A queda do número de argentinos que cruzam a fronteira em direção às praias do Litoral Norte já é sentida pela rede hoteleira e pelo comércio local. Em Torres, o setor projeta uma redução de pelo 50% de turistas do país vizinho nesta primeira quinzena de janeiro em comparação ao mesmo período do ano passado.
A última praia do litoral gaúcho ainda é o principal destino dos “hermanos”. GZH circulou pela cidade e, diferentemente de anos interiores, observou poucas placas de veículos argentinos. Na Praia Grande, uma das mais visitadas, era raro ouvir alguém falando em espanhol.
Alguns argentinos passam pelo município e ficam poucos dias, como ponto de parada, para, depois, seguir em direção às praias catarinenses. Para este público, a melhor opção é a hospedagem em hotéis.
Gerente de reservas de um hotel familiar fundado há 44 anos em Torres, Paula Bauer, 38, afirma que as confirmações caíram desde o início de 2024. O hotel é ponto de parada de grupos grandes, que não costumam permanecer muito tempo no Rio Grande do Sul.
— Antigamente, nesta época do ano, as nossas reservas eram predominantemente de argentinos. Hoje, no nosso verão, tivemos uma queda de mais da metade e, inclusive, de última hora. Eles chegam a fazer confirmações e depois desistem, estão deixando de vir e de gastar aqui no nosso país —afirmou.
O comparativo quanto a presença dos argentinos também é feito pela proprietária de uma das sorveterias mais antigas de Torres. Maria Elisabeth Raupp Paulo, 74, afirma que, em 2023, o número de turistas do país vizinho já era alto para o período. No entanto, até o momento, a chegada dos argentinos está mais tímida.
— Eles costumam chegar a partir do dia 6 de janeiro, mas, em relação ao ano passado, já atendíamos mais argentinos. Mas, estamos na expectativa que eles venham, pois, eles adoram sorvete. Consomem bastante mesmo — ressaltou a empresária.
"Ficou caro"
Para os argentinos que já estão no Rio Grande do Sul aproveitando as férias, a explicação para a queda no número de compatriotas é a situação financeira do país. O engenheiro agrônomo Pablo Stortini, 44, saiu de Mendoza com a família e está viajando entre o litoral norte gaúcho e catarinense.
Segundo ele, a desvalorização da moeda nacional frente ao dólar tem afetado diretamente o planejamento dos argentinos.
— Até então, tínhamos uma realidade em que um dólar custava 300 pesos. Com a inflação, chegou a mil pesos. Então, vir para cá ficou muito caro. Nós conseguimos viajar pois pagamos tudo antes da inflação subir tanto, fizemos um planejamento para custear as férias — explicou Pablo.
Ainda segundo o engenheiro agrônomo, muitos compatriotas estão preferindo aproveitar o período de férias na Argentina mesmo, onde o custo é quase a metade do que é cobrado no Brasil.
Sindicato acredita na permanência dos “hermanos” no RS
Para o Sindicato dos Hotéis, Restaurantes e Bares do Litoral Norte, a projeção é que a presença dos turistas argentinos e uruguaios aumente a partir da segunda quinzena de janeiro. As dificuldades econômicas também estão influenciando diretamente o roteiro de férias deste público.
Conforme a presidente do Sindicato, Ivone Ferraz, em 2024, apesar da redução no número de argentinos que estão chegando no Rio Grande do Sul, os que já estão no Estado acabam permanecendo aqui.
— No início do ano passado, eles ainda estavam mais equilibrados economicamente e tinham mais condições de ir para Santa Catarina. Este ano, como inverteu essa situação econômica, eles vieram em menor escala para o Rio Grande do Sul, mas a retenção maior foi aqui no litoral norte. Então, antes eles só ficavam de passagem, agora tem mais gente ficando mais dias.
Ainda segundo a presidente da entidade, o tempo de permanência nas praias gaúchas tem sido entre sete e 15 dias. Além de Torres, que é a mais procurada, Capão da Canoa e Tramandaí estão entre os destinos escolhidos.
O perfil dos turistas não sofreu alteração dos anos anteriores. Em sua maioria, são famílias que preferem investir em hotéis e restaurantes com preços mais econômicos.