Desde o início da temporada, moradores e veranistas notam uma mudança na cor da água da lagoa de São Lourenço do Sul, localizada às margens da Lagoa dos Patos e a cerca de 200 quilômetros de distância de Porto Alegre. Nas praias do balneário, é possível observar uma coloração próxima do verde escuro ou marrom. Apesar da aparência, todos os pontos estão próprios para banho.
A percepção é que a água não está tão cristalina quanto no mesmo período dos anos anteriores. Segundo o prefeito de São Lourenço do Sul, Rudinei Härter, porém, a coloração habitual da lagoa é essa, mais amarronzada, e que remete ao famigerado chocolatão do Litoral Norte.
— Nós tivemos um grande período de águas salgadas, em função da estiagem. Quando está salgada, dá para ir no meio da água e enxergar os pés. Tivemos três anos de seca e aí era a coisa mais linda. Mas hoje está normal, a água é assim — afirma Härter.
O período de estiagem citado pelo chefe do Executivo foi causado pelo fenômeno La Niña, que começou em setembro de 2020 e permaneceu influenciando o clima no Estado até início de 2023. Um dos efeitos desse fenômeno é o deslocamento de água salgada do oceano para as praias da Lagoa dos Patos, deixando a água mais clara.
De acordo com o especialista em cianobactérias e professor aposentado da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), João S. Yunes, a água mais escura pode ser explicada por uma série de fatores relacionados aos sedimentos presentes na lagoa. A chuva, cada vez mais frequente e em maior quantidade devido ao El Niño, é capaz de intensificar esses efeitos, deixando a água ainda mais turva.
— A cor turva vem do excesso de argila, que pode vir de obras, do processo de lixiviação do solo ou de córregos e arroios. Há também, na água, um tom leve esverdeado que seria o início de florações de macroalgas — explica o docente aposentado.
Esses fatores, segundo Yunes, podem interferir na balneabilidade da região, que é bastante procurada pelos veranistas por ter a água calma, ideal para famílias com crianças e idosos. De acordo com os últimos relatórios da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), todos os pontos do balneário de São Lourenço do Sul estão próprios para banho. O órgão analisa, semanalmente, a Praia da Barrinha, Praia das Nereidas, Praia do Camping e Praia das Ondinas.
Tempestades na Região Sul
São Lourenço do Sul foi uma das várias cidades da região sul do Estado que foram afetadas pelas tempestades dos últimos meses. Em setembro, o prefeito chegou a declarar situação de emergência. Härter conta que, na época, o nível da água subiu consideravelmente e a lagoa ficou ainda mais escura.
— Nesse período que deu essas cheias todas, veio muita nata preta para água. Retirávamos toda a semana em caminhões e, quando víamos, no outro dia, estava tudo de volta. Foi nesse período que desceu tudo da Serra. A lagoa estava muito alta, foi terrível — relata.
Na ocasião, além da presença de algas na lagoa e falhas na areia, a orla também foi danificada, inclusive com desmoronamento de asfalto em alguns pontos e árvores caídas. A prefeitura tem trabalhado, desde antes do início da temporada de verão, para minimizar os prejuízos das tempestades e garantir que os turistas tenham uma boa experiência. A cor da água, porém, depende apenas da natureza.
— Acho que vai demorar para voltar (a água cristalina). Eu moro em São Lourenço do Sul há quase 40 anos e já vi vários períodos assim. Agora vai ficar assim um ano ou dois. Mas esse ano camarão não vai ter mais, que só dá quando a água está salgada, porque o camarão é do mar — pontua o prefeito.
*Colaborou Yasmim Girardi