A Carrier programou uma viagem com clientes das Américas para assistir à última semana da Copa em Paris, em 1998. Embarque na segunda-feira, chegada em Paris na terça. Na quarta, veríamos uma semifinal (França x Croácia). No sábado, a disputa do 3° lugar e, no domingo, a grande final, tudo em Paris. Como diretor da empresa, eu acompanharia a delegação brasileira composta por 45 pessoas.
Quando chegou a programação, percebi que não veríamos o jogo Brasil e Holanda, em Marselha, na terça daquela semana. Fiquei matutando a ideia de antecipar em um dia a viagem e ir até Marselha, por conta e risco. Consultei a agência de Miami que organizava o pacote (para 250 clientes de toda a América) e soube que poderia antecipar, se houvesse lugar, mas não teria apoio em Paris ou Marselha.
Consultei clientes mais conhecidos mas apenas o Cézar, um paulista palmeirense, gostou da ideia e disse que me acompanharia. Saímos domingo e chegamos ao meio-dia de segunda a Paris. Pedi ao Cézar para cuidar da bagagem e fui até o balcão da Air France, falando meu francês dos tempos do Clássico. Queríamos pegar logo um voo para Marselha e retornar na quarta bem cedo, a fim de nos juntarmos à delegação em Paris. A moça da Air France disse que a ida para Marselha seria sem problemas, mas os voos de retorno na quarta estavam lotados, só havendo vaga na quinta. Resolvi consultar a TGV e ver se podíamos voltar de trem. Tudo lotado. Aí lembrei de Nice, próximo de Marselha, por onde havia transitado numa viagem anos antes. Havia trem a partir das 3h e comprei dois bilhetes Marselha-Nice.Voltei ao balcão da Air France e compramos dois bilhetes de retorno a partir de Nice, para quarta cedo. Tudo ok, embarcamos para Marselha onde chegamos por volta das 15h da segunda, sem hotel, sem ingresso. O jogo do Brasil seria terça à noite.
Paramos no balcão de auxílio a turistas e perguntei se havia hotel e carro para locar. A moça explicou que hotel só a 80 quilômetros de Marselha e carro não havia. Insisti com o hotel explicando que só queríamos uma noite.
Ela viu meu sobrenome nos documentos e, ao ver Ghidini, comentou que era casada com um italiano. Aí as coisas melhoraram. Pediu que esperássemos e saiu. Voltou em 10 minutos com uma reserva num hotel junto ao aeroporto.Compramos uma caixa de bombons e entregamos para a gentil francesa.
Hotel na mão, só faltavam os ingressos. Fomos de metrô ao estádio onde os argentinos eliminados na véspera estavam vendendo ingressos com ágio de 500%. Resolvemos ir até o centro, que estava uma festa. Um parceiro brasileiro também sem ingresso nos disse que até a noite o valor baixaria. Deu certo: acabamos comprando a um preço aceitável - US$ 120 para um ingresso que valia 40. Jogaço de futebol, com o resultado de 1 x 1 e ganhamos nos pênaltis.
Na madrugada, após festejos e jantar, embarcamos de trem para Nice. Pegamos o voo para Paris e chegamos ao hotel onde estava nossa delegação a tempo de sair para passeio e almoço e, à noite, assistir à semifinal França e Croácia (vitória da França por 2x1). Aí começou um outro drama, que acabou abalando muitas empresas de turismo brasileiras, algumas até quebraram. Quando fui receber os ingressos para o jogo de sábado, o agente de turismo avisou que havia problemas com os ingressos para a final FrançaxBrasil. A máfia francesa havia roubado parte deles para vender no câmbio negro - ninguém esperava a classificação da França. Cada um estaria valendo US$ 4 mil.
No sábado de manhã, fui chamado para a reunião dos representantes das delegações, e o agente confirmou que só havia conseguido 50 ingressos - nossa delegação era de 250 pessoas. No fim, todos concordaram em ceder os 45 ingressos à delegação brasileira, pois o Brasil estava na final, e os cinco restantes seriam sorteados. O agente de viagens ofereceu no jantar um presente consolação para os 200 clientes sem ingresso: uma viagem de sete dias pelo Caribe.
Após o desastrado França 3 x 0 Brasil, nos perguntamos se não teria sido melhor a viagem pelo Caribe. Mas a aventura valeu a pena.
*Consultor de empresas, 63 anos, de Porto Alegre