Da janela de um avião de 19 passageiros, a ilha de Niijima - que fica a 160 quilômetros a sudeste de Tóquio - se parecia com qualquer outro paraíso tropical. Os picos de suas montanhas vulcânicas envoltos em nuvens brancas, com vales de florestas verdejantes e praias cheias de uma areia tão branca e brilhante que toda a costa parecia ter sido pintada com giz.
Porém, quando as luzes do cinto de segurança se acenderam, as bandejas foram levantadas e o capitão direcionou o avião para a pista de pouso, a cena de cartão-postal desapareceu e uma paisagem claramente industrial surgiu. O que eu imaginava que seria apenas um vilarejo de casas com teto de palha na verdade era um velho porto de pesca. Fomos até Honson, a principal cidade de Niijima em uma van que passou por uma série de lojas fechadas e ruas vazias. Em vez de a Ilha da Fantasia, havíamos chegado a um cenário de Além da Imaginação.
Niijima é uma das nove ilhas habitadas do arquipélago de Izu, no Japão, e um local de muitas faces. Por volta do século 18, durante o período Edo, ela servia como prisão para exilados das ilhas principais. Nos anos 1960, o departamento de defesa do Japão se mudou para lá, lançando foguetes e mísseis a partir de sua costa. Já nas últimas décadas, a ilha se tornou um destino para habitantes aflitos da cidade grande e para universitários em busca de uma ilha ensolarada a 40 minutos de avião de Tóquio.
Mais recentemente, Niijima se tornou um dos principais destinos do surfe no Japão. Nos meses de verão a praia de Habushiura, uma linha de águas azuis na costa oeste da ilha, recebe inúmeras competições internacionais. Um punhado de jovens surfistas de Tóquio se mudou para Niijima e transforma a ilha em um cenário cada vez mais animado.
(Ko Sasaki/NYTNS) A ilha é o destino de muitos surfistas japoneses
Contudo, fui avisado de que não seria fácil andar por Niijima. Poucas pessoas falam inglês e, em alguns fins de semana, a ilha fica tão cheia de universitários que é impossível conseguir um quarto. Em outros momentos, o lugar parece uma cidade-fantasma, onde até mesmo o básico - comer, beber e dormir - pode ser um desafio. Em seu auge, nos anos 1980, havia mais de 240 lugares para ficar na ilha. Atualmente restam apenas 30.
Beleza escondida
Em uma tarde, fomos explorar a ilha que, de costa a costa, tem apenas 11,3 quilômetros de extensão e 2,4 de largura Niijima é pequena demais para valer a pena alugar um carro e grande demais para explorar a pé. Ou seja, o lugar perfeito para andar de bicicleta.
Pedalamos em direção a Habushiura, a praia de surfe mundialmente famosa, em Niijima. Com um estacionamento grande e degraus de concreto até a água, não era o paraíso tropical que esperávamos, mas tinha um charme pós-moderno.
Em seguida, subimos nas bicicletas e tomamos o rumo oeste. Chegamos à espetacular área de camping Habushi-ura Camp-jo, no sopé do Monte Miyatsuka, com áreas espaçosas, chuveiros quentes e uma cozinha coberta. Os locais para camping são gratuitos o ano todo e, no verão, servem de cenário para festas incríveis.
Em nosso último dia na ilha, pedalamos rumo ao sul para conhecer algumas atrações culturais de Niijima. A primeira parada foi em Yunohama Onsen, uma fonte de água quente pública localizada sob os arcos dóricos de uma falsa ruína grega. É um lugar incrível para nadar, especialmente à noite, quando as piscinas brilham com luzes multicoloridas.
(Ko Sasaki/NYTNS) Há uma fonte de água quente pública localizada sob os arcos dóricos de uma falsa ruína grega
Um pouco mais ao sul se encontra o Centro de Arte em Vidro de Niijima. Com seu teto de hangar e escada que leva a um observatório, a visita ao centro já vale pelo próprio prédio onde ele se encontra. O vidro verde característico é produzido a partir da pedra koga, encontrada apenas em dois lugares do mundo, Niijima e a Ilha Lipari, na Itália.
Na tarde seguinte, poucas horas antes de pegarmos a balsa para Tóquio, fomos até a praia para um último mergulho. Foi lá, apenas com máscaras e snorkels na praia de Mae-hama, que muitas das faces de Niijima ficaram à mostra: em uma ponta da praia havia uma parede de concreto imponente, e, na outra, uma praia paradisíaca de areia branca e água azul, onde, logo abaixo, havia peixes de todas as cores.
Nós percebemos que a beleza dessa ilha tropical depende da direção para onde estejamos olhando e que nem sempre é óbvia: ela fica escondida abaixo da superfície, a portas fechadas e coberta pelo breu noturno.