No outro extremo do Brasil, a 3 mil quilômetros do Rio Grande do Sul, uma praia de água doce surpreende turistas nacionais e estrangeiros. Banhada pelas águas do imenso Rio Tapajós, a praia de Alter do Chão é a maior atração de Santarém (PA) e justifica a viagem Brasil acima e nas margens da floresta amazônica.
Alter do Chão é uma praia com duas realidades distintas, conforme a época do ano. Na alta temporada, entre julho e janeiro, a areia se sobrepõe em um longo trecho do Tapajós. No restante do ano, o rio sobe lentamente e vai tomando conta da areia e deixando quiosques apenas com telhados de sapê à vista e alguns poucos intactos. Poucas cabanas sobrevivem na cheia, onde se chega apenas de barco ou em pequenas catracas (canoas de madeira, impulsionadas a remo).
O curto trajeto pelo rio até chegar à praia, nesta época, dá um charme extra ao passeio. Foi na baixa temporada que conheci Alter do Chão, em visita a amigos gaúchos que se mudaram para a cidade.
Distante cerca de 30 quilômetros do centro de Santarém, a praia recebe, de tempos em tempos, levas de estrangeiros que passam pela cidade em cruzeiros internacionais. Na alta do Tapajós, a água se exibe límpida e em tom amarelo dourado - reproduzindo o fundo de areia e folhas secas.
Entre julho e janeiro, a água é cristalina. É neste período que Alter é chamada de "Caribe brasileiro". O trecho de praia que sobrevive à cheia do rio é como um braço que sai da floresta e avança sobre as águas. Torna-se quase uma ilha, com água mais fresca de um lado e mais quente do outro, devido ao pouco movimento do rio em um dos lados.
Com o Tapajós quase oito metros acima do normal, cruzar de um lado a outro custa apenas uma dúzia de passos. Um pequeno trecho de praia e um grande local para conhecer.
A casa ecológica
Há muitas pousadas e alguns hotéis em Alter do Chão, mas a hospedagem oferecida por um deles, em especial, chama a atenção de turistas vindos de todos os lados. É a casa ecológica do Hotel Beloalter.
Com três andares e recoberta de sapê, fica no beira do Tapajós e da floresta amazônica. E o mais curioso: um dos quartos - o do segundo andar - é entrecortado pelo tronco de uma árvore, que cruza a peça ao lado da cama e sai do outro lado. É quase como dormir na casa de árvores do Tarzan, mas com o conforto da modernidade: ar condicionado, frigobar, banho quente e televisão.
Passeios pela floresta alagada
Um das aventuras que só se pode fazer com a alta do Tapajós é percorrer trechos da floresta amazônica de barco e navegar por entre as copas das árvores. Algumas delas ficam apenas com essa parte visível, criando imagens surrealistas, que parecem extraídas de um sonho. A paisagem na floresta alagada é entrecortada por raios de sol que conseguem atravessar a densa mata e com imagens duplicadas no reflexo das águas. No trajeto, macacos e bichos preguiças em seu habitat natural.
O passeio, partindo do centrinho de Alter do Chão, dura cerca de quatro horas - entre ida e volta - Tapajós a dentro.
No centro de Santarém
A parte urbana da cidade não rivaliza em nada com a beleza de Alter do Chão e de seu centrinho, mas tem lá seus encantos tropicais. Na parte da cidade que se debruça nas margem do Tapajós, centenas de embarcações ancoram com diferentes objetivos: embarque e desembarque de passageiros, descanso dos pescadores ou venda de peixe.
A cidade vive de forma hidroviária. É pelo rios que coisas e pessoas vão e vem. Vá até a rodoviária e a encontrará às moscas. Já a beira do rio é sempre cheia de vida. Um passeio ao final da tarde, na feira do peixe, dará a dimensão da importância do local para os mocorongos (como são chamados os nascidos em Santarém).
A feira no mercado público local, também nas margens do rio, encanta turistas com a sua simplicidade tropical. Dezenas de bancas vendem frutas das mais exóticas (para quem vem de fora, claro), peixes de vários tipos e tamanhos, garrafas repletas de xaropes curativos, temperos e poções. E para ver o encontro das águas dos rios Tapajós e Amazonas, que não se misturam rapidamente, o mirante no centro da cidade é o melhor local.
Comida mocoronga
Para os aficionados, como eu, por provar as comidas locais, a dica é seguir direito para o mirante no centro de Santarém. À noite, um dos quiosques locais serve um agradável menu de degustação. Em pequenas cumbucas, o visitante pode provar cinco pratos em uma única refeição. E repetir, posteriormente, aqueles que mais gostou.
No kit vem arroz paraense, com camarão, jambu e tucupi (tempero extraído da raiz da mandioca), maniçoba (espécie de feijoada feita com folha da mandioca substituindo o feijão), vatapá, camarão com tucupi (doce ou azedo) e farinha de piracuí (de peixe) com banana.
Na cidade, também não deixe de provar os sorvetes e milk shakes (de dezenas de sabores exóticos), o suco de tarubá (feita a partir da mandioca amassada e que fermenta durante alguns dias envolta em folha de banana) e as muitas (muitas mesmo) frutas diferentes. Entre as mais curiosas, a pupunha, que é fervida antes de ser degustada (para mim, um sabor que mistura batata doce, queijo ralado e butiá). Os nativos apreciam a pupunha com café preto.
Ah, e uma dica final: se for fazer um lanche, não se engane. Cachorro-quente e hot dog são coisas muito diferentes. Hot dog é o tradicional americano, com salsicha. O cachorro-quente vem com, entre outras coisas, carne moída e repolho. E não estranhe a banana frita que ele incluem dentro do xis. Até que fica bom.