Essa foi a minha primeira decolagem. Antes de pular, eu havia imaginado muita coisa, mas nada perto do que na realidade é uma decolagem e voo de parapente. Na largada dá muita adrenalina, porque você vai ao encontro do nada. Mas quando a asa sustenta, dá muita tranquilidade. Tenho deficiência nas pernas como consequência da poliomielite que tive quando criança, que me deixou sequelas de 100% de comprometimento na perna direita e 35% na esquerda e prejudicou meu equilíbrio. Mas isso não representou dificuldade alguma para o voo. As pessoas que me levaram (Joraci, conhecido como Coragem e sua equipe) têm muita experiência em decolagem de pessoas com defi- ciência e tornaram as coisas muito fáceis para mim. O Coragem é um piloto e instrutor experiente e muito capacitado. Ele sempre se assegura de que tudo esteja na maior segurança possível.
Normalmente, muitas pessoas com algum tipo de deficiência costumam se privar dessas aventuras. Algumas porque vivem na tutela da família. A própria família faz a superproteção, o que é compreensível, mas não é a maneira correta de tratar uma pessoa com deficiência. As pessoas com deficiência devem ter avaliadas as suas limitações, para terem clareza do que podem e o que realmente não conseguem fazer. Muitas dessas atividades, com o auxílio de alguém, podem ser realizadas perfeitamente, como é o caso de salto de parapente. Sozinho eu não conseguiria, porém com o auxílio das pessoas certas, lá me fui para os ares.
Só para ilustrar, em minhas competições vi casos que, mesmo sendo "do meio", fiquei arrepiado, tipo ver tetraplégicos nadando provas de distância em mar aberto, correndo maratona em cadeira de rodas, citei tetraplégicos, pois são pessoas com esse tipo de deficiência as que têm mais contraindicações.
No Brasil, esse tipo de atividade está começando a ser proporcionada para que pessoas com deficiência tenham mais opções de lazer. Dentro desse leque, há oportunidade de realizar esportes radicais. Nos parques da Disney é comum ver cadeirantes e outras pessoas com deficiência andando nas montanhas russas e brinquedos radicais.
A equipe do Coragem é muito cuidadosa, mas fui orientado a fazer uma respiração tranquila para facilitar a corrida da decolagem. Sou competidor de maratona e isso me proporciona situações que envolvem muita emoção e adrenalina. Para se ter ideia, já atingi 83,5km/h em uma cadeira de rodas em uma descida. Uma situação como essa não admite erros. Foi adrenalina que não acabava mais, demorei um tempo para dormir nesse dia, tal a descarga que recebi.
A dica para as pessoas que têm alguma deficiência é: você tem uma limitação física, logo pode fazer tudo o que as outras pessoas fazem, com um pouco mais de dificuldade. Sempre costumo dizer que "fazer o difícil demora um tempo, o impossível, um pouco mais".
SERVIÇO
- O quê: voos duplos, cursos e equipamentos na Escola de Voo Livre Serra Sports
- Onde: Ninho das Águias - Nova Petrópolis/RS
Mais informações: instrutor Joraci (Coragem), pelo1397124194 (54) 9107-2050 ou no site.