Imagine um festival de música onde a noite não termina em um saco de dormir, mas com uma roupa de cama de linho, onde as filas no bar são substituídas pelo serviço de um garçom e, não importa quem esteja tocando, você sempre acabará se mexendo. A boa notícia é que o cruzeiro do rock, onde bandas tocam por dias em um transatlântico, existe, e com artistas como Pulp e R. Kelly.
- Estamos tendo um interesse muito maior de outros países. Depois de anos passando dificuldades em acampamentos, as pessoas podem aproveitar a novidade de assistir a sua banda preferida e depois ir comer em um restaurante ou ir ao cassino, sabendo que poderão terminar a noite dormindo em uma cama confortável - destaca Martin Forssman, cuja versão sueca do Rock Cruise vem satisfazendo escandinavos desde 2004.
Como qualquer um que tenha sobrevivido a festivais de rock tradicionais como Glastonbury, Isle of Wight ou T in the Park poderiam lhe contar, a natureza imprevisível do clima britânico pode estragar a festa. É fácil entender porque cada vez mais fãs não estão mirando nada muito distante do mar.
- Alguém colocou detalhes do cruzeiro Monsters of Rock no Facebook. Eu não conhecia de verdade nenhuma das bandas, mas parecia tão divertido. Cerca de 20 de nós acabaram indo. Foram quatro dias e três noites navegando de Fort Lauderdale, na Flórida, até as Bahamas, e foi absolutamente brilhante - conta Rachel Streen, uma veterana de 32 anos com incontáveis festivais Glastonbury no currículo.
Rachel encontrou um buffet 24 horas, coquetéis e uma cabine onde, ao final de cada dia, ela podia dormir, tomar banho e acordar pronta para assistir a bandas como Cinderella e UFO. E se ela não curtisse isso, sempre havia a opção do mini-golf:
- Estou tão convertida. Houve uma hora em que eu estava escutando uma banda enquanto aproveitava uma jacuzzi bebendo um mojito. O navio navega durante a noite também, então, em vez de acordar em um campo enlameado, você estará em alguma praia nas Bahamas.
Diversão intensa
Enquanto a capacidade do cruzeiro de ser tanto um festival quanto férias ser evidente para os fãs de heavy metal desde que o primeiro cruzeiro Motley de Vince Neil zarpou, em 2008, fãs de indie agora estão entre os operadores mais experientes.
Em janeiro, produtores da Sixthman, em Atlanta - líderes de mercado -, organizaram um cruzeiro para 2 mil fãs de Weezer, que ia de Miami a Cozumel, no México. Com nomes como Dinosaur Jr, Sebadoh, Yuck and Wavves, a clientela nada tinha a ver com os fãs de metal de meia-idade que regularmente pulam ao som de Kiss e vão a festivais flutuantes de Kid Rock.
- O cruzeiro Weezer foi um perfeito exemplo de grandes empresas percebendo que podem entrar em um mercado que nunca foram capazes de alcançar antes. A atmosfera me lembrou o All Tomorrow' Parties (festival de férias em acampamento), onde pessoas compartilham da determinação de fazer acontecer e dar certo. A diferença é que um cruzeiro é muito mais divertido do que ficar em um acampamento de férias. Tem a leitura de livros, mas também tem noite de festa com tema de formatura dos anos 1980 e passeios de mergulho. Todo mundo só falava nesse cruzeiro - observa Wendy Fonarow, antropologista e autora do livro Empire Of Dirt: The Aesthetics and Rituals of British Indie Music.
Preços salgados
Para os fãs mais ardorosos, o cruzeiro oferece a chance de conhecer seus ídolos. Pode não ser barato - preços para a viagem Weezer começavam no equivalente a R$ 2.535 por pessoa em uma cabine dupla -, mas o cruzeiro vem com a possibilidade de observar peixes tropicais com o vocalista do Weezer, Rivers Cuomo, ou aproveitar um drink no bar com J Mascis, do Dinosaur Jr.
Em outubro, o cruzeiro inaugural de R. Kelly, intitulado Love Letter, zarpa de Miami em direção às Bahamas, enquanto o Shiprocked, liderado pela banda de metal Korn, estreia em novembro. Já o festival Coachella, da Califórnia, anunciou planos para o SS Coachella, que sairá da Flórida com destinos para Bahamas e Jamaica, em dezembro, com um elenco que inclui Pulp e Hot Chip.
No entanto, destinos assim tão exóticos não conseguem disfarçar o fato de que, fundamentalmente, essas viagens são festivais flutuantes, com tudo que isso implica.
- Como os bares estão abertos 24 horas por dia, todo mundo fica completamente acabado. Vou explicar dessa forma: vi muita troca de cabine acontecendo - diz Rachel.
Tradução: Paloma Poeta