O primeiro mês da 7ª Operação Verão Total, iniciada em 16 de dezembro de 2023, o Corpo de Bombeiros Militar do Rio Grande do Sul (CBMRS) não contabilizou nenhum óbito por afogamento nas áreas com a presença de guarda-vidas. No entanto, conforme levantamento produzido por GZH, 30 pessoas morreram afogadas no período, todas em locais não cobertos pelo serviço. Autoridades e especialistas tentam explicar as razões.
O número aponta para um caso a menos do que na temporada anterior. Na operação passada houve 28 afogamentos seguidos de morte em água doce e três em água salgada. Na ocasião, os óbitos também ocorreram em áreas não cobertas pelos guarda-vidas.
O subcomandante-geral do CBMRS e coordenador da Operação Verão, coronel José Carlos Sallet de Almeida e Silva, não estabelece uma relação de causa e efeito para a elevação de casos:
— Acreditamos, contudo, que seja uma soma de fatores: a alta temperatura, um provável aumento no número de banhistas e os dias com boas condições de banho nas praias.
Do total de ocorrências deste ano, 29 aconteceram em águas internas e uma ocorreu no mar, no Litoral Norte, onde não havia uma guarita por perto. Os 30 dias iniciais da operação registraram 417 salvamentos em todo o Estado — 359 no Litoral Norte, 19 no Litoral Sul e 39 nos balneários de águas internas. Este número é 8,3% maior em relação à temporada anterior, no mesmo período, quando ocorreram 385 registros.
Especialista em técnicas de primeiros socorros e resgates aquáticos, Sallet destaca o trabalho conhecido como “apitaço”, em que os guarda-vidas orientam banhistas à beira-mar.
— Até o momento, já foram realizadas mais de 154 mil atividades preventivas. Essa interação tem gerado resultados positivos para que não haja óbitos em áreas cobertas pelos guarda-vidas.
Cheias influenciam?
Para o coordenador da Operação Verão, as enchentes recentes no RS “influenciam em mudanças de cursos de rios”. E isso representa um risco a mais na hora do banho:
— O cuidado deve ser redobrado, principalmente com as crianças, que devem estar sempre acompanhadas de um adulto, com a distância máxima de um braço. Independentemente do local que o banhista escolha para passar o momento de lazer, é fundamental procurar uma praia, lagoa ou rio com a presença de guarda-vidas. — reforçou Sallet.
Já o doutor em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental, professor Fernando Mainardi Fan, apesar de se preocupar com as frequentes cheias que atingem o Estado, considera os afogamentos predominantemente uma questão de educação e hábitos dos banhistas.
— A importância das mudanças climáticas e aumento de eventos extremos é de menor relevância neste cenário. Por exemplo, muitas pessoas não sabem que, acima de cachoeiras, o leito do rio pode ter crateras que não estão visíveis. Aí, a correnteza formada pela água é difícil de escapar uma vez dentro do rio. Educar sobre isso é importante — opina o docente da UFRGS.
Banho sem permissão
O município com mais óbitos por afogamento no período é Dois Irmãos, no Vale dos Sinos. Bruno Kauã Ribeiro Rocha, 22 anos, Emilin Augustin Duarte, 15, e Miguel de Oliveira da Rosa, 15, perderam a vida após se banharem na Cascata São Miguel, que costuma receber turistas para trilhas e passeios.
No entanto, o trecho do Arroio Feitoria, inserido na Bacia Hidrográfica do Rio Caí, é impróprio para banho e a prefeitura não recomenda e nem incentiva o contato direto ou ingestão de suas águas.
— Nos locais onde temos conhecimento da entrada indevida de pessoas, foram instaladas placas alertando sobre os riscos. O acesso a estes locais geralmente se dá por áreas particulares ou de difícil acesso — explica o chefe do Departamento de Meio Ambiente de Dois Irmãos, Matheus Ferro, que orienta os visitantes a utilizarem espaços com estrutura para banho como campings e clubes na cidade.
Ele lembra que os rios são suscetíveis à sazonalidade das chuvas que, quando ocorrem aumenta o volume dos mananciais, podendo provocar o fenômeno conhecido como “cabeça d’ água”.
— A chuva intensa na cabeceira do rio faz subir o nível abruptamente e forma uma onda com grande volume de água que atinge um trecho mais baixo do rio, intensificando a correnteza — esclarece Ferro.
Segundo o representante da prefeitura de Dois Irmãos, os banhistas ainda podem encontrar pedras, troncos e detritos conduzidos pela ação das águas que podem se tornar obstáculos perigosos durante os mergulhos. Ferro cita também a possibilidade de acidentes durante o trajeto dos turistas antes de chegar às cascatas, pois a mata, fechada, tem terrenos escorregadios e a presença de animais peçonhentos.
Por que CBMRS não contabiliza todas as mortes?
Após o período de comparação utilizado nesta reportagem, os primeiros 30 dias da operação - entre 16 de dezembro do ano passado e 14 de janeiro de 2024 - outras duas pessoas morreram afogadas. Um jovem de 18 anos em um açude em Bagé, na região da Campanha, na segunda-feira (15), e um homem de 42 anos durante uma pescaria, no Rio Uruguai, na altura da cidade de Uruguaiana, na fronteira oeste, na quinta-feira (18).
O CBMRS explica que não contabiliza casos fora da área da Operação Verão porque nem todos os afogamentos passam pela Corporação. Há ocorrência em que os bombeiros não são acionados. Nestas situações, somente o médico que atendeu a vítima poderá dizer se a causa foi ou não afogamento.
Dicas e serviço
No site oficial da Operação Verão Total é possível verificar quais guaritas estão ativas, seus horários de funcionamento e se possuem acessibilidade para pessoas com deficiência e/ou mobilidade reduzida. O coronel José Carlos Sallet de Almeida e Silva fornece orientações que podem evitar possíveis afogamentos:
- É fundamental que o banhista respeite as orientações dos guarda-vidas e não teste os seus limites na água
- Ingerir bebidas alcoólicas e ir para a água não combina
- Se for tomar banho em rios, lagoas ou açudes, importante lembrar de não mergulhar de cabeça, pois o fundo é cheio de pedras, troncos e galhos de árvores que oferecem um grande risco
- Não recomendável o uso de boias ou objetos flutuantes, pois causam uma falsa impressão de segurança e podem levar as pessoas para longe da margem sem que percebam