Nós estávamos caminhando em meio ao nevoeiro e à garoa dos despenhadeiros áridos do monte Schilthorn, pico de 2.971 metros com vista para o Vale de Lauterbrunnen, na Suíça. Enquanto eu me arrastava pela trilha estreita, a névoa deu uma pausa para revelar uma longa queda em ambos os lados de um abismo juncado de rochas. Minhas pernas tremeram. Os pés escorregaram pelo chão encharcado. Estiquei a mão para agarrar o que parecia uma corda esticada, mas a senti perder a firmeza em meu punho trêmulo. Depois, a trilha se abriu, firmei-me e continuei a árdua escalada rumo ao topo.
Durante o inverno, o Vale de Lauterbrunnen se situa entre os destinos para esquiadores mais populares no Oberland Bernês, região suíça onde se fala alemão e engloba quatro vales de alta altitude e três dos picos mais elevados dos Alpes: Eiger, Monch e Jungfrau, todos com mais de 3.962 metros. Porém, eu vim aqui com um amigo genebrês em pleno verão para experimentar a região sob outra roupagem.
De maio a outubro, o Oberland Bernês se torna um dos circuitos de esqui mais desafiadores e bonitos da Europa Ocidental. Pistas nevadas se transformam em campinas salpicadas de flores silvestres. Os hotéis para esquiadores viram retiros para caminhantes, e o barulho de esquis e snowboards cede espaço para a torrente de dezenas de cascatas e o tilintar dos sinos das vacas.
Em 1779, Johann Wolfgang von Goethe caminhou pelo Lauterbrunnen, descrevendo seus esplendores no poema "Canção do Espírito sobre as Águas":
"Caindo da imponente parede rochosa
Corre a água brilhante,
Depois, espalha-se gentilmente em vagalhões nublados
Sobre a pedra lisa".
É possível passar dias, até mesmo semanas, seguindo os passos de Goethe pelo Lauterbrunnen e vales adjacentes, cruzando 193 quilômetros de trilhas bem marcadas e atravessando passagens montanhosas incrustadas de neve o ano inteiro. Ao longo do caminho, cabanas rústicas fornecem refeições e acomodação similares a um albergue, além da oportunidade de se unir a andarilhos do mundo inteiro.
Meu amigo Andrew Purvis e eu começamos nossa jornada de fim de semana em julho passado, viajando três horas de trem no sentido leste a partir de Genebra até chegar à cidade de Lauterbrunnen. Depois, embarcamos em uma ferrovia de bitola estreita e em um teleférico, subindo direto do fundo do vale até Murren. Situada num platô a 1.646 metros acima do nível do mar, este antigo vilarejo rural agora é um centro de esqui e caminhadas, com 450 moradores permanentes e dezenas de hotéis e pensões. Durante o verão, milhares de excursionistas também vêm observar as vistas surpreendentes do Monch, Jungfrau e Eiger.
Quando chegamos à cidade, no entanto, Murren estava deserta. Neblina gelada e chuva torrencial encharcavam o vilarejo há dois dias. Na manhã anterior, o teleférico entre Murren e Schilthorn quebrara nas proximidades do topo da montanha, forçando dezenas de turistas a uma descida traiçoeira a pé até a localidade. O clima, em conjunto com esse incidente, quase esvaziara Murren.
Depois de passar a noite no Hotel Jungfrau, local agradável ainda que sem maiores atrativos, despertamos para outra manhã encharcada. Um teleférico nos levou por algumas centenas de metros até o começo da trilha da face norte, rota popular desde os primeiros dias das caminhadas alpinas. O começo do século 19 viu o primeiro influxo de montanhistas estrangeiros aos Alpes suíços - a maioria deles formada por soldados britânicos - que escalaram vários altos picos alpinos, incluindo o Jungfrau, com a ajuda de guias locais. A invasão britânica abriu caminho para as cabanas, hotéis e um setor turístico alpino que hoje leva ao país bilhões de dólares todos os anos. As caminhadas em altas altitudes naqueles primeiros tempos podiam ser perigosas, como mostra uma placa ao longo do trajeto margeado por neve: "Em memória de Alice Charlotte, esposa do capitão M. Arbuthnot, XIV dos hussardos. Morta por um raio no Schilthorn, 21 de junho de 1864, aos 23 anos".
Além da placa, a trilha se dividia: uma rota descendo rumo a um lago glacial azul-claro, a outra se elevando abruptamente para o cume do Schilthorn. Nós optamos pela segunda. O caminho deserto subia além das árvores, atravessando a tundra, rampas de pedrinhas e rocha nua nas cores preta e cinza. A trilha se tornou mais íngreme, exigindo que nos agarrássemos para subir em vários locais. Depois de duas árduas horas, conseguimos ver o pico do Schilthorn assomando em meio à névoa, marcado pelo terminal do bondinho e um restaurante giratório, o Piz Gloria.
Os produtores do filme de James Bond de 1969, 007 A Serviço Secreto de Sua Majestade, usaram este restaurante, então em construção, como o covil no topo da montanha do arquivilão Ernst Stavro Blofeld, interpretado por Telly Savalas. (Foi a equipe de filmagem que batizou o estabelecimento, usando a palavra para "pico" num dialeto suíço que, na verdade, não é falado na região.)
As escarpas abaixo do cume serviram de cenário para uma das perseguições mais espetaculares na história do cinema, com o agente 007, interpretado por George Lazenby, vendedor de carros usados australiano que virou ator, escapando dos pistoleiros de Blofeld até o vale abaixo. O Piz Gloria ainda explora sua glória cinematográfica passada. Através das janelas da loja de presentes nós vimos placas comemorativas, canecas, roupas para esqui, camisetas e outras quinquilharias ligadas a Bond.
Descida trabalhosa, vista espetacular
Na primeira corrida de esqui anual Inferno, realizada em 1928, o vencedor levou uma hora e meia para descer o Schilthorn através de um cânion estreito até a cidade de Lauterbrunnen; esquiadores especialistas de agora percorrem o percurso em 30 minutos. Durante o verão, a descida é muito mais trabalhosa. Nós descemos trilhas em ziguezague até um cenário lunar de ardósia e pedregulhos soltos e, em determinado ponto, tomamos uma escada de metal vacilante presa à face de um penhasco de granito.
No meio da tarde, a cerração subiu, revelando o Vale de Lauterbrunnen por completo. Abaixo do maciço alpino existem colinas arredondadas cobertas de pasto verde-claro, cortadas por ribeirões de água glacial que brilhavam prateados ao sol. Em um rochedo abaixo de nós, um íbex (espécie de cabra selvagem) parecia uma estátua. Mais ao longe, enquanto pulávamos por um campo de rochedos, ratos-das-pedras peludos surgiam em meio às rochas.
Na manhã seguinte, observei uma vista espetacular na direção norte através do vale: os picos Eiger, Monch e Jungfrau, pontiagudos feito facas, emoldurados pelo céu claro. Geleiras se agarravam a seus flancos cinza e rajadas de neve eram expulsas de seus cumes. Comecei a conversar com um casal de Allston, bairro de Boston, ávidos por caminhadas que saíam para bater perna quase todo verão nas Montanhas Rochosas e nas Grand Tetons. Naquele verão, eles se decidiram por uma jornada de dez dias pelo Oberland, explorando os quatro vales e dormindo numa cabana diferente toda noite. Contudo, eles estavam desistindo da subida do Schilthorn.
- Estamos tentando encarar numa boa - disse Calvin, professor aposentado.
A trilha seguia rumo oeste, acompanhando pastagens em altitudes elevadas. Vacas leiteiras pastavam nos declives, com os sinos tocando sem parar. À nossa direita, subia um paredão montanhoso, coberto por uma floresta de coníferas e, acima, havia uma rocha nua recoberta de neve. Caminhantes nos saudavam na forma típica do alemão suíço: "Gruezi". A seguir, depois de outra descida que exigiu muito dos joelhos, vimos o platô se estendendo diante de nós. Com uma sensação de alívio - e um quê de pesar - chegamos ao trecho plano e começamos o último estirão até Murren.