Viajar para o Rio Grande do Norte na companhia de uma bióloga tem suas vantagens. É que algum conhecimento sobre como funciona a natureza é muito útil quando se visita um Estado que tem 238 mil hectares de unidades de conservação, o que corresponde a 4,5% de sua área total, conforme o Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do RN (Idema). A maior parte dessas unidades está em Natal.
A quem possa interessar passeios alternativos, com pouco impacto ambiental e alguma economia de dinheiro, compartilho alguns conhecimentos adquiridos durante dois dias percorrendo praias do litoral potiguar na companhia desta minha amiga. Cíntia Pinheiro está em Natal para estudar a restauração da caatinga em sua pesquisa de doutorado na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Recém chegada do Rio Grande do Sul, ela faz questão de dar lições sobre a biodiversidade natalense aos amigos gaúchos que chegam para se hospedar na Vila de Ponta Negra.
Começa por aí a viagem pelas beiradas. Natal tem mais de 22 mil leitos em hotéis de todos os portes, muitos deles enfileirados pela Via Costeira, a caminho de Ponta Negra - o bairro. Mas é na vila de mesmo nome, onde vivem os pescadores e sobrevivem algumas pousadas à beira-mar, que está o principal cartão-postal da cidade: o Morro do Careca. Aos pés do morro começa uma trilha pela formação do continente americano.
Entre as rochas, os peixes nadam em pscinas naturais
Na praia de Ponta Negra estão rochas sedimentares com mais de 150 milhões de anos, quando os geólogos suspeitam que a Pangea tenha se rompido, separando os continentes. Basta pegar o mapa do Brasil e localizar Ponta Negra para ver que é ali mesmo que o "vento faz a curva", como diz minha guia bióloga. E é justamente para fazer a curva junto com o vento que o domínio das ciências naturais é útil a qualquer turista.
Quando a maré está recuada, dá para ir até o outro lado do morro, andando entre as rochas que formam piscinas à beira-mar, servindo de aquário para peixes de pequeno porte. As frestas das rochas são tocas do caranguejo de cor esverdeada, quase camuflado, de nome popular bem sugestivo: chama-maré. A trilha costeia a montanha, que mescla árvores nativas como cajueiros e juremas com a vegetação característica do agreste, com plantas rasteiras e cactos que encontram espaço nas áreas menos irrigadas.
Entre o verde da mata, as areias brancas e o mar de verde-água legítimo, contrastam pedras negras que batizam a praia na "esquina" do Brasil. Quando o vento faz a curva, o turista já deve também fazer meia-volta e retornar, pois a praia seguinte, chamada Alagamar, é área de conservação protegida pelo Exército. Ali, desovam tartarugas de pente - uma das espécies marinhas ameaçadas de extinção no Brasil, segundo o Projeto Tamar/ICMBio. A reprodução da espécie ocorre entre novembro e abril.
Tudo isso você pode ver em uma caminhada de 30 minutos, descontando o tempo de contemplação e paradas para fotos. E sem tirar um centavo do bolso. A única preocupação é realmente com a maré, que sobe rápido e não deixa escapatória a turistas desavisados.
Para aproveitar o passeio, a primeira dica é fazer a trilha em época de lua cheia, quando a maré atinge o pico do recuo e sobra mais tempo para caminhar. A segunda dica, para quem não tem a sorte de levar um biólogo a tiracolo, é consultar a tábua de maré, no site da Marinha do Brasil. Alguns estabelecimentos locais têm a tabela fixada em ponto visível ao turista. E os pescadores que descansam suas jangadas pela orla também entendem do assunto. São eles os habitantes preferenciais da vila de casas simples e vielas de paralelepípedo em torno da igrejinha de São João Batista, onde está o ponto de ônibus das linhas que chegam à Ponta Negra, vindas do centro de Natal.
Parrachos na beira da praia
A menos de 20 quilômetros de Natal, fica localizada a praia de Búzios, outro vilarejo do litoral potiguar. Este, porém, tem casas praticamente inabitadas, muitas delas disponíveis para aluguel por temporada.
Em Búzios, os parrachos são a atração. Sua formação é similar à dos arrecifes de corais, só que com rochas. Quando a maré recua, formam-se pequenas piscinas naturais que acolhem peixes, moluscos e crustáceos diversos. É possível nadar na companhia de espécies como ouriço, moreia e pepino-do-mar. Com a ajuda de um snorkel ou um óculos de natação, dá para ver de perto a biodiversidade marinha natalense a poucos metros da orla, sem precisar contratar um barqueiro para avançar até alto-mar.
Mais uma vez, vale a dica de prestar atenção no horário da maré, para evitar contratempos no retorno. Importante: vá de tênis, para conseguir andar pelos parrachos mar adentro.
Na mesma praia, um pequeno manguezal, formação característica de regiões onde um estuário de água doce se encontra com o mar, formou-se pelo despejo de água da piscina de uma pousada no local. Apesar da intervenção artificial, a natureza tomou conta do espaço, formando mais um ecossistema para somar às belezas e à biodiversidade da praia.
Maior cajueiro do mundo tem 110 anos
Não dá para deixar de ver também o maior cajueiro do mundo, em Pirangi, 12 quilômetros distante de Natal. Com 110 anos, a árvore se estende por 8,5 mil metros quadrados - o equivalente a um campo de futebol - e não para de crescer. As ruas no entorno já estão tomadas por galhos que deixam biólogos na dúvida sobre podar a árvore ou deixar que ela continue se prolongando. Pesquisadores da UFRN já comprovaram, por meio de testes genéticos, que se trata de um único exemplar da espécie, mas não encontraram explicação para a extensão da árvore.
Em época de floração e frutificação - período que se estende de novembro a janeiro -, o cajueiro produz 800 mil cajus. São duas toneladas de fruta, que ficam ao alcance do visitante e não são comercializadas, podem ser saboreadas ali mesmo, debaixo do pé. Fora de época, suco de caju é oferecido ao turista na entrada do parque.
Nordeste
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