Em 2024, o Museu de Ciências Naturais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Mucin/UFRGS), localizado em Imbé, no Litoral Norte, convida o público a refletir sobre o processo de preparação por trás dos acervos expostos. Nos bastidores: o lado invisível dos museus busca evidenciar as diversas etapas às quais os visitantes não costumam ter acesso e mostrar que a construção da ciência não é tão simples quanto pode aparentar.
— As pessoas vêm, vão na exposição, vão lá ver o bichinho, ele está pronto. Ninguém sabe o que acontece antes, todo o trabalho que é preciso para aquele objeto estar exposto — destaca Aline Portella Fernandes, museóloga e uma das curadoras da exposição.
O objetivo é mostrar o processo, que é longo, complexo, minucioso e demanda escolhas certas. No segundo andar do museu, vídeos, painéis e objetos descrevem e explicam cada etapa de preparo das peças: a coleta, com base nas necessidades de pesquisa ou frequência de aparição; a dissecação (abrir e separar as partes); se for vertebrado, a maceração (colocar em baldes com água para separar a carne e gorduras); a limpeza; a secagem; e, em alguns casos, a escovação.
Ainda que seja pequena, a exposição permite que o público veja o crânio de uma baleia-bicuda-de-Cuvier, uma peça rara quase nunca exposta; a comparação de dois crânios de Tursiops, um do golfinho-nariz-de-garrafa e um do boto-da-Barra, que protagoniza a pesca cooperativa em Tramandaí; e exemplares conservados de diversos animais. Há informações sobre como é feito o tombamento (proteção do patrimônio), documentação e acondicionamento de exemplares – mesmo depois de prontos, é preciso que haja uma gestão permanente para a sua preservação.
Durante a pandemia, o museu produziu publicações nas redes sociais que retratavam esse preparo – o que inspirou a exposição. A ideia surgiu a partir de Aline e da bióloga e também curadora Janaína Wickert, que trabalha na reserva técnica do museu, onde fica o acervo não exposto e que é utilizado para pesquisa. Nos museus de ciências naturais, é comum a maior parte do acervo permanecer na reserva, até mesmo por questões de conservação das peças, explica Aline.
Visitante de Palmeira das Missões, Alessandra Borjas, 47 anos, foi conferir a exposição – que avalia como "didática" – com o marido e a filha. A professora de História considera as exibições do museu "excelentes", ao preservar os resquícios do passado para que o presente seja transformador para o futuro. Ela também elogiou o Mucin por identificar algumas espécies com palavras de línguas indígenas.
— Há orientações para os visitantes sobre a importância do museu e sua contribuição para o futuro da humanidade, como também a metodologia usada pelos pesquisadores para preservar, por exemplo, o esqueleto ou parte do esqueleto de animais marinhos. Tivemos a oportunidade de conhecer os nomes científicos dos golfinhos que vivem nessa região litorânea, além de animais com o corpo preservado — aponta.
Usos do acervo
A exposição também pretende frisar a importância da coleta e da preservação de um acervo científico tombado em museu para diversas utilidades, como descobertas científicas, educação ambiental e ensino. Esse trabalho "invisível" é fundamental para garantir fontes de pesquisa e conhecimento para o futuro.
— Aquilo é o registro de um tempo, de um espaço. Determinado bicho vai ser coletado naquele local, naquele dia, naquela região, então todas essas informações vão ficar ali guardadas, e no futuro isso vai ser muito útil para se entender como era o lugar. Como os bichos vivem também tem a ver com o contexto — esclarece Aline Fernandes, destacando a influência do ser humano nessa dinâmica.
No primeiro andar, o museu conta ainda com uma exposição de longa duração, que contextualiza a região do Litoral Norte e sua diversidade. Há um esqueleto completo de uma baleia-jubarte; uma tartaruga-marinha; aves; peixes; além de lixos encontrados nos ambientes.
— Também para a gente parar para pensar um pouquinho no mundo que a gente vive e que quer viver e deixar para os nossos filhos — frisa a museóloga.
O público poderá conferir a exposição Nos bastidores: o lado invisível dos museus até o fim do ano. Há cobrança de ingresso no museu, de R$ 10 (inteira), para possibilitar a renovação das exposições, devido à baixa disponibilidade de orçamento do órgão auxiliar ao qual o Mucin é vinculado (Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos - Ceclimar).
Serviço
- Duração: até o fim do ano
- Endereço: Avenida Tramandaí, 976 - Imbé - RS
- Ingressos: R$ 10 inteira, R$ 5 estudantes. Idosos, pessoas com deficiência e crianças até seis anos são isentos. Grupos/escolas com crianças em situação de vulnerabilidade social podem solicitar isenção. Pagamento somente em dinheiro ou pix