A busca de Nessie, o monstrinho camarada do lago Ness, na Escócia, foi muito além de uma simples viagem a Inverness, a simpática cidadezinha perto do lago.
Surpreendente fato, no trem, transformou os "caçadores de monstro" em estrelas internacionais. Nada assim que ensejasse autógrafos no desembarque ou tapetes vermelhos estendidos. Nem mesmo a Rainha Elizabeth dignou-se a sair de sua casa de campo, lá por perto, onde passava férias, para dar títulos nobiliários aos artistas.
Melhor, pois seria por demais cansativo ter a privacidade invadida por paparazzi e cancelar o resto do roteiro para atender a entrevistas.
Vagão da Scotch Rail quase vazio deslizando pelas paisagens do interior escocês. Cliques-cliques frenéticos para não perder as belezas. E acontece o inesperado.
O fotógrafo oficial da viagem, sentado à minha frente, faz brusco movimento e mira a lente na entrada do vagão. Viro-me, rápida, e dou de cara com enorme filmadora dirigida ao másculo rosto brasileiro. Guerra de imagens digitais. Um filma, o outro responde com flashes. Abaixo a cabeça para não ser atingida por um clique perdido.
E eis que, por detrás da monstruosa filmadora, surge um "carão" com dois olhinhos puxados. Ao lado, raquítica garota, com os mesmos olhinhos, segura longa haste com microfone.
O que é isso? Somos famosos e não sabíamos? Algum sistema de informações seguiu dois brasileiros na Escócia?
Como um pé de vento, adentra o vagão mais um par de olhos rasgados, cantando Garota de Ipanema. E a filmadora ali... Loucura total! Atordoada, com uma voz que não vai além do "fá" e só fazia boca chiusa nos orfeões escolares (desafinada), saio a cantar (cantar?) também. E a filmadora ali...
O pé de vento senta na poltrona atrás do fotógrafo tupiniquim e o entrevista, em inglês. Sabe que somos brasileiros (como?), faz muitas perguntas sobre o Brasil, elogia Tom Jobim. E a filmadora ali...
Nesta altura, retoco a maquiagem, arrumo os cabelos, meto-me na entrevista, faço caras e bocas. Por quê? Por quê?
Ora, ora, a equipe dos "olhinhos" fazia documentário sobre a Escócia, para o Japão.
Mas não deram muita bola para mim, não. O foco era o corajoso que os enfrentou com uma máquina fotográfica.
Desembarcaram na região de montanhas para trilhas, antes de Inverness. Levaram rico acervo para encantar japoneses: imagens e vozes de dois gaudérios, que até agora estão atordoados com o minuto de fama. Sem o entender...
*Professora de Direito Internacional Privado, de Rio Grande
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