Quem gosta do clima dos cafés portenhos, de medialunas, de uma boa parrilla, de vinho bom a preço razoável, de apreciar edifícios imponentes e admirar, com certa inveja, a amigável relação entre cidade e rio tem uma boa opção a Buenos Aires do outro lado da fronteira.
Cantada com regularidade por um de seus famosos cidadãos, Fito Páez, Rosário fica a uma hora e 15 minutos de voo direto de Porto Alegre e oferece a estranha sensação de estar em casa e no Exterior - tem a um só tempo aspectos de uma mini Buenos Aires e de uma Porto Alegre melhorada. Só o acanhado aeroporto local destoa.
Às margens do Rio Paraná, Rosário lembra a capital gaúcha na orla, especialmente no seu Museu de Arte Contemporânea (Macro), instalado num antigo moinho. Sua localização e função evocam a usina na curva do Gasômetro.
No centro e nas quadras chamadas de Paseo del Siglo, é a atmosfera bonairense que se impõe na arquitetura rebuscada e nos palacetes herdados de épocas mais prósperas. Até o calçadão na esquina das calles Cordoba e San Martin remete ao encontro entre Florida e Lavalle.
E para quem vê em San Telmo sua Buenos Aires querida, o bairro Pichincha - antigo bairro vermelho de Rosário - também oferece antiguidades e velharias, mais boemia cultivada.
Para os argentinos, Rosário fica no Litoral. É no verão que a cidade ferve, congestionando o sempre movimentado Paraná com barcos de todos os tipos se desviando como podem de gigantescos graneleiros que usam o canal de navegação. Enquanto durar o frio, o ambiente é de baixa estação, quando hotéis confortáveis oferecem preços convidativos.
Cafés tradicionais ou renovados como El Cairo - onde batia ponto o desenhista Roberto Fontanarrosa, criador da dupla Inodoro Pereyra e seu inseparável Mendieta - ajudam a aquecer os passeios pelo centro.
Cidade universitária e com forte produção cultural, Rosário tem uma animada vida noturna. Pegadito al Paraná acrescenta à oferta regular da parrillada, com bifes de chorizo e asados de tiras, uma boa variedade de peixes, do familiar dourado a espécies mais exóticas.
Oferecido com frequência nos cardápios, especialmente de lanches, um item pode intrigar: Carlitos, que é apenas ummistoquente com molho de tomate, típico da cidade. Com restaurantes distribuídos tanto à beira do rio quanto na avenida da gastronomia, a Pelegrini, há tantas opções que fica difícil provar todas. Mas o esforço vale a pena.
Entre leprosos e canalhas
Apesar de toda a familiaridade que dão os ares ao mesmo tempo portenhos e porto- alegrenses a Rosário, é bom estar preparado para surpresas. Pode- se ouvir frases inesperadas como" há um leproso entre nós".
Em mais um ponto de identificação com a capital gaúcha, os rosarinos se dividem ao meio entre torcedores fanáticos do Rosario Central e do Newell's Old Boys. Diz a lenda que, décadas atrás, um jogo em benefício de um leprosário local foi sacudido por incidentes. Aí, os torcedores do Rosário viraram "canallas", e os do Newell's,"leprosos".
Assim, Arroyito é o "barrio canalla", por abrigar o estádio do Rosário na beira do rio, enquanto os" leprosos" têm santuário em pleno Parque Independência, o principal da cidade - os dois cantados por Fito Páez em Caminando por Rosario. Embora seja o mais pop, Fito está longe de ser o único rosarino famoso.
Mesmo que por acaso, foi na cidade que nasceu Ernesto Guevara de la Serna - o Che, celebrado na cidade por um monumento e por uma placa que marca seu local de nascimento, um edifício com direito a placa informativa, entre as ruas Urquiza e Entre Ríos.
Assegura-se, na cidade, que o herói da revolução cubana foi um "canalla". Para compensar, o jogador de futebol apontado duas vezes como melhor do mundo, Lionel Messi, seria leproso de carteirinha.
O que conferir
- O serviço de ônibus turístico Tranvía del Bicentenário, que parte em frente ao Monumento à Bandeira.
- A feira de bugigangas e antiguidades no bairro Pichincha, chamada La Retro.
- O Monumento à Bandeira, conjunto imponente que, do alto, oferece uma boa vista da cidade. Assinala a primeira aparição da bandeira argentina, nas barrancas do Paraná, em 1812.
- Costa Alta, a área de beirario mais distante do centro, com restaurantes e paradores - com destaque para Escauriza, onde come a família rosarina -, além de uma bela vista da ponte que liga Rosário a Victoria.
- O Parque Independência, espécie de Central Park da cidade - guardadas as proporções, é claro.
- Avenida Pelegrini, espécie de corredor gastronômico, com restaurantes que vão desde a tradicional parrilla La Estancia - reserve para evitar longa espera - até o original restaurante de peixes Puerto Gaboto.