Pressão, taquicardia, frio intenso, ofegância, náusea, vômito... derrota! Fique tranquilo. A aura de terror e pânico atribuída a Quito nas partidas das Eliminatórias Sul-Americanas e da Taça Libertadores está restrita ao mundo do futebol. Em que pesem os 2.850m de altitude, a capital equatoriana é uma cidade agradabilíssima, de temperatura amena o ano inteiro e com passeios bastante convidativos.
Apesar de estar situada na Cordilheira dos Andes, Quito espalha-se por um imenso vale. A maior parte da cidade é plana e as ladeiras não são lá tão frequentes. Ciclovias cortam os principais bairros e parques, e dá para alugar uma bicicleta por US$ 5 ao dia. Além de barato ( US$ 0,25 o bilhete), o sistema de ônibus é semelhante ao de Curitiba ( PR), com três linhas inteligentes e integradas, embora quase sempre lotadas.
Para quem se arrisca a testar o fôlego, o bom mesmo é caminhar pela capital equatoriana. O esforço é facilmente compensado pelas paisagens, que condensam os parques, os monumentos, os prédios históricos e, mais ao fundo, as montanhas dos Andes -o cume do vulcão Rucu Pichincha, com imponentes 4.680m, é destaque permanente na paisagem.
Em cerca de meia hora de caminhada, é possível ir do burguês e boêmio bairro de Mariscal Sucre, onde se concentram hotéis e restaurantes, até a cidade velha, um dos primeiros sítios históricos declarados Patrimônio da Humanidade pela Unesco, em 1978. A rota é cheia de prédios coloniais bem conservados, hoje transformados em museus, universidades e órgãos públicos.
Dois parques, o El Ejido e o El Arbolito, ornamentam parte do trajeto até a área histórica. Ali pode-se comprar artesanatos indígenas e também máscaras que os equatorianos geralmente usam para decorar paredes. Os temas vão de Bart Simpson e Homem-Aranha até Hugo Chávez e Rafael Correa, o controvertido mandatário nacional. Ah! Melhor não se arriscar a desafiar os andinos nas várias peladas que ocupam os extensos jardins.
Um pouco mais à frente, no pequeno e bucólico Parque Alameda, inicia-se o desfile de monumentos históricos. Ali está o mirante mais antigo de Quito, o Churo de la Alameda, com quase 200 anos. Prédio em formato de caracol, oferece uma inspiradora vista do local, tido como a área mais romântica da cidade.
Também na Alameda está o prédio do antigo Observatório Nacional e diversas esculturas em homenagem à missão geodésica francesa que, no século 18, estabeleceu o marco no lugar onde seria o meio do planeta. Mas o mais interessante no local é o monumento em homenagem a Simon Bolívar. Mais do que uma simples estátua, a obra retrata o maior herói da América Latina empinando seu cavalo e comandando a tropa numa das batalhas contra os colonizadores espanhóis.
Da praça em frente ao monumento, é possível começar a admirar uma construção cuja magnitude consegue se destacar até mais que o Vulcão Pichincha. De longe se veem as torres principais -de quase 80m -da Basílica do Voto Nacional, um prédio de 150m de largura, no alto de um morro. Todo em estilo gótico, faz contraste imenso com as edificações coloniais barrocas.
Depois de uma subida na qual os tais efeitos da altitude começam a se fazer presentes, torna-se obrigatório o descanso na praça localizada em frente à Basílica. Nessa hora, observe os detalhes do templo e perceba que, mesmo com toda a influência europeia, a arquitetura faz referência a elementos locais. No lugar das gárgulas, iguanas e tartarugas das Ilhas Galápagos projetam-se das paredes e " protegem" as entradas do edifício, que levou três décadas até ficar pronto, em 1926.
O interior da Basílica pode-se ser visitado. Assim como outros recantos do prédio, inclusive as torres. Em clima de aventura, atravessa-se pontes de madeira e escadas apertadas, em espiral. Quem tem vertigem com altura não deve ir. Para subir até o interior da sala do relógio, o fôlego será severamente requisitado. Como prêmio, há a visão de todos os lados da parte histórica de Quito.