Num ano que começa com a presença do coronavírus e mais de mil infectados num só dia no Rio Grande do Sul, parte dos veranistas tenta aproveitar a praia no litoral gaúcho mantendo o distanciamento entre as pessoas para evitar contrair a doença. Em Capão da Canoa, no Litoral Norte, uma das formas encontradas foi se instalar com guarda-sol, cadeira e isopor em meio às dunas.
Neste sábado (2), a equipe de GZH circulou pelos pontos centrais da beira-mar e flagrou diversas pessoas que encontraram nas dunas a alternativa para fugir da aglomeração e dos guarda-sóis muito próximos. O comerciante Sílvio Sturmer, 58 anos, e a esposa, a terapeuta ocupacional Amália Sturmer, 57, de Porto Alegre, estavam em uma duna próximo da Avenida Poti porque acharam a praia muito cheia.
— Tem muita gente que não está usando máscara. Achamos esse lugar (nas dunas) maravilhoso: pega a brisa do mar e a gente enxerga tudo. A gente procura respeitar, cuidar dos demais e cuidar da nossa saúde — disse Amália.
Sílvio também mudou seu trajeto durante as caminhadas ou pedaladas. Antes, o comerciante – que nasceu em Capão da Canoa – fazia exercícios no calçadão da Avenida Beira-Mar. Agora, adotou as quadras anteriores ao calçadão, locais em que há menos pessoas para dividir o espaço.
— Procuro sempre respeitar, com máscara, onde não tem muito movimento. Todo mundo se cuidando e respeitando a si próprio e aos outros, dá pra levar uma vida quase normal — detalhou o comerciante.
Assim como o casal, o adolescente Agnaldo Borges de Souza, 16 anos, aproveitava a praia ao lado da mãe, Solene Souza Borges, 52, em uma duna, isolado dos demais. Ele também estava se protegendo.
— Por ser jovem, vejo muitos indo para festa, se aglomerando e não usando máscara. Mas estar aqui me deixa mais seguro. Eu não sou do grupo de risco, mas meu pai e minha mãe são adultos, então, mantenho eles também em segurança — assegurou.
Até mesmo quem vai sozinho à praia preferiu as dunas. A gestora de Recursos Humanos Inajara Wink, 33 anos, moradora de Santa Cruz do Sul, aproveitava a praia relaxada e, isolada, se disse segura até para retirar a máscara, já que estava sozinha. Na avaliação dela, o número de pessoas na faixa de areia aumentou nos últimos dias e ficou inconcebível permanecer próximo dos demais.
— Sinto falta de um abraço, de me aglomerar com as pessoas de quem gosto, mas a saúde em primeiro lugar — afirmou Inajara.
Após passar o ano na linha de frente do atendimento aos infectados pela covid-19, a enfermeira Luciana Garcia Feldens, de Porto Alegre, também aproveitava a praia numa duna, próximo à imagem de Iemanjá, ao lado da filha, Marina Feldens, 24. Ao observar a aglomeração na areia, ficou decepcionada.
— Esse ano foi muito complicado. O pessoal da saúde está cansado, e justamente porque a pessoas não estão entendendo o que está acontecendo. Estamos nos preparando para janeiro, porque com o que vimos aqui (de aglomeração), deve ser complicado — lamentou.
Círculos de areia se multiplicam, mas espaço reduz
Assim como mostrou GZH na última segunda-feira (28), outra alternativa encontrada por veranistas é fazer um círculo na areia para indicar até onde ambulantes e outros banhistas podem se aproximar com certa segurança, tentando manter o distanciamento. Com o maior movimento devido ao feriadão de Ano-Novo, o espaço reduziu e ficou mais difícil de manter o que vem sendo chamado, em tom de brincadeira, de cercadinho.
Mas até a família que ilustrou a reportagem de segunda-feira também migrou para as áreas mais altas neste sábado.
— O círculo não é mais suficiente ali na parte de baixo. Resolvemos subir aqui para as dunas porque fica mais tranquilo, mais afastado dos demais veranistas. Aqui temos a vista de todo o mar — observou Letícia da Cas, 27 anos.
Dunas são área de preservação permanente
Características das praias no litoral do Rio Grande do Sul, as dunas são áreas de preservação permanente em todo o país, o que visa a prevenir que sejam danificadas pela ação do homem — como a retirada de areia, a construção de casas e prédios à beira-mar, a erradicação da vegetação natural.
– O problema é a degradação das dunas. Precisa se ter cuidado para que não sofram nenhum dano. Caminhar ou permanecer desde que não haja degradação, não há como reprimir. É natural que as pessoas passeiem. O problema é quando são praticadas atividades como andar de quadriciclo. Esse é um assunto que preocupa e nos faz querer intensificar a fiscalização – afirma o capitão Rogério Silva dos Santos, comandante da Patrulha Ambiental da Brigada Militar no Litoral.
A fiscalização ambiental da área de dunas, bem como de qualquer elemento que compõe o meio ambiente, pode ser feito por uma série de agentes: prefeituras, Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) e Patrulha Ambiental (Patram) da Brigada Militar (BM). A fiscalização, contudo, pode ser exercida pelos cidadãos e por outros agentes do poder público municipal, estadual e federal.