ninguém de ser desagradável. Muitos deles veem essa abordagem como incômodo durante o expediente - diz ele, de olho no trabalho dos garçons no terraço ensolarado, em meio às mesas pequenas.
A campanha ganha nova importância porque a França tenta se recuperar da crise econômica. Em agosto, a federação francesa de hotéis e restaurantes registrou queda de 10% no turismo comparado aos números de um ano atrás.
Entretanto, será que todo esse esforço é mesmo necessário? Afinal, inúmeros visitantes deixam a capital francesa encantados, sem nunca ter tido problemas com serviços ruins.
- Não me lembro de ter sido maltratado - diz o americano Paul Sanger, 74 anos, que garante ter visitado Paris mais de cem vezes ao longo de 50 anos. - O que muitos acham que é má educação é simplesmente falta de conhecimento, mas tem muito a ver com cultura.
Para muitos estrangeiros, nunca foi tão fácil explorar Paris: atualmente, um verdadeiro batalhão de garçons alterna o inglês com a língua nativa com facilidade e até orgulho, sem contar as 600 mil pessoas que trabalham no setor e consideram a educação como fator essencial.
Ainda assim, o esnobismo não é coisa do passado - e os próprios franceses reclamam da falta de delicadeza de alguns compatriotas. Aliás, não é a primeira vez que o governo procura encorajar uma melhora na imagem: em 1995, a campanha "Bonjour" pedia à população simpatia com os turistas.
O papel do viajante
É claro que muitos turistas também podem ser bem desagradáveis.
- Se a pessoa não tiver bom senso em termos culturais, não vai ser bem-recebida em lugar nenhum - desabafa Karen Fawcett, presidente do BonjourParis, um site que reúne informações culturais e turísticas.
Karen aconselha os visitantes a serem gentis, falarem baixo e não acharem que vão ser atendidos imediatamente.
- Um simples "bonjour" ou "s'il vous plaît" também fazem verdadeiros milagres - completa.
Opinião do leitor
O Viagem perguntou no Facebook quais foram as experiências dos leitores na França. Confira algumas das respostas:
Gisele Albrecht
''Eu moro na França e posso dizer! Os parisienses realmente são muito desagradáveis quando querem, ao contrário de TODO o resto da França! Também pudera, um morador ter de dividir seu pouco espaço com milhões de visitantes todos os anos, todos os dias, em todos os lugares é um pouco difícil, por mais educado que você seja. Agora acho que os parisienses têm uma certa razão".
Ana Maria Venturella Both
"Não posso reclamar de nada em Paris".
Leonardo Corrêa Schneider
''São um pouco pretensiosos com nós brasileiros mesmo. Em muitos lugares, tentei conversar em inglês e se negavam, dizendo só saber francês. Nem tentavam ajudar sabendo nome de rua ou algo do tipo".
Luci Monteiro
''Acho que de uns anos para cá, os parisienses e os franceses em geral mudaram bastante. Já falam inglês e estão mais atenciosos, principalmente no comércio e nos restaurantes, onde antigamente alguns demonstravam pouco interesse em nos atender".