— O mar é meu lugar preferido, traz uma paz de espírito!
É com essa frase que o surfista gaúcho Fabiano Schmidt, 46 anos, resume o motivo de pegar ondas nas praias do Rio Grande do Sul há mais de duas décadas. Para o morador de São Leopoldo, o esporte não proporciona apenas diversão, mas também funciona como uma válvula de escape para os problemas rotineiros.
Esta reportagem faz parte da série A Praia de Cada Um, que conta como pessoas de diferentes perfis aproveitam o litoral gaúcho. Veranistas e moradores da região compartilham suas preferências e o que a praia representa em suas vidas.
A relação de Schmidt com o surfe teve início ainda na adolescência: aos 17 anos, comprou de um amigo sua primeira prancha. Mas, conforme o gaúcho, foi somente aos 20 que realmente começou a pegar ondas. Hoje em dia, sempre leva seu equipamento para onde vai.
— Tinha uma galera do meu bairro que surfava e, na época, vínhamos de ônibus para o Litoral. Só passávamos trabalho, na verdade, nem surfávamos direito. Às vezes, nem tínhamos lugar para dormir, mas vínhamos pelo surfe. Não era tão perigoso, então dormíamos em cima das capas das pranchas — relembrou o surfista, minutos antes de entrar no mar de Tramandaí, no Litoral Norte, com a prancha debaixo do braço.
Antigamente, o acesso às aulas de surfe não era tão fácil, contou Schimidt. Por isso, aprendeu a praticar o esporte com um amigo, que era um pouco melhor na atividade. Naquele período, entretanto, o equipamento era ruim e não tinham roupas adequadas, o que fazia com que enfrentassem dificuldades para curtir o mar — algo que foi superado ao longo dos anos.
Em Tramandaí, seu local preferido para pegar ondas é nas proximidades da Plataforma Marítima. O gaúcho afirmou que só vai para praias onde pode surfar e que costuma visitar também o litoral catarinense, que tem características bem diferentes do gaúcho, onde a situação do mar muda de um dia para o outro:
— Aqui depende do dia, agora está baixinho, o ideal seria uma prancha maior. Temos cinco pranchas, eu e meu filho, de 10 anos. Comecei a colocar ele nas ondas quando tinha quatro. Minha irmã mora na Praia do Rosa (SC) e lá tem umas praias em que posso deixá-lo sozinho, aqui eu não deixo, mesmo ele já tendo uma certa experiência, porque tem muito repuxo.
Quando começou a surfar, Schmidt inclusive tomou um susto no Litoral Norte. Estava com um primo em Torres e os dois só conseguiram sair da água à noite, depois de deixar a corrente levá-los para outra praia. A situação não o fez ter vontade de abandonar o esporte, mas o ensinou a respeitar mais o mar.
O gaúcho explicou que o melhor horário para surfar é de manhã cedo, por volta das 6h30min. Segundo ele, muitos surfistas aproveitam este horário para pegar ondas perto da plataforma de Tramandaí. Depois, costumam ir para casa e voltar com a família para aproveitar a beira da praia.
Para Schmidt, o mar renova e proporciona paz de espírito. Por isso, pretende seguir surfando por muitos anos, até quando sua saúde permitir.
— Quando tu está dentro da água, tu esquece de tudo. É um escape. Na cidade, temos o futebol, que aquela uma hora que tu joga, tu esquece teus problemas, e aqui dentro da água é a mesma coisa. Tu esquece da vida — finalizou o surfista, que trabalha com frutos do mar em Porto Alegre.