Há mais coisas para fazer na praia do que ficar torrando na areia, debaixo do sol. Dá para aproveitar o mar e as lagoas do litoral gaúcho para fazer algum esporte aquático, unindo a prática de exercícios com diversão.
Os que gostam do mar podem tentar o surfe, tanto adultos quanto crianças. Os que preferem águas mais calmas podem encontrar uma lagoa para praticar kitesurf, que mistura prancha com pipa. A vela dá uma experiência de navegação, fazendo a pessoa entender a direção do vento, além de desfrutar da paisagem.
O importante, para iniciar em qualquer atividade, é ter o acompanhamento de instrutor. Convidar amigos e familiares fecha o pacote, repaginando o merecido descanso de verão.
Vai ser radical, mas vai tomar "caldinho"
Subir na prancha, entrar na onda e manter-se de pé, em equilíbrio, é o maior desafio do surfe, um dos esportes mais populares da praia. E não precisa ter o físico do Gabriel Medina para se jogar na água: basta ter disposição e um tantinho de coragem, inclusive para levar uns caldinhos.
A prática é ideal para quem quer se exercitar, mas prefere fazer isso em contato com a natureza. Foi esse combo que atraiu Diogo Fagundes Lauermann, 33 anos. Foram muitos dias dentro de casa durante a pandemia. O isolamento fez com que ganhasse alguns quilos, além de afetar seu psicológico. Passou a investir em atividades, como o jiu-jitsu e a caminhada, para recuperar a alegria. Em um final de semana de descanso em Tramandaí, acabou aceitando o convite de amigos para se aventurar no surfe.
Enquanto alguns citariam a imprevisibilidade do mar para manterem-se longe, Diogo tem outra postura.
– Medo do mar, não, mas respeito – avisa, antes de ter sua primeira experiência.
A interação com a água exige um comportamento mais aberto, mais flexível da pessoa, observa o instrutor Jader Vieira, da Escola Primeira Onda, que há 15 anos dá aulas de surfe em Tramandaí. Nem todo dia é bom para surfar - mar de ressaca, com correntes fortes, não é adequado. Dia com raios e trovões, muito menos.
Também é necessário paciência até conseguir o domínio da prancha e pegar uma onda. Mas, quando o momento chega, a sensação é recompensadora.
– Existe o desafio, e nisso de se desafiar cada vez mais, a conquista ganha um sabor diferente. Sem falar na conexão com a natureza e toda a filosofia que o surfe tem. As pessoas aprendem a ter mais paciência, a esperar o tempo certo das coisas acontecerem. Aprendem a não ser imediatistas, porque imediatismo e surfe não combinam – diz Jader.
Instruções antes de surfar
Não é preciso ter prancha nem roupa de borracha para surfar pela primeira vez. A escola de Jader, por exemplo, empresta todo o equipamento para os alunos. E ninguém entra na água sem aprender noções básicas sobre como se comportar quando a onda chega. Para todo iniciante, ele dá lições ainda em terra firme.
Desenha uma prancha na areia, faz o aluno deitar nela, de barriga para baixo, e simular a remada, quando os braços fazem o movimento na água, dando a direção. Também ensina a se erguer e a encontrar a posição mais adequada - é nesse momento que a pessoa descobre se o seu pé de base, aquele que vai atrás, dando sustentação, é o esquerdo ou o direito. Ou seja, se é goofy ou regular, como dizem os surfistas.
Depois, Jader leva todos para o mar, onde terão a companhia de mais instrutores. Ninguém escolhe qual onda vai pegar: é sempre o professor que posiciona a prancha e diz quando o aluno pode subir nela. O resto é coragem. Diogo, por exemplo, tomou alguns tombos e engoliu um monte de água em seu primeiro dia, mas garante que vai retornar a Tramandaí aos finais de semana para fazer valer o pacote de 10 aulas.
– Tu esquece de tudo, dos teus problemas, dos compromissos. O mundo fica na areia e tu vai para a água. Tomei caldo, engoli água, mas é muito bom. O desafio é muito gostoso – afirma.
Nem só os adultos se arriscam no surfe. As aulas de Jader são repletas de crianças que ganharam o incentivo das famílias para saírem um pouco da frente do computador. Uma das mais experientes é Manuela Costi Pereira, 10 anos, de Porto Alegre. Segundo a mãe, Carolina Costi Pereira, 44 anos, foi a menina que quis aprender a surfar, para ter mais contato com a natureza.
Como já tem habilidade com o corpo, exercitado em aulas de natação e ginástica olímpica, a guria faz bonito quando sobe na prancha, e se exibe para o fotógrafo. Carolina, da areia, acompanha tudo. Na água, a filha é dos instrutores, que vibram ao vê-la em ondas que nem gente grande consegue pegar.
– Ela não se apavora. Ondinha, não quer mais. Ela quer onda grande. Chega de marolinha – diverte-se Carolina.
Quanto custa
- Aula avulsa: R$ 100 em média
- Pacote com quatro aulas: R$ 320
- Pacote com 10 aulas: R$ 600
- Não é necessário comprar roupa e prancha
- Escola de Surfe Primeira Onda: Av. Beira Mar, 2.790, Tramandaí. Contato: (51) 99734-1464
Surfa, mas também voa
Tem um esporte que é parecido com o surfe, mas não se aproveita só da água: também leva em consideração o vento. É o kitesurf, que vem ganhando cada vez mais adeptos. Com os pés na prancha e as mãos segurando a pipa, a pessoa não só desliza, mas também pode voar.
O kitesurf é feito no mar, mas também na lagoa, como a do Palmital, em Osório, onde a arquiteta Aline Hugentobler, 43 anos, toma aulas com Viviane Rodrigues dos Santos, a Vika, da escola Mangaviento. A atividade se tornou uma opção quando, forçada pela pandemia, passou a frequentar mais a casa de veraneio da família para fugir das aglomerações de Novo Hamburgo, onde mora com marido e filhos.
Como Osório é repleta de lagoas, além de ventar muito, Aline logo encontrou seu hobby.
– O vento, aqui, predomina. É a cidade dos ventos. Por isso, o kitesurf é uma forma de passar o tempo – afirma.
Iniciante no esporte, ela só entra na água ao lado da instrutora. Ainda está aprendendo a prestar atenção no vento para fazer as manobras com a pipa, que fica presa à cintura por um trapézio. Se faz um comando muito brusco com as mãos, cai de bunda na água, o que também pode ser divertido. Mas já conseguiu fazer um salto no ar, que é quando consegue "voar", uma etapa avançada do kitesurf.
– Foi muito bom, mas eu fiquei nervosa. É uma mistura de medo com sensação boa – relata Aline.
Não é necessário ter equipamento para se iniciar no kitesurf - escolas como a Mangaviento fornecem tudo para quem deseja começar. Aline quis comprar o seu, para dividir com o companheiro, o professor Luciano João Wiest, 39 anos. O que é importante, assim como em outros esportes aquáticos, é ter um bom relacionamento com a água. Quando ganha um novo aluno, Vika logo vai pedindo para ele mergulhar a cabeça, para avaliar sua reação.
Entender que não se domina nem a água, nem o ar, mas que se pratica a favor deles, é uma atitude fundamental.
– O kitesurf te ensina a aceitar a natureza. Se não tem vento, tu não vai velejar –avisa Vika.
O desejo de Aline é ganhar mais experiência para começar a praticar sozinha, sem o receio de quem está começando, e deslizar por horas e horas na lagoa.
– Tu entra no kitesurf com medo. Aos poucos, vai perdendo – garante.
Quanto custa
- Aula individual: R$ 250. Pacote de seis aulas tem desconto de 5%.
- Mangaviento Escola de Kitesurf: Estrada Rod. Domingos Manuel Pires, 12.415, Osório. Contato: (51) 99734-6224
Para navegar em qualquer direção
Deixar-se conduzir pela força do vento é a condição de quem faz vela, que pode ser praticada no mar ou na lagoa. Embora não demande tanto do corpo, como outros esportes aquáticos, uma lufada mais forte exige muita agilidade e força nos braços para colocar o barco na direção correta.
Ficar distante da terra firme, velejando somente com o barulho das águas, também pode ser inspirador. O psicólogo Roberson Rosa, 36 anos só conhecia a navegação pelos livros de Amyr Klink, de quem é fã. Ao mudar-se de Porto Alegre para Torres durante a pandemia, ficou deslumbrado com a diversidade de lagoas do litoral gaúcho. Pensou que seria adequado começar em águas mais tranquilas.
É na Lagoa da Pinguela, em Osório, que toma lições com o professor Adelandre de Barcellos Linhares, o Landi. Está aprendendo coisas que jamais aprenderia na rotina da cidade, como ouvir o vento, entender sua direção, além de se deixar ficar sobre a água, em estado de contemplação.
Mas, entre todos os ensinamentos da vela, o que mais intriga é compreender que nem tudo está sob seu controle.
- Com a vela, tu lida com o imprevisível. Tu sai da zona de conforto, não sabe, por exemplo, quando vai entrar uma rajada de vento. Até tem aplicativos que indicam, mas lidar com o imprevisível é o que me interessa - explica.
Um ponto que soma a favor da vela é que, no caso dos barcos menores, que não possuem motor, não há qualquer consumo de gasolina, o que preserva as águas. Também não é para quem prioriza adrenalina: para velejar, o interessante é desacelerar. Até famílias podem passear de veleiro, mesmo que não quiserem aprender a navegação.
– Um amigo meu, engenheiro naval, dizia: "a pessoa que anda de lancha quer chegar em algum lugar. A pessoa que veleja não está preocupada só em chegar. Ela quer curtir toda a viagem" - reflete Landi.
Quanto custa
- Curso completo de vela: R$ 2,7 mil (20 horas)
- Aula avulsa: R$ 180
- Veleiros para alugar: o maior custa R$ 200 a hora. Os veleiros menores ficam em torno de R$ 140 a hora.
- Também é possível fazer passeios nos barcos a vela, por R$ 180 a hora. Cabem três pessoas no barco.
- Veleja Landi - Lagoa da Pinguela: BR 101, km 78 - Barranceira, Osório. Contato: (51) 99971-1792