Ao descer no Aeroporto Internacional Rodríguez Ballón, em Arequipa, o turista percebe que está caminhando em um lugar diferente. Encravada no Sul do Peru, a cidade fica a 2,3 mil metros de altitude e está cercada por três vulcões: Pichu-Pichu e Chachani, já extintos, e El Misti, com o cume coberto de neve, a mais de 5,8 mil metros de altitude. Uma imponente massa de rocha que ainda mete medo nos moradores. Sua última erupção data de 1985, e, desde então, esse gigante está adormecido.
A cerca de 17 quilômetros dali está o centro de Arequipa, conhecida como a Cidade Branca. Segundo historiadores, há duas explicações para esse nome. Uma seria relativa às paredes feitas em pedra silhar, de cor branca, dando uma aparência de mármore aos prédios históricos. A outra seria a proibição aos incas de residir dentro da Praça de Armas, reservada apenas aos espanhóis. Seja qual for a explicação, a pedra usada dá uma beleza extraordinária à arquitetura colonial, em estilo denominado, no Peru, como barroco andino.
Ruas confusas, mas também encantadoras
A Praça de Armas mostra todo esse esplendor. Cercada de prédios, tem muitos arcos e passeios que protegem nos dias de chuva. Além disso, a catedral reina absoluta na praça - uma construção do Século 17 que resistiu a incêndios, ocorridos há 200 anos, e a diversos terremotos, o último registrado em 2001, que afetou suas torres. A reconstrução foi concluída em agosto de 2002.
O trânsito é intenso e confuso. Quem anda pelas ruas históricas, no entorno da Praça de Armas, vê logo táxis de cor amarela tomando conta dos espaços. É preciso precaução ao atravessar as ruas, pois como Arequipa não conta com muitas sinaleiras, vale a máxima de quem chegar primeiro. Aí, o pedestre tem de tomar muito cuidado. A solução para passar de uma calçada a outra é ir ao lado do veículo que " venceu" a batalha.
Mas as ruas da cidade não são apenas confusão - também encantam. É comum o viajante encontrar uma profusão de idiomas, principalmente os de origem europeia. Mas o quéchua, a língua dos incas, é mais comum.
Quem chega a Arequipa deseja " ficar aqui para sempre". Foi isso que, segundo uma lenda inca, o chefe Wainac-Capac disse aos mistis ( senhores, em quéchua), quando chegou ao vale. O mesmo sentimento que teve Manuel Garcí de Carvajal. Ele se impressionou com a beleza da região e fundou Arequipa, em 1540. O centro histórico foi tombado pela Unesco como Patrimônio da Humanidade.
Voos esplêndidos
A atração máxima da região é o Vale de Colca, situado na província de Caylloma, no departamento de Arequipa. É onde se encontra uma das maiores aves do planeta, o condor. Para chegar ao mirante Cruz do Condor, porém, é preciso deixar Chivay pela manhã bem cedo, para percorrer uma estrada de chão batido. Ali encontramos, em várias oportunidades, adolescentes da etnia collagua, com suas roupas coloridas e falcões ou águias domesticadas, esperando para posar para fotos com os turistas, nos belvederes à beira dos precipícios - e, dessa forma, ganhar alguns soles. O Vale de Colca é considerado o segundo cânion mais profundo do planeta, perdendo apenas para o de Cotahuasi, também no departamento de Arequipa.
No mirante de Cruz del Condor, pode-se observar o voo majestoso dos condores. Algo indescritível. Com a plumagem preta e um colar de penas brancas ao redor do pescoço, eles fazem voos rasantes bem próximos aos viajantes, que ficam dependurados na beirada das rochas, disputando avidamente uma foto, congelando e eternizando aquele voo soberbo em milhares de pixels das câmeras digitais.
Fauna exótica
Para percorrer os 160 quilômetros de Arequipa até o Vale de Colca, o turista precisa estar em dia com o fôlego e o espírito de aventura. Após a adaptação do organismo à altitude de 2,3 mil metros, em Arequipa, o viajante depara, no percurso até Chivay, cidade-base para conhecer o cânion, com animais típicos da região, como as vicuñas e o guanaco. Eles vivem soltos pelo altiplano, cruzando a rodovia Interoceânica. Algo que força os motoristas a ter muito cuidado, pois, se forem flagrados atropelando uma vicuña, por exemplo, a pena pode ser de dois a 10 anos de prisão.
Outras espécies, como alpacas e lhamas, são vistas em rebanhos cuidados por mulheres, sempre com roupas típicas e carregando um rádio de pilha como forma de quebrar o silêncio imposto pelas montanhas.
O caminho é cercado por imensos cactos e montanhas, alguns vulcões já extintos. Algo que lembra uma paisagem lunar. A visão é de tirar o fôlego, com a beleza dos picos cobertos de neve e o céu carregado de azul.
Piscina do vulcão
Se a altitude incomoda, a recompensa vem quando se chega a Chivay, localidade situada a 3.630 metros de altitude. Um local pequeno e acolhedor, como se o tempo tivesse parado. Ao lado da Praça de Armas - todas as cidades peruanas têm uma -, encontra-se um pequeno mercado, daqueles que parecem estar intocados ao longos dos anos. O ambiente está repleto de cores, carnes, frutas e aromas. Para quem ainda sente o cansaço da viagem, bem próximo a um lugar que ajudará a recuperar-se da fadiga: os banhos mornos na terma La Calera, com cinco piscinas temperadas pelas águas que vêm do vulcão Cotallumi. É fantástico banhar-se nessas águas ricas em enxofre e ferro, rodeadas de montanhas.
Muita comida e fetos de lhama
Percorrer e perder-se pelas ruas históricas até encontrar o Mercado São Camilo é deparar com uma explosão de cores, proporcionadas pelas bancas abarrotadas de frutas que exalam diversos aromas. Há uma mistura dos cheiros de carnes e queijos, entre outros. Uma das curiosidades são os fetos de lhama pendurados em algumas bancas e vendidos para serem usados em rituais de feitiçaria.
O teto é uma atração à parte. A estrutura com arcos de ferro, sustentando toda a estrutura, dá um efeito especial à construção. Ele foi projetado por Gustave Eiffel, o mesmo responsável pela Torre Eiffel, em Paris.