Que tal fazer compras de importados nos freeshops de Artigas, percorrer mais 18 quilômetros dentro da vizinha brasileira Quaraí e fazer um passeio repleto de aventuras? Cenário da efervescência literária de um dos mais famosos escritores gaúchos, o Cerro do Jarau, em Quaraí, apresenta a melhor combinação da fronteira entre lenda, adrenalina e misticismo.
Um passeio a cavalo ou a pé pelos verdes campos que inspiraram Simões Lopes Neto a contar a história da Salamanca do Jarau pode ser uma ótima opção turística para quem quer aproveitar as entranhas do Rio Grande do Sul. Situado em terras particulares, para explorar o Cerro do Jarau (que na verdade é composto por 11 cerros dispostos em semicírculo), é necessária autorização.
São dois os passeios mais comuns feitos por lá: um guiado pelo especialista em educação ambiental Ricardo Murillo, que leva grupos de alunos ou de pessoas que queiram caminhar, cavalgar ou praticar esportes radicais pelos morros.
A outra opção começa dentro da Fazenda Santa Rita do Jarau, que recebe grupos para passar o dia, com café da manhã e almoço típicos da fronteira, andar a cavalo e, se for do agrado do visitante, realizar uma das trilhas montadas por Murillo.
- É um trabalho associado. O pessoal vem na fazenda e, se quiser entrar mesmo no cerro, contamos com a ajuda do Murillo, que explica a lenda que inspirou o conto do Simões Lopes Neto e ainda fala sobre preservação do meio ambiente - conta Kátia Lagreca Schmidt, proprietária da fazenda.
O local também é bastante procurado para a prática de rapel. O instrutor Everaldo Castro explica que há pedras para todos os níveis de dificuldade.
- A área é vasta. Procuramos lugares seguros e com material apropriado realizamos o passeio com este objetivo. O visual é lindo. Ao subir nos cerros, o contato com os animais silvestres é mais próximo. Tudo fica mágico - diz.
Inspirada em uma lenda, o conto da Salamanca do Jarau é sempre a melhor propaganda para o passeio, confessa Kátia. Nos cerros, foram gravados, inclusive, capítulos da série global A Casa das Sete Mulheres. A furna da Teiniaguá (interpretada pela atriz Juliana Paes), lembra Murillo, é o que a maioria das pessoas quer conhecer.
Além da parte artística e lendária exposta pela minissérie, muitos visitantes querem explorar o lado místico do passeio. A geografia incomum se formou a partir da queda de um meteorito, segundo geólogos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Estima-se que a quantidade de energia liberada na queda tenha sido equivalente a 550 mil bombas atômicas iguais à que destruiu a cidade japonesa de Hiroshima, em 1945. Conforme Kátia, muitos visitantes acreditam que, em função deste fenômeno, o local é dotado de uma energia única:
- Há quem diga que existe um portal místico de energia no Jarau, que tudo que é pedido aqui é potencializado. Alguns grupos vêm ao local em função da espiritualidade, buscando energizar-se especialmente para resolução de algum problema - explica.
A lenda e o conto
A lenda original conta as angústias de um sacristão da cidade de São Tomé, que é seduzido, enfeitiçado e iniciado nas artes mágicas pelos encantos de uma princesa moura, vinda das histórias da Península Ibérica e transformada em Teiniaguá pela mão do próprio diabo indígena, anhangá-pitã.
No conto de Simões Lopes Neto, pertencente ao livro Lendas do Sul, o autor relata a saga do gaúcho Blau Nunes, que percorre e enfrenta sete provas no Cerro do Jarau, ao norte do município de Quaraí. Era proprietário do local o controverso general farroupilha Bento Manuel Ribeiro, que, segundo a crença popular, teria entrado no Cerro do Jarau e feito um pacto com a Teiniaguá, saindo de lá com o "corpo fechado".
Os passeios
Fazenda Santa Rita do Jarau
ERS-377, a 18 quilômetros de Quaraí
Contato: (55) 9914-7101
Trilhas: Ricardo - (55) 8421-7554
Preços: variam de R$ 30 a R$ 50 por pessoa