Nós a vimos ao mesmo tempo, mas foi a minha amiga Jessie que correu atrás da jovem siciliana que tínhamos visto tirar um arancino dourado de um saquinho branco. "Scusa!", ela gritou para atrair a atenção da moça antes de alcançá-la e perguntar sobre o bolinho com recheio cremoso de arroz ainda fumegante. Com um sorriso maroto, ela nos levou a uma viela escondida, a alguns passos da rua principal, e apontou para uma pizzaria simples. Foi ali que ela comprou os arancini com que venho sonhando desde então.
A 48 quilômetros ao norte de Catânia, na costa leste da Sicília, Taormina é uma cidadezinha litorânea linda, situada no topo de uma colina. Tem tudo o que um viajante em busca de uma paisagem mediterrânea perfeita poderia querer: cenário medieval, ruínas, mansões em estilo Belle Époque e uma vista espetacular do Mar Jônico e, nos dias bem claros, do cume do Monte Etna (a cerca de 32 quilômetros em linha reta). Há muito o lugar atrai grandes escritores, incluindo D.H. Lawrence e Goethe - que uma vez comparou Taormina ao paraíso - e gerações de celebridades glamourosas, de Elizabeth Taylor e Richard Burton a Cary Grant, Audrey Hepburn e Sophia Loren.
Hoje em dia, com suas lojas de grife e restaurantes estrelados, ela ainda atrai turistas em busca do glamour, embora tenha deixado de ser exclusiva há tempos. O que contribui muito para isso são os navios de cruzeiro mais populares, que despejam viajantes que lotam a baía.
Como acabei descobrindo, o verdadeiro charme da cidade não está nas belas paisagens nem nos monumentos históricos, nos hotéis luxuosos ou nos bares descolados. Por baixo de toda a sofisticação é que está o verdadeiro apelo de Taormina: esconderijos e lugares discretos que ainda não foram descobertos, como a tal da pizzaria humilde que vende aqueles arancini divinos.
Apesar de tudo isso, quando eu e Jessie chegamos, numa tarde ensolarada de outubro passado, eu ainda tinha minhas dúvidas sobre o lugar. Um transatlântico enorme estava ancorado na baía, e as ruas principais estavam intransitáveis. Acontece que toda aquela multidão é atraída por uma meia dúzia de lugares.
Nos jardins conhecidos como Villa Comunale, a alguns metros da sacada do Grand Hotel Timeo, descobri que tinha a mesma vista maravilhosa da baía, mas a compartilhei com famílias italianas a passeio e não com grupos de excursões internacionais - sem contar que, no jardim, cercada por rosas e buganvílias, eu tinha o privilégio de poder escolher onde sentar sem ter que pagar uma fortuna por um coquetel sem graça.
Restaurante Da Cristina e seus arancini (Giulio Piscitelli / NYTNS)
Moda e monastério
Conforme o sol se punha, o navio zarpou, deixando a cidade relativamente sossegada, ideal para que eu e Jessie a explorássemos. Para um aperitivo, escolhemos o Cloister Lounge Bar, do San Domenico Palace Hotel, estabelecimento elegante no que já foi um monastério do século 15. Embora longe de ser escondido, o claustro do hotel, à sombra das palmeiras e buganvílias, parecia um jardim secreto. Em 2012, esse santuário sublime foi palco para a coleção Alta Moda de Dolce & Gabbana e sua interpretação em haute couture do estilo siciliano - véus de viúva, renda preta e crinolinas barulhentas que pareciam recém saídas do set de O Leopardo - para um público que incluiu Monica Bellucci, Isabella Rossellini e Anna Wintour.
Oásis siciliano
Desde 2010, o Cloister Lounge Bar também funciona como um bar ao ar livre com música de piano, garçons bem vestidos e luz de velas - uma cena sofisticada que poderia perfeitamente pertencer a outra era, na qual um jovem Marcello Mastroianni estaria numa das mesas bebericando champanhe com amigos. Absorvendo a atmosfera, tomamos coquetéis e papeamos com o garçom, que gentilmente se ofereceu para nos levar ao jardim reservado apenas para os hóspedes nos fundos.
Depois de atravessar um corredor largo na ponta dos pés, descemos alguns degraus e deparamos com um verdadeiro oásis onde havia laranjeiras, roseiras e buganvílias que enfeitavam os arcos sobre nossas cabeças. Se não tivéssemos uma mesa reservada para o jantar, com certeza teríamos ficado ali a noite inteira.
Menos é mais
No dia seguinte, peguei um bondinho até a praia, onde, depois de uma breve caminhada e reconhecimento com a água na altura do joelho, descobri a reserva natural de Isola Bella. Na ilhota isolada, coberta por uma flora exótica, havia um sem-fim de trilhas com paisagens dignas de cartão-postal. A seguir, me acomodei na sacada da Villa SantAndrea - da mesma empresa que o renomado Grand Hotel Timeo, no alto da colina - para um aperitivo. O serviço de primeira e a vista da praia Mazzaro mais uma vez provaram que a melhor escolha era a menos ostensiva.
E o conceito foi reforçado na mesma noite, durante o jantar num restaurante com uma estrela do guia Michelin, cujas firulas e detalhes renderam mais decepção que magia. Na verdade, o único lugar que me fez ver estrelas, o lugar com que ainda sonho e pelo qual voltaria a Taormina, foi Da Cristina, a pizzaria simplesinha só para viagem - e seus arancini inesquecíveis.
Ali não há serviço de mesa, mas basta olhar atrás do balcão para ver as redondas grossas cobertas com alcachofra e berinjela, os mil-folhas recheados de queijo e as guloseimas com o equilíbrio perfeito entre arroz, queijo, carne e ervilhas com uma casquinha crocante que estala a cada mordida. Se eu tivesse que escolher um único prato para comer pelo resto da vida seriam esses bolinhos. E pensar que um dia cheguei a duvidar dessa cidade.