O momento é delicado, mas o movimento migratório de milhares de carros em busca das praias catarinenses não deve apresentar retração drástica, mesmo em meio à pandemia. Pesquisa realizada pelo Grupo RBS entre os dias 23 de setembro e 5 de outubro, com 470 pessoas, demonstrou que 56% dos entrevistados pretende viajar para Santa Catarina nesta temporada.
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A diferença é que, desta vez, as férias de verão exigirão um planejamento diferente. Assim como no Rio Grande do Sul, as restrições podem ser arrefecidas ou passarem pelo processo de recrudescimento. Porém, a previsão é difícil de ser feita, segundo Maria Cristina Willemann, especialista em epidemiologia do Centro do Operações de Emergência em Saúde de SC:
— Existem muitos aspectos envolvidos neste processo, porque a vida das pessoas está em jogo. Não tem nada definido de maneira permanente, as sinalizações para cada região mudam semanalmente, por isso, é importante ficar atento aos dados da cidade que você deseja ficar. Não temos como prever como será o verão, porque o coronavírus é novo e imprevisível. A doença tem padrões diferentes de comportamento em diversas partes do mundo.
Leandro “Mané” Ferrari, presidente da Agência de Desenvolvimento do Turismo de Santa Catarina (Santur), faz coro à afirmação:
— As medidas a serem adotadas ainda estão em discussão, mas é certo que precisamos atuar em conjunto, poder público, iniciativa privada e sociedade, para intensificar a fiscalização das normas, como evitar aglomerações, e cobrar um comportamento responsável de todos.
A epidemiologista Maria Cristina acrescenta que o comportamento das pessoas em relação aos espaços abertos, como a beira da praia, é definitivo para que as prefeituras definam uma postura. Naturalmente, ambientes ao ar livre apresentam baixo risco de transmissão, mas o modo como as pessoas fazem uso desse local pode torná-lo de alto risco. Por exemplo, se um grupo de amigos vai para a praia sem máscara e compartilha copos de bebidas, o risco de contaminação aumenta.
— Neste caso, a tendência é de que as prefeituras restrinjam ainda mais o uso da praia em função do comportamento inconsequente da população — diz a epidemiologista.
Professor do Departamento de Saúde Pública da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Lúcio José Botelho faz uma ponderação:
— Temos um sério problema de coerência. Os bares das praias estão autorizados a montarem mesas e cadeiras na faixa de areia, mas as pessoas estão proibidas de fazerem o mesmo. São regramentos que se contradizem do ponto de vista sanitário.
Garopaba
Nas praias da Ferrugem, do Siriú, da Silveira e de Garopaba serão encontrados, no papel, protocolos rígidos. A permanência de pessoas em parques e praças é livre desde que estejam usando máscara. Já nas praias, esse controle é ainda mais restrito. É permitida somente a realização de atividades físicas individuais na areia, sempre com proteção facial.
Entretanto, a reportagem de GZH flagrou, no dia 18, uma quarta-feira, diversas famílias e grupos de amigos sentados na areia e no calçadão e circulando pela cidade sem usar máscara. Além disso, não foi visto nenhum guarda municipal atuando na orientação da população em relação ao cumprimento dos protocolos sanitários.
Por meio de nota, a prefeitura de Garopaba afirmou que “vem trabalhando com orientação aos turistas, principalmente, nos finais de semana com uma equipe de orientadores. O município vem acompanhando os decretos estaduais de combate a covid-19, restringindo mais quando necessário”.
Quando questionada sobre o plano de contenção da doença para 2021, a resposta foi que, em breve, as equipes de transição irão tratar este assunto. Por fim, o Executivo local informou não haverá eventos de Natal e a tradicional festa de Réveillon.
Florianópolis
Com a capital reunindo o maior número de infectados do Estado, a Defensoria Pública recomendou à prefeitura que sejam adotadas restrições mais severas e, até mesmo, multa para quem se negar a usar máscara. O documento, apresentado nesta semana, dá um prazo de 10 dias para que as medidas sejam adotadas. Caso isso não ocorra, o órgão afirmou estudará medidas judiciais.
Em razão do nível grave de contaminação pelo vírus na região, Floripa permite somente a prática de exercícios físicos na areia ou na água — não é permitido ficar sentado. O Executivo local afirma que foi reforçada a obrigação de uso de máscara e a proibição de realização de esportes aquático coletivos.
Contudo, a realidade é bem diferente. Na praia da Joaquina, por exemplo, os frequentadores não usavam máscara, apesar de estarem distantes uns dos outros nas cadeiras ofertadas pelos quiosques.
O casal de turistas Dalcione dos Santos, 42 anos, e Thaíse Serafim, 32 anos, saiu de Turvo, no interior de Santa Catarina, para passar quatro dias na capital. Eles relatam que na área central um número maior de pessoas faz uso da máscara em locais públicos, mas o mesmo não é visto nas praias.
— Passamos por Barra da Lagoa e Campeche. O pessoal não estava muito atento aos cuidados. Não é cenário ideal, mas nós dois tomamos nossos cuidados. Até por isso, viemos passar esses dias aqui durante a semana. Assim evitamos as aglomerações, porque, por onde andamos, não presenciei nenhum tipo de fiscalização da guarda municipal — relata Santos.
A reportagem questionou a prefeitura sobre políticas de fiscalização, mas não obteve resposta.
Quando indagada sobre políticas de combate à pandemia, a Secretaria Municipal da Saúde informou que “a capital passará a fazer em média mil coletas diárias com testes do tipo PCR e testes rápidos, anteriormente, eram feitas a metade destes exames. (...) Haverá ampliação nas equipes dos centros de testagem exclusivos para o novo coronavírus, que já estão presentes em todas as regiões da cidade”.
Palhoça
Município que abriga as praias Pinheira, Sonho e Guarda do Embaú, Palhoça teve uma reunião, no dia 19, entre prefeitura, representantes da Secretaria de Segurança Pública, da Polícia Militar, da Polícia Civil, do Corpo de Bombeiros e da Guarda de Trânsito para definir a tática de ação na temporada.
Ficou decidido que as fiscalizações da Lei Seca continuam intensificadas, assim como as barreiras montadas nas estradas de acesso às praias e a vistoria permanente no horário de funcionamento de bares e restaurantes. Em comunicado, foi anunciada ainda a aquisição de duas viaturas e o chamamento de 15 concursados para atuarem no trabalho da Guarda de Trânsito.
Em relação às regras de uso da praia, a prefeitura também proíbe a permanência de pessoas, individual ou coletivamente, na areia e nas cachoeiras. A exceção fica com aqueles que praticam esportes aquáticos sozinhos, a pesca de arrasto e a realização de exercícios físicos, seguindo as regras de isolamento social e com o uso de máscara. Por outro lado, o município libera a permanência nos ambientes ao ar livre, como parques, praças e calçadões durante finais de semana e feriados.
A prefeitura ressaltou que as restrições e outras medidas podem ser definidas durante a temporada, de acordo com o risco de contágio. No comunicado, não foi detalhado como será a política da rede de saúde.
Imbituba
As praias do Rosa, de Ibiraquera e do Luz também estão sob regras mais rígidas. Isso vem na esteira do aumento de casos de covid-19 na região, mas também porque a praia do Rosa chocou o Brasil no feriado de 12 de outubro. Na época, imagens de centenas de pessoas aglomeradas em casas de festa e na faixa de areia correram o país.
Por isso, na tentativa de coibir novas concentrações de turistas, a prefeitura definiu que haverá blitz da Lei Seca e barreiras sanitárias. Além disso, está proibida a "concentração e permanência de pessoas" no entorno de rios, lagoas e praias. Não é permitido também acessar os locais com cadeiras, guarda-sóis, caixa de som, bebidas e coolers de bebidas e similares.
O secretário de Turismo de Imbituba, Giovani Acim, afirma que o planejamento para a temporada de verão começará a ser feito nas próximas semanas:
— É bem provável que não tenhamos nada em especial que não seja instrutores auxiliando na orientação e respeito às regras de distanciamento. Por outro lado, estamos estudando um protocolo covid-19 para o uso da areia da praia, em conjunto com Garopaba e Laguna.
Graciela Ribeiro, secretária municipal de Saúde, avalia o quadro do município.
— Nossos números estão crescendo diariamente e isso nos preocupa muito. Esta semana, a região voltou a matriz de risco gravíssimo, justamente no momento em que a nossa UTI está com 60% de ocupação. É um trabalho exaustivo, ainda mais quando há muita gente que desrespeita as orientações sanitárias — pontua ela.
Bombinhas
Conhecida pelas praias Quatro Ilhas, Mariscal e Conceição, Bombinhas vai na contramão dos municípios acima citados. A prefeitura orienta o afastamento entre banhistas e comerciantes, mas não impede a permanência na faixa de areia.
Por meio de decreto publicado em outubro, é necessário manter o distanciamento de 1m50cm entre os banhistas e outros usuários e prestadores de serviço da praia, evitando contato físico. É recomendado também o afastamento de três metros entre guarda-sóis e cadeiras de outros grupos. Dentro do mar, deve ser mantido distanciamento de dois metros entre banhistas de outros grupos ou pessoas que não são do seu convívio. O Executivo municipal informou ainda que as placas da campanha de conscientização contra a covid-19 já começaram a ser colocadas nas praias.
Por meio de nota, a assessoria de imprensa de Bombinhas afirmou que os protocolos seguem as recomendações dos órgãos de saúde e que "é preciso que todos colaborem para a segurança de todos, principalmente, os turistas. Todos devem estar atentos ao distanciamento social, uso de máscara, higienização frequente das mãos, evitar o compartilhamento de objetos".
Antonio Penteado, secretário municipal de Saúde, afirma que o atendimento foi normalizado depois que foi instituída a descentralização:
— Hoje, todas nossas unidades atendem sintomáticos respiratórios. E o turista que apresentar sintomas de covid-19 pode se encaminhar para nossa UPA 24 horas. Lá ele será atendido e também testado, porque temos consciência que o visitante pode ser disseminador do vírus e precisamos identificar isso o quanto antes.
Acesso às praias
No que diz respeito a condição das estradas, o viajante não encontrará grandes percalços. No trajeto pela BR-101, de Porto Alegre até Garopaba, em Santa Catarina, a reportagem não registrou buracos na pista. Além disso, a sinalização das faixas está com a pintura em dia e as placas verticais de aviso e de advertência estão bem distribuídas ao longo da rodovia. Não foi verificada a presença de lixo acumulado nas margens da estrada, nem de vegetação alta. Havia, inclusive, equipes trabalhando na manutenção da pista.
Mais próximo ao trecho entre Tubarão e Laguna é que foram registradas cinco obras, o que pode vir a acarretar maior lentidão em dias de fluxo intenso.