Uma das coisas boas de se divorciar é que começamos a ver menos os nossos filhos. Eu não sabia que isso também poderia acontecer em passeios de mãe e filha em extravagantes resorts cinco estrelas.
Quando Emma, logo após começar a faculdade, pediu que eu a levasse a algum lugar quente durante o recesso de primavera, aproveitei a oportunidade para passarmos algum tempo juntas. Queríamos curtir Miami sem a devassidão característica do recesso de primavera e desfrutar de South Beach sem o clima fashionista.
Um amigo indicou o hotel e resort Fisher Island, em uma pequena ilha altamente privativa, a cerca de três quilômetros de South Beach, o tipo de lugar onde oligarcas e Oprah Winfrey compram e vendem condomínios de 15 milhões de dólares.
Fiquei assustada com os preços, mas seduzida pelas descrições do hotel de 45 quartos - uma mansão italiana à beira-mar inaugurada em 1926 por um descendente de Cornelius Vanderbilt e que tem pavões passeando pela propriedade.
Imaginei caminhadas na praia ao nascer do sol, tratamentos divertidos no spa com minha filha e refeições íntimas à luz de velas, durante as quais a Emma se abriria e me diria finalmente como era a faculdade, além de "legal".
Eu não previ que alguém que tem 18 anos e estava exausta após uma série de provas poderia dormir até depois de meio-dia e, em seguida, ficar acordada a noite toda (eu acordo por volta de 6 da manhã e durmo com facilidade antes das 10 da noite). Tampouco sabia que os princípios desta ilha privada específica implicam considerar os hóspedes que ficam aqui por pouco tempo como pertencentes a um nível mais baixo de seu sistema de classes.
Compartilhando esse idílio sossegado e luxuoso sob as palmeiras com minha filha, senti quase como se Emma nunca tivesse saído do campus de sua universidade, em Ohio. No final, aquilo se transformou em uma relação de amor e ódio, que refletiu estranhamente a minha relação de amor e ódio com o resort.
Sem onde tomar uma taça de vinho
É uma longa história, então vou começar pelo bar. O lugar não tinha bar. O Fisher Island dispõe de 18 quadras de tênis, duas delas de grama, um campo de golfe de nove buracos projetado por P.B. Dye, três piscinas, duas marinas de barcos de águas profundas, seis restaurantes, uma sofisticada loja de alimentos e vinhos, cardápio de almofadas, um viveiro de pássaros tropicais e até mesmo um observatório em miniatura.
Mas quando estive lá, no meio de uma semana de março, não encontrei um lugar onde sentar e tomar um taça de vinho. Nem preciso dizer que qualquer mãe que viaja com a filha adolescente vai precisar de uma bebida mais cedo ou mais tarde. Mesmo que uma mãe razoavelmente boa, pelo menos, tentaria não beber demais na frente de uma filha com idade para cursar faculdade, eu precisava de um bar onde pudesse desfrutar rápida e discretamente de um coquetel relaxante.
Tentei primeiro o clube de praia, mas os fortes ventos do mar golpeavam o bar ao ar livre e mantinham longe os hóspedes do hotel, além do próprio barman. Os dois restaurantes anexos ao hotel não tinham áreas separadas com bares, e algo anunciado como o Sunset Bar (bar do pôr do sol), perto da praia e de frente para a linha do horizonte de Miami, ficou fechado durante todo o tempo em que estivemos lá.
Pensei em dirigir o nosso carro de golfe para fora dos limites da mansão até o Golf Grill, com vista para o campo de nove buracos, mas se eu bebesse e dirigisse, daria um mau exemplo como mãe.
A entrada para a mansão Vanderbilt dá para um pátio encantador ao ar livre, pavimentado com pedras, repleto de grandes sofás e poltronas brancos que ficam debaixo de guarda-sóis, contornando uma figueira gigante, importada da Índia pela família Vanderbilt.
O lugar é lindo. Ao anoitecer, parece o lugar perfeito para tomar uma bebida. Sentei lá muitas vezes, durante longos períodos, e nenhum garçom apareceu ou perguntou se eu queria alguma coisa.
Não vi outros convidados sentados ali, muito menos esperando bebidas, e fui forçada a concluir que aquilo era apenas um pátio - um pátio que parecia uma sala de espera do terminal de ônibus mais belo e solitário do mundo. O Fisher Island é adorável e também um pouco bobo - uma comunidade condominial exuberante, meticulosamente preparada para se assemelhar a uma espécie de parque da Disney do Mediterrâneo.
Quartos esplêndidos
O quarto tem de fato o tamanho de um chalé. Recentemente reformado, o local era esplêndido, sofisticado e enorme, com uma área para nos vestirmos e uma banheira elegante que se abre para um pequeno pátio privativo murado, com cadeiras e uma jacuzzi.
A jacuzzi teria sido uma surpresa, mas era tão absurdamente quente que Emma quase perdeu um dedo do pé. Um engenheiro veio e remanejou a água que vinha de uma mangueira de jardim para dentro dela; na manhã seguinte, a jacuzzi estava fria como uma pedra. Tentamos várias vezes consertá-la, sem sucesso.
Um dos problemas de se hospedar em um resort com preços exorbitantes é que as diárias estabelecem um padrão tão alto que o menor sinal de negligência parece uma traição. Não havia mais mesas para jantar no City View, um pátio coberto com plástico para bloquear o vento, onde queríamos comer.
O menor, mais extravagante e badalado restaurante Garwood Lounge parecia demasiado caro e abafado para uma primeira noite, de modo que fomos relegadas para o La Trattoria, uma casa de pizzas e massas perto do campo de golfe que mais parecia fazer parte de um shopping de Scottsdale, Arizona.
A garçonete era amigável, mas a comida, surpreendentemente, estava medíocre - um salmão cozido demais para mim e uma pizza mal assada para a Emma. Ela aproveitou o máximo possível da refeição, concluindo, enquanto comia uma fatia com uma mão só: "Eu adoro pizza. É que nem um sanduíche, só que não dá trabalho para comer".
Ritmos conflitantes
Decidimos então ir até Miami, recuperar nossa autoestima e paladar com sanduíches cubanos e croquetas no restaurante Versailles, em Little Havana. Mas bastaram alguns minutos em South Beach - e uma olhada na Dash, loja das irmãs Kardashian, onde turistas queimados de sol tiravam fotos um do outro - para que percebêssemos que não estávamos tão mal no Fisher Island. Lá, pelo menos, não estávamos cercadas por universitários bêbados e seminus que aceleravam segways pela Ocean Drive.
"Eu sei que pareço ter 90 anos por dizer isso", sussurrou Emma, "mas eu só quero que eles se vistam e se matriculem em um curso técnico".
Na nossa última manhã, porém, um milagre aconteceu. Emma, desperta, de malas prontas e vestida, aproximou-se de minha mesa. "Olha, é para você", disse ela, com ternura. Era uma margarita que ela tinha pedido pelo serviço de quarto. A bebida estava horrível. Mas foi ótimo vê-la novamente.