Um país de contrastes. Esse é o sutra que melhor traduz a Nicarágua. De um lado, a exuberância de sua natureza tocada por dois oceanos. De outro, a extrema pobreza do povo, que tem a cor de seu solo árido.
O nicaraguense é querido, trata bem o turista. Sabe que somos o meio mais próximo de levar alguma prosperidade. Uma gente sofrida, que ficou enterrada nas trincheiras e desmandos da família Somoza por mais de 40 anos - nessa que foi uma das piores dinastias políticas daquela região do planeta.
Do outro lado, na Nicarágua, é possível surfar ondas constantes, sempre penteadas com o vento terral, em lugares bordados por penhascos, pedras vulcânicas e praias lindíssimas. Tudo isso integrado a um pôr do sol vermelho carmim e acalantado por uma água salina incrivelmente agradável. Por esse conjunto de fatores, posso dizer que foi a melhor surf trip da minha vida.
Como em qualquer lugar do mundo em que exista desigualdade social, a atenção deve estar presente, mas confesso que me senti mais seguro por lá do que aqui, em nosso Pampa. Os bons restaurantes são raros e ficam dentro de resorts - mas ainda assim são baratos. É possível comer um prato com lagosta por um valor equivalente a R$ 30. Escolhemos alugar uma casa em um condomínio na Playa de Colorado, no sul da Nicarágua, no lado do Oceano Pacífico. Foi uma ótima escolha, por um preço módico: em torno de R$ 100 por dia em uma casa que acomodava bem seis pessoas.
Como curioso mochileiro surfista que sou, o que mais me encantou foi a quantidade de escolas. Posso afirmar que, pelo menos, a cada cinco quilômetros, mesmo nas regiões mais ermas, havia uma escola, com dezenas de meias brancas cobrindo as canelas finas dos estudantes nicaraguenses.
Retornei com a convicção de que Daniel Ortega, atual presidente, conseguirá melhorar a vida dos que lá vivem. Ou, melhor, já tem conseguido, pelo depoimento das pessoas que conversei. Penso que, na minha próxima visita, encontrarei um país com um contraste mais tênue, aproximando-se aos poucos da exuberância da natureza - mas sem nenhuma pretensão de um dia superá-la.
*Gustavo Schifino é diretor da Trópico e presidente da CDL Porto Alegre