O dragão azul voltou a aparecer no litoral gaúcho, depois de ter chamado atenção dos banhistas no veraneio de 2017. Os pequenos animais marinhos, que oferecem riscos em caso de contato com a pele, segundo especialistas ouvidos por GaúchaZH, foram encontrados na beira da praia de Imbé, na terça-feira (11), por veranistas. Comunicado, o Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos (Ceclimar) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) enviou uma equipe até o local para coletá-los. Dez animais foram achados. Há três semanas, dois haviam sido recolhidos também na beira da praia do município do Litoral Norte.
O molusco recebe esse apelido por ser parecido com um dragão e ter o azul fluorescente como cor predominante. A doutora em ciências biológicas Carla Menegola conta que quando chegou ao local com seus alunos os moluscos ainda se mexiam.
–Eles estavam na beira da praia, na areia. Eu cheguei a tocar em um deles e ele se inflou e virou o ventre para cima, numa espécie de autodefesa – conta a professora de Biologia Marinha do Campus Litoral Norte da UFRGS, que faz questão de ressaltar que o contato não é aconselhado.
Os dragões azuis estavam todos juntos, entre as guaritas 133 e 134, em Imbé. Esses organismos, também chamados de plâncton, pois vivem suspensos na água, foram coletados com pinças e com a areia que estava embaixo deles para preservar os exemplares.
Lesma do mar
Segundo o Ceclimar, o dragão azul é uma espécie de lesma do mar, semelhante a outros invertebrados, como caramujos, polvos e lulas. "Ele possui um pé com seis ramificações simétricas, decoradas com raios alongados, com faixas de azul fluorescente ou preta no fundo de azul-claro ou cinza”, diz a nota do centro publicada em seu site.
De acordo com o Ceclimar, o molusco pode ter até sete centímetros, mas os exemplares encontrados geralmente possuem entre três e quatro centímetros, como os que foram coletados em Imbé.
A espécie vive nos oceanos, especialmente nas águas tropicais e subtropicais, e podem chegar às praias pelos ventos e correntes marítimas, geralmente quentes.
Trata-se de um predador que se alimenta principalmente de águas-vivas, incluindo a espécie caravela, uma das mais venenosas. Ele tem imunidade ao veneno das presas e, quando as ingere, armazena a substância para autodefesa.
Riscos de queimadura
O ecólogo e professor do Ceclimar Kemal Ali Ger explica que quanto mais veneno tiver a água-viva da qual o dragão azul se alimentar, mais perigoso ele se tornará. Em contato com a pele humana, pode provocar graves queimaduras. Ou seja, a orientação é nunca pegar o dragão azul com as mãos.
–Eu não tocaria de jeito nenhum. Se você for levar para algum biólogo, por exemplo, pegue de outra forma –alerta o especialista.
Perguntado se o contato com o molusco pode matar, Ali Ger. disse que é possível, mas não é provável.
– Pode ter dragão azul sem toxina, por exemplo. Mas se tiver toxina e ela for forte, e quem tocar for uma criança, um idoso ou alguém debilitado, por exemplo, pode matar. É improvável, mas não é impossível –explica o especialista, ao lembrar que não conhece casos de mortes pela espécie.
Segundo a professora Carla Menegola, há relato de uma pessoa que teve queimadura no rosto pelo dragão azul nesta temporada. O Ceclimar já foi comunicado sobre a presença do molusco em Cidreira e Tramandaí. Em caso de contato com a pele, a orientação é a mesma para queimaduras com água-viva, ou seja, passar vinagre.
Faltam pesquisas
Segundo Ali Ger, não há pesquisas específicas sobre o dragão azul no Estado. Ele diz que o objetivo do Ceclimar é formar linhas de pesquisa para monitorar a vida marinha, o que inclui o dragão azul, mas inexiste previsão e orçamento para isso, por enquanto. Pela falta de estudos, segundo ele, não se sabe muito bem o que realmente o dragão azul pode provocar nas pessoas em caso de contato.