A plataforma marítima da praia de Atlântida completará 50 anos em 2020 recuperada dos estragos causados por uma ressaca do mar em julho de 2019. No entanto, ainda há obras a serem realizadas, atrasadas por causa das dificuldades financeiras e motivadas principalmente pela redução no número de sócios e pelos recentes gastos.
Segundo a Associação dos Usuários da Plataforma Marítima de Atlântida (Asuplama), a entidade chegou a ter 1,8 mil sócios nas décadas de 1970 e início de 1980. Atualmente, são apenas 200 pessoas que pagam a mensalidade de R$ 100. A outra fonte de arrecadação vem dos ingressos vendidos aos visitantes. Nos últimos três anos, a média anual foi de 19 mil frequentadores. O ingresso neste ano custa R$ 7. O dinheiro, segundo a associação, serve somente para pagar os funcionários.
O último dano sofrido pela plataforma ocorreu em julho de 2019, quando cerca de 50 metros de mureta foram derrubados pela força das ondas no chamado braço norte, que ficou fechado para recuperação até novembro do ano passado. O mesmo local havia sido reconstruído após ser fortemente danificado por uma ressaca em 2016.
Segundo o vice-presidente da Asuplama, Ernani Valtair Berni, foram gastos R$ 60 mil com a última obra. Em vez de tijolos, foram instaladas estruturas metálicas para facilitar a passagem da água em caso de nova tormenta. Sem condições de arcar com esse valor, a entidade promoveu uma série de atividades para arrecadar a quantia, como vaquinha online, rifas, colocação de urna em um restaurante próximo para receber doações, aportes de sócios, entre outros.
— Nos ajudou, mas não foi o suficiente. Ainda bem que tivemos um parcelamento facilitado com a empresa que fez a obra — destaca Berni.
O braço norte da plataforma segue fechado para o visitante que não vai pescar. Só quem pode usar o local são pescadores visitantes e sócios.
— Na realidade, a gente preferiu deixar isolado. O piso está irregular. Precisamos fazer reforma. A medida é para evitar que uma criança ou um idoso tropece. O pessoal da pesca já está acostumado. Até a gente corrigir isso, vai ficar assim — explica o vice-presidente da associação.
Conforme o comandante da Agência da Capitania dos Portos em Tramandaí, capitão de corveta Darcy Dalbon, a Marinha chegou a interditar o braço norte até que o problema fosse solucionado.
— Em um primeiro momento, impedimos o acesso. Eles fizeram as obras, colocaram as barreiras necessárias. Fizemos inspeção e foi liberado para funcionamento, sem impeditivos — conta o comandante.
Vistorias são feitas a cada dois meses pela Marinha nas três plataformas do Estado — além de Atlântida, há estruturas em Cidreira e Tramandaí.
Em 2018, o Corpo de Bombeiros exigiu aumento da mureta da plataforma. A obra foi concluída no início de 2019. A proteção ficou 18 centímetros maior, com altura de 1,10m. Restos de areia e tijolos usados nos trabalhos ainda estão em um canto da estrutura até hoje. Segundo os bombeiros, a situação da plataforma é regular e o alvará está válido até julho de 2021.
Sem previsão de melhorias
Quando se caminha pela plataforma, é possível perceber a necessidade de recuperação do pavimento, pintura e melhorias nas estruturas cobertas usadas para refeição pelos pescadores. No entanto, segundo a associação que administra o local, não há dinheiro.
— Tentamos ajuda com a comunidade para realização de melhorias, mas não estamos conseguindo. Também precisamos de ajuda da prefeitura (de Xangri-lá). Queríamos melhorar o piso do braço norte, por exemplo, e do espigão (braço principal) — relata Berni.
Outro desejo, esse sim quase impossível a curto e médio prazos, é a reconstrução do braço sul. A estrutura foi derrubada em 1997 por fortes ondas. Até hoje os destroços são vistos no mar.
Fundação em 1970
A estrutura foi fundada em agosto de 1970 pelo empresário Antônio Casaccia. Em 20 de dezembro de 1975, foi transferida para a Asuplama, entidade que é responsável até hoje pela "velha senhora", como também é chamada.
Tentamos ajuda com a comunidade para realização de melhorias, mas não estamos conseguindo. Também precisamos de ajuda da prefeitura
ERNANI VALTAIR BERNI
Vice-presidente da Asuplama
Mesmo com os problemas, a plataforma não deixou de ser um dos principais pontos turísticos da praia de Atlântida. Pescadores, surfistas e banhistas têm o local como ponto de encontro para lazer e esporte. É comum, principalmente aos finais de semana, o acúmulo de cadeiras e guarda-sóis próximos ao local.
Roberto Borges, 41 anos, trabalha como porteiro há oito anos na plataforma. Conta que no inverno há visitantes inusitados.
— Aqui a gente vê muita baleia. Os lobos marinhos, por exemplo, vão se alimentar no mar e depois vêm dormir na rampa (de acesso à plataforma) — relata Borges.
Segundo ele, o local é frequentado nos mais variados horários por funcionar 24 horas. Diz que é comum a pesca de madrugada, além dos que viram a noite lançando os anzóis no mar.
Convivência entre surfistas e pescadores
Eram 6h30min de terça-feira (11) quando o primeiro pescador chegou na plataforma. O aposentado Édson Rosa Peres, 67 anos, morador de Capão da Canoa, tentava fisgar peixe-rei com sua redinha. Frequentador há cinco anos do local, diz que chega a pescar durante quatro horas na plataforma. Sobre a convivência com os surfistas diariamente, diz que são raros os atritos.
— Cada um respeita seu espaço, não é isso? Mesmo que algumas vezes os surfistas acabem se aproximando muito e, por vezes, arrebentando linhas de pesca — diz o pescador.
Conversas com surfistas e pescadores que frequentam a plataforma ou as proximidades levantam essa mesma opinião de que a convivência é harmônica, mas desde que um não invada o espaço do outro. O pescador Manuel Barros da Silva, 69 anos, trabalha há dois anos vendendo iscas e produtos para pesca no local.
— Às vezes dá complicação com os surfistas. Eles não respeitam que é área de pesca — desabafa Silva, que admite que na maior parte das vezes não há problemas.
O surfista Thiago Mallmann, 24 anos, se alongava na areia antes de entrar no mar. Ele afirma que a escolha por surfar perto da plataforma tem relação com a formação de boas ondas e a facilidade para entrar na água.
— A bancada de areia é melhor para formação das ondas. Também tem menos vento e é tradicional surfar aqui — explica o estudante de Administração, morador de Porto Alegre, ao garantir que nunca teve problemas com pescadores.
Morador de Canoas, Pedro Gallina, 22 anos, deixava o mar depois de uma hora e meia de surfe. Assim como Mallmann, diz que há harmonia entre surfistas e pescadores. A opinião é compartilhada pelo amigo Diogo Eugênio, 26 anos.
— Quando tem muito pescador, a gente fica mais afastado. O mar é para todo mundo e precisamos compartilhar o espaço — defende Eugênio.
Segundo a Marinha, cada Estado e município é responsável pela elaboração do plano de gerenciamento costeiro. No entanto, há orientação para que a distância entre o surfista e as plataformas de pesca seja de pelo menos 200 metros.
Passarela nova
A novidade neste ano para quem frequenta a plataforma ou gosta de ficar nos arredores à beira-mar é uma passarela que foi construída pela prefeitura. A estrutura de madeira liga o calçadão à areia, quase em frente ao local. Os trabalhos foram concluídos no início deste verão.
Para circular por lá
- Quanto custa a visita: o visitante comum, que não pesca, paga R$ 7 por duas horas. Crianças de até 10 anos são isentas.
- Quanto custa para pescar: pescador paga R$ 10 por hora ou R$ 50 por seis horas
- Horário de funcionamento: 24 horas
Dimensões
- Espigão (braço principal): 350 metros
- Braço norte: 70 metros
- Largura: 5 metros