Uma pesquisa recente divulgada pela empresa de recrutamento Robert Half revelou que a concessão de período sabático a executivos ainda é algo fora da realidade no Brasil. Segundo o estudo, somente 8,4% das empresas entrevistadas disseram oferecer um tempo de licença a seus colaboradores. Por outro lado, cresce o interesse de profissionais das mais diversas áreas por deixar as atividades cotidianas de lado a fim de privilegiar a vida pessoal.
No entanto, quanto mais alto o cargo ocupado nas empresas mais difícil se torna o afastamento para um merecido descanso. Muitas empresas chegam a ignorar as leis trabalhistas e propor ao funcionário a compra dos 30 dias de férias na ilusão de achar que a produtividade do colaborador estará mantida. Esse é um terrível engano. ?Uma pausa nas atividades é algo obrigatório para manter a saúde física e mental desses executivos que vivem sob constante grau de pressão e irritabilidade no ambiente corporativo.
Por isso cabe ao profissional saber o momento certo de parar e descansar. Entretanto, quando isso acontece, mesmo que seja no período tradicional de férias os destinos escolhidos são quase sempre os mesmos: Nova York, Buenos Aires e grandes capitais da Europa. É claro que qualquer mudança de ambiente diminui o nível de estresse e cansaço, mas será que para um profissional que vive em São Paulo é válido passar 30 dias em cidades com o mesmo perfil??
Diante desse cenário, muitos executivos brasileiros têm utilizado seus períodos de férias para realizar roteiros que fogem completamente ao ambiente que eles vivem. Um exemplo clássico, e cada vez mais crescente, é a milenar viagem a Santiago de Compostela, cujo percurso tem início na pequena cidade de Saint Jean Pied Port, na França, até Santiago de Compostela, na Espanha.
No total, o trajeto tem cerca de 800 quilômetros e pode ser feito a pé ou bicicleta. Mas o mais importante da viagem está no sentido introspectivo que ela representa. Trata-se de um período sabático em que o executivo irá passar boa parte do percurso sozinho, repensando tudo que ocorreu em sua vida pessoal e profissional. É, na verdade, um exercício que não é feito regularmente por conta da correria do dia a dia a que todos somos submetidos.
Nas duas vezes em que realizei o Caminho de Santiago encontrei desde limpador de vidros a executivos de empresa. Um deles, vice-presidente de vendas de uma montadora nos Estados Unidos, me disse ao chegar em Santiago (depois de caminhar por cerca de 30 dias pelo norte da Espanha):
- Tenho certeza que agora tenho plenas condições de ser um pai melhor e, também, um líder mais justo com a minha equipe.
O jornalista Daniel Agrela irá lançar em abril de 2013 o livro "O Guia do Viajante do Caminho de Santiago pela Editora Évora.