A Secretaria de Estado da Saúde de Santa Catarina identificou oito cidades que enfrentam surto de diarreia. O caso mais grave é o da capital Florianópolis, com 1,8 mil registros apenas em 2023, conforme atualização desta sexta-feira (13). Esse fato fez a prefeitura classificar a situação como uma epidemia na semana passada. As autoridades sanitárias do Estado vizinho buscam descobrir o agente causador da disparada de casos.
Além da capital, outras sete cidades catarinenses registram surtos: Balneário Camboriú, Bombinhas, Navegantes, Penha, Balneário Piçarras, Porto Belo e Itapema.
Segundo Fábio Gaudenzi, médico infectologista da Secretaria de Estado da Saúde de Santa Catarina, o crescimento de ocorrências de doenças diarreicas agudas (DDAs) é comum no Estado vizinho no verão. Características da estação contribuem para isso: maior circulação de pessoas nas cidades catarinenses, mudança de hábitos alimentares e exposição de alimentos ao calor são alguns dos motivos que podem levar a quadros de diarreia.
— É um padrão similar aos outros anos, mas com um número maior de casos. Temos uma dificuldade no encaminhamento do material para diagnósticos, porque os serviços de saúde fazem o atendimento, veem o caso de diarreia como isolado, não caracterizam como surto, e, por isso, temos esse atraso na identificação dos patógenos (causador da doença). Essas amostras são enviadas só depois, já quando há a preocupação com um surto, uma epidemia — diz.
Por isso, as equipes de saúde dos municípios catarinenses foram orientadas a reforçar a vigilância e coletar amostras dos pacientes com diarreia para análises laboratoriais. O objetivo é entender o perfil epidemiológico da doença e se os casos têm ligação. O trabalho envolve também municípios que não são do litoral catarinense, como Chapecó e São José do Oeste, que, segundo a secretaria, também tiveram casos de diarreia e enviaram amostras para investigação.
Veja a localização dos municípios catarinenses com surto de diarreia:
Os profissionais do governo estadual buscam descobrir o agente causador dos surtos, o que não foi possível até o momento. Segundo Gaudenzi, os exames feitos até então deram negativo para a presença de vírus entéricos, presentes no trato gastrintestinal humano e que, após transmissão por via fecal-oral, podem causar infecções ou enfermidades. Também deram negativo as avaliações para rotavírus; os exames para detectar o norovírus ainda não ficaram prontos.
A única detecção feita até o momento foi a presença da Escherichia coli, uma bactéria encontrada no intestino humano. Os especialistas buscam descobrir se ela é a responsável pelos surtos.
Outro episódio que preocupa as autoridades sanitárias catarinenses é que quase metade das praias do Estado recebeu classificação de imprópria para banho, conforme o relatório mais recente do Instituto do Meio Ambiente (IMA). Esse é um componente que pode explicar o momento sanitário vivido em Santa Catarina:
— Esse é um dos fatores que, sem sombra de dúvida, está envolvido. Se utilizo para banho uma água imprópria, meu risco de adoecer é muito maior. Vamos interpretar os resultados (dos exames) também avaliando onde a pessoa esteve, se se expôs à água do mar, de um rio ou lagoa, para entender o fenômeno, como ocorreu a transmissão do patógeno e em qual local — afirma o médico infectologista da Secretaria de Saúde de Santa Catarina.
Outras cidades
A prefeitura de Tijucas, no litoral catarinense, também emitiu uma nota sobre o surto de pessoas com quadro de vômitos, diarreia e dores abdominais nesta semana. Segundo Idarleni Daroci, coordenadora da Vigilância em Saúde do município, a cidade tem vivido aumento incomum de casos de diarreia para o período. Segundo ela, o sistema municipal de saúde costumava ter até 50 atendimentos semanais no verão. Nos últimos sete dias de 2022, por exemplo, foram 186 casos.
— É uma quantidade significativa. Não são todos do nosso município, pois atendemos muitos turistas. Já era algo esperado, porque somos uma cidade litorânea, sempre tivemos aumento de casos (no verão). Neste ano, agravou-se devido às fortes chuvas que tivemos em dezembro — comenta.
A cidade emitirá o primeiro boletim com o número de casos de diarreia em 2023 no sábado (14), que deve seguir com a tendência de crescimento de casos verificados em dezembro.
A Secretaria de Saúde de Itajaí informou que o município teve aumento no número de atendimentos relacionados à diarreia e vômito no início deste ano nas unidades de saúde e hospitais da cidade. No Hospital Marieta, foram 22 casos na primeira semana de dezembro de 2022, contra 40 casos nos sete primeiros dias de 2023.
Na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) CIS ocorreram 394 atendimentos até dia 10 de janeiro relacionados a vômito e diarreia. Não há comparativo com o mês anterior. No Hospital Pequeno Anjo, o acréscimo foi mais expressivo: em dezembro de 2022, a instituição contabilizou 67 casos atendidos nos 10 primeiros dias do ano, contra 238 no mesmo período de 2023.
— Esse aumento é esperado nos meses de verão. A cidade recebe muitos turistas e é referência em saúde, o que impacta nos números. Estamos em investigação epidemiológica, de coleta de biológica de pacientes atendidos, para verificar se achamos uma agente em comum causador do aumento de casos. Até o momento não consideramos surto, por falta de associação de uma fonte comum — comenta Cristiane Santini Seara, responsável técnica pela Vigilância das Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar de Itajaí.