Foi para fugir da concorrência concentrada em Capão da Canoa que o casal Davenir Silva da Silva, 55 anos, e Edimares Medeiros da Silva, 54, começou a vender suas frutas em Tramandaí, há quase três décadas. Na época, comercializavam melancias e os tradicionais abacaxis de Terra de Areia, com a ajuda de um caminhão. De lá para cá, o negócio prosperou: hoje, a chamada Tenda do Bilica está instalada em uma estrutura de madeira de 336 metros quadrados, na esquina das avenidas Flores da Cunha e Deputado Osvaldo Bastos.
— Encostamos a camionete para vender aqui e deu certo, por acaso. Vendia muito, demais. A gente veio e aconteceu. E aqui era tudo areia há 28 anos, as gurias (duas filhas) eram pequenas — comenta Davenir, sem conseguir lembrar com exatidão o ano em que começou o negócio na capital das praias.
O primeiro ponto de vendas ficava na esquina das avenidas Flores da Cunha e Rubem Berta. Depois, o casal comprou uma kombi e passou a comercializar as frutas também no canteiro em frente ao terreno baldio onde hoje fica a tenda. Em seguida, a área foi comprada pela família, que é natural de Terra de Areia, município do Litoral Norte.
— Começou com menos da metade disso e chão batido, era na areia mesmo. Daí só tinha uma pecinha atrás para a gente dormir — relata uma das filhas, Angélica Silva da Silva, 33 anos, que também trabalha na tenda.
O espaço, que no início era três vezes menor, foi todo reformado há 12 anos. Com o crescimento, o número de produtos vendidos também aumentou, deixando de ser um negócio voltado somente às frutas. Agora, a tenda conta com cozinha e mesas, onde os clientes podem desfrutar de lanches como pastéis, torradas, sucos naturais, caldo de cana e picadinho de queijo e salame. Logo na chegada, funcionários oferecem pedaços de abacaxi, melancia e melão para degustação.
— O nosso foco principal ainda é o abacaxi e a melancia, que são nossos carros-chefes. Na parte dos sucos, é o caldo de cana e o suco de abacaxi. Mas colocamos outras variedades de frutas também. Produção só temos do abacaxi, o resto tudo compramos para vender, mas a gente procura pegar tudo de pessoas conhecidas, com uma boa referência — aponta Angélica.
A parte da cozinha é comandada por Edimares. Entre suas produções, o destaque é o pão caseiro, que tem muita procura. Mas Davenir ressalta que os pastéis também saem bastante, porque a massa é diferente e o óleo da fritura está sempre novo. Já os sucos são feitos pelo proprietário, que não gosta quando “outro mete a mão” na tarefa. O caixa fica sob responsabilidade de Angélica, enquanto seu marido cuida das frutas.
A família passa toda a temporada de verão em Tramandaí, tocando o negócio. Davenir afirma que não vai para casa desde novembro de 2023 e só deve retornar no final deste mês, quando o movimento diminuir e a tenda for fechada.
— No restante do ano, eu vendo abacaxi diariamente em São Leopoldo e Sapiranga com a camionete pequena que a gente tem — explica o proprietário.
Movimento constante e clientes de todos os lugares
De acordo com Davenir, o movimento na tenda cresce mais todos os anos. No início desta temporada, achou, inclusive, que não iriam dar conta de atender toda a demanda — o estabelecimento funciona diariamente, das 8h às 22h.
— Meus guris (os funcionários) são meu carro-chefe e eles aguentaram fazer todo o serviço. O movimento é puxado e o atendimento é rápido. Eles correm e capricham. Isso, para mim, é tudo — destaca.
Na quinta-feira (1º) à tarde, o proprietário foi comprar frutas para abastecer a tenda. Mas, na tarde desta sexta (2), quase não havia morangos ou ameixas, demonstrando a quantidade de clientes que receberam no curto período.
Entre esses frequentadores, a maioria é cliente “fiel”, que conhece o local há muitos anos.
— Nós temos uma clientela de moradores, os próprios comerciantes que vêm aqui nas horas vagas. Então, para nós, sempre é um grande movimento padrão. Tem gente que chega aqui e fala que me viu pequena ou que me viu grávida e agora vê meu filho por aqui — relata Angélica.
Conforme a filha, o estabelecimento já recebeu clientes de diferentes regiões do Rio Grande do Sul e até de outros países, como Argentina e Alemanha.
Herança de família
O proprietário da tenda explica que "Bilica” era o sobrenome de seu avô e de outros familiares, que também tinham negócios. Mesmo que seu nome seja composto apenas por “Silva”, Davenir seguiu usando o “Bilica”, porque foi o que ficou como referência.
— E eu carrego, porque eu tenho orgulho de dizer que minha família é limpa. Só sempre meio braba, mas eu tenho orgulho — enfatiza, acrescentando que se criou na Ceasa, porque o pai também tinha negócio no ramo de alimentos.
Questionado se pretende se aposentar, Davenir garante que não:
— Adoro o que eu faço. Sabe quando tu trabalhas em uma coisa que tu gostas? Eu nem sei o que eu ganho, eles que cuidam do que é meu. Eu trabalho porque gosto. Dinheiro é bom, mas não é por isso que eu trabalho. Trabalho para ver minhas filhas bem, essa é minha felicidade.