Assim como eu, não é preciso ser católico fervoroso, ter lido a Bíblia inteira ou conhecer de cor e salteado todos os passos da Santa Família pela Terra para aproveitar e se emocionar durante uma viagem de peregrinação religiosa. Falo isso com conhecimento de causa.
Fiz parte de uma turma de 35 peregrinos que, durante 14 dias, visitaram os locais turísticos e sagrados de três países, Egito, Jordânia e Israel, na companhia de um frei e um padre - companhia, aliás, providencial. E a quem devemos gratidão eterna pela preciosidade dos ensinamentos compartilhados.
A jornada começou no Cairo e, deste ponto de partida em diante, o ônibus tornou- se nosso meio de transporte. Foi com ele que, após visitas às Pirâmides de Gizé, ao Museu Egípcio, à Igreja de São Sérgio (onde a Santa Família se refugiou na fuga para o Egito) e ao bazar árabe Khan El Kalili, deixamos a capital egípcia e viajamos pelo deserto do Sinai.
Percorremos o caminho do Êxodo, atravessando o Canal de Suez, até chegarmos ao Mosteiro de Santa Catarina, um alojamento que fica aos pés do Monte Sinai - local onde Moisés, segundo a Bíblia, recebeu do Senhor as Tábuas da Lei com os 10 Mandamentos.
Faz parte do programa a subida à montanha sagrada durante a madrugada. Mas não são todos os peregrinos que encaram o desafio de percorrer seis quilômetros de subida e outros seis quilômetros de descida em um trajeto sinuoso que leva cerca de oito horas, com partida à meia- noite e retorno às 8h, apenas na companhia de um guia beduíno.
Na Jordânia, segundo país da nossa peregrinação, o primeiro destino foi Petra, eleita uma das Sete Maravilhas do Mundo. Um lugar mágico. A antiga Petra se apresenta como uma fenda dentro de um desfiladeiro, cujas paredes de pedra cor de rosa chegam a 200 metros de altura.
O caminho de um quilômetro e meio pelo desfiladeiro é estreito. A largura, em alguns pontos, não excede quatro metros. As paredes de pedra projetam uma sombra que escurece o dia.
Volta-se um ser humano melhor
No final do trajeto de quatro quilômetros, chega-se a um monumento de 40 metros de altura, todo esculpido em rocha nua: o magnífico Tesouro - batizado assim pelos árabes, criadores da lenda segundo a qual um faraó teria escondido ali as riquezas do Egito.
A viagem da Jordânia a Israel inclui uma parada no Monte Nebo, local de grande simbologia. Foi no Monte Nebo que Moisés avistou a Terra Prometida - e um mirante construído no mesmo local permite apreciar este horizonte secular. Israel concentra a maioria dos destinos sagrados da viagem, e a visita ao país começou por Nazaré e pela Basílica da Anunciação, a maior igreja da cidade, uma construção moderna feita sobre uma gruta legendária onde, segundo a Bíblia, Maria teria recebido do Arcanjo Gabriel o anúncio de que conceberia Jesus, filho de Deus.
Nas águas do Rio Jordão, fizemos a renovação do sacramento do Batismo; nas águas do Mar Morto, os peregrinos experimentaram a sensação de tomar banho em um mar 10 vezes mais salgado do que os oceanos; durante o passeio de barco sobre as águas do Mar da Galileia, aprendemos que ali era um dos refúgios preferidos de Jesus. Os 14 dias de jornada terminaram entre Belém e Jerusalém.
No lado palestino, conhecemos a Gruta da Natividade, local de nascimento do menino Jesus; no lado israelense, percorremos a Via Sacra e terminamos o dia no Muro das Lamentações. Nunca, nem nos meus maiores devaneios, havia cogitado a hipótese de fazer uma viagem desse estilo.
Como jornalista convidada, não pude recusar a oportunidade de conhecer essa região exótica do mundo. Foi a experiência mais rica de toda a minha existência. Mexe com a alma da gente. Volta- se diferente desta jornada. Volta- se um ser humano melhor, muito melhor.
* A jornalista viajou a convite da Unitur Agência de Viagens e Turismo
✔ A experiência de Mariana está contada no livro Peregrina de Araque, lançado pela editora Dublinense
Editora do caderno Donna, Mariana fez uma peregrinação por Egito, Jordânia e Israel