A iniciativa de preservar as últimas dunas costeiras do Estado deu ao grupo de pesquisadores do Instituto Curicaca, de Porto Alegre, o apoio financeiro da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza para realizarem um estudo inédito. Biólogos e agrônomos farão um levantamento profundo em 100km de extensão, entre Osório e Torres, para descobrirem como está a situação das unidades de conservação da região e das dunas que percorrem a costa gaúcha, e também identificarem as espécies ameaçadas na área. No total, 20 instituições de todo o país foram contempladas pelo edital. A única gaúcha é o Instituto Curicaca.
Segundo o coordenador técnico dos pesquisadores, o agrônomo Alexandre Krob, o estudo terá duração de 18 meses, a partir de março. Na primeira etapa, será realizado um levantamento da área com auxílio de imagens de satélite. Depois, as dez maiores dunas terão um estudo ainda mais aprofundado feito por terra.
- Ao contrário do que se imagina, as dunas não são apenas um monte de areia que se move com o vento. Há espécies de animais, como a lagartixa das dunas e o tuco-tuco, e de vegetações, como o butiá da praia, que só vivem nelas e estão ameaçadas. Fizemos este projeto, justamente, por causa destas ameaças - explica o professor.
Expansão urbana
O mais recente gerenciamento costeiro tem quase três décadas e, conforme Alexandre, está desatualizado. Hoje, o principal temor dos pesquisadores é a expansão imobiliária na região, que atinge, inclusive, áreas antes tomadas por dunas. Em Arroio do Sal, por exemplo, que teve identificados 61 sítios arqueológicos, entre sambaquis (depósitos construídos pelo homem, constituídos por materiais orgânicos e calcários que, empilhados ao longo do tempo, sofreram uma fossilização) e sítios com cerâmica indígena com mais de 4 mil anos de existência, casas estão sendo construídas cada vez mais próximas da área de preservação. O mesmo ocorre em outras cidades do Litoral Norte, como Alexandre constatou em levantamento inicial do estudo.
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- A gente encontra loteamentos irregulares, estradas que acabam causando mineração de dunas. A expansão urbana é um problema que precisa ser combatido. Com a análise, faremos uma série de sugestões, tanto para os planos de manejo das unidades de conservação que a gente tá contemplando, como para as políticas estaduais para a conservação deste ecossistema - justifica o agrônomo.
Dunas no Parque Itapeva, em Torres
Ações
Entre as unidades de conservação já existentes e que farão parte da pesquisa está o Parque Estadual de Itapeva, em Torres, criado em 2002. Com 1 mil hectares, a área ainda tem casas de moradores dentro do espaço. Gestor do Parque, o biólogo Paulo Grübler ressalta que o parque preserva parte das espécies ameaçadas de extinção, como o próprio tuco-tuco - um roedor que vive em galerias subterrâneas escavadas por ele na areia.
- O trabalho dos pesquisadores nos ajudará a direcionar nossas ações dentro do parque - acredita Paulo.
Entusiasmado com o início da pesquisa, Alexandre destaca que a importância do estudo está diretamente ligada à continuidade da paisagem ainda hoje existente na costa gaúcha.
- As nossas dunas estão desaparecendo e, se a gente não tiver um conjunto de ações, vamos perder esta paisagem, que é extremamente importante para o ecossistema do Rio Grande do Sul. O estudo pronto, com um conjunto de recomendações, será entregue aos gestores públicos - finaliza.
O Instituto Curicaca
Fundado em 12 de junho de 1997, o Instituto Curicaca é uma organização não-governamental gaúcha, sem fins lucrativos, voltada para atuar pela conservação do meio ambiente, pela valorização da cultura e pela promoção do desenvolvimento sustentável na Mata Atlântica, no Pampa e na Zona Costeira. A atuação tem caráter ambientalista, social, educacional, cultural e científico.
O trabalho é voluntário e feito por técnicos de nível médio e superior, acadêmicos, professores, agentes comunitários e estudantes que desenvolvem projetos, cooperações técnicas e convênios com outras instituições.
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