Tradicionais pontos turísticos e de encontro de pescadores, as três plataformas marítimas existentes no Litoral Norte gaúcho vivem neste verão uma corrida contra o tempo para se adequar a uma série de reformas estruturais exigidas pelo Corpo de Bombeiros. Os itens de segurança atendem às leis de prevenção contra incêndios, como a presença de corrimãos, sinalizações e o correto sentido de abertura de portas, de dentro para fora. A corporação chegou a interditar a plataforma de Cidreira entre dezembro e o final de janeiro, após constatar a presença de fiação elétrica exposta.
Em Cidreira, a plataforma só foi reaberta em 1º de fevereiro, depois de a associação de 1,2 mil pescadores que administra o local gastar cerca de R$ 250 mil em obras de emergência. Com as obras finalizadas, o Corpo de Bombeiros concedeu alvará definitivo até 2024. Para conseguir o dinheiro, o jeito foi organizar uma campanha promocional com a anuidade por quase a metade do valor cobrado normalmente: passou de R$ 600 para R$ 351. As prefeituras não têm responsabilidade pelas plataformas – portanto, não são obrigadas a alocar recursos para reformas. Quem acaba arcando com os custos são empresas ou clubes de pescadores que as administram.
— Nos deram prazo para se adequar, mas precisamos correr contra o tempo para liberarmos a plataforma ainda neste verão. Conseguimos apoio dos associados e da comunidade para fazer as reformas mais importantes. Ao todo, gastamos R$ 250 mil e ainda tivemos um prejuízo de 350 mil — revela Jone Antônio de Lima, presidente da plataforma de pesca de Cidreira.
Os associados da plataforma aprovaram as medidas de segurança impostas pelo Corpo de Bombeiros.
— Para quem vem com crianças, como eu e meu marido, as obras ajudaram a nos dar tranquilidade porque os menores ficam mais distantes da altura máxima do guarda-corpo — ressalta Adenice Valim Gulart, 45 anos, associada há três anos que pesca diariamente sobre a plataforma.
Para adequar-se às normas, a plataforma de Cidreira aumentou a altura dos corrimãos em 24cm do lado de Tramandaí e em 40 cm do lado de Cidreira. Ainda foram fechados os vãos de cada guarda-corpo. O valor do material será pago em 10 vezes e os administradores da plataforma ainda negociarão com a empreiteira o valor da mão de obra.
Em Tramandaí, aguardo de nova vistoria
As obras já acabaram em Tramandaí, mas a plataforma está com alvará provisório porque depende de nova vistoria do Corpo de Bombeiros. A administração do local de pesca fez testes com diferentes materiais antes de ampliar a altura do corrimão, com extensão de 770m, sobre o guarda-corpo. Foram testados madeira, canos de PVC e ferro galvanizado – esta última opção foi escolhida para proteger os usuários da plataforma que completará, em outubro deste ano, cinco décadas.
Dentro das exigências, o clube também comprou nove extintores de incêndio, aumentou a sinalização das saídas de emergência e melhorou a acessibilidade na entrada da plataforma e nos banheiros para cadeirantes. Os gastos com as adequações foram de R$ 200 mil, de acordo com o presidente do Clube de Pesca do município, Hélio de Camillis. O clube, com 1,2 mil associados, é responsável pela plataforma da cidade.
— Em quatro décadas, nunca tivemos um acidente. Mas acatamos às medidas exigidas. Priorizamos a estética, a eficiência e o custo que esta obra geraria. Por isso, tivemos que fazer uma chamada extra aos associados para parte do pagamento da reforma. Alguns não aprovaram, mas não tivemos escolha — conta o presidente de Camillis.
Plataforma de Atlântida deve finalizar obras até 25 de fevereiro
Conhecida como "velha senhora", a quase cinquentenária plataforma de Atlântida também foi alvo de notificação e, agora, está com alvará provisório. Em 10 de janeiro, um sargento dos bombeiros avisou sobre as mudanças necessárias e deu prazo de 30 dias para a adequação. Os diretores da Associação dos Usuários da Plataforma Marítima de Atlântida (Asuplama) planejaram às pressas uma forma de arrecadar dinheiro para pagar a obra. O jeito foi fazer uma nova chamada aos associados e pedir doações àqueles que tinham mais condições.
A reforma em Atlântida foi a que teve o preço mais baixo das três plataformas: R$ 60 mil. Os guarda-corpos, que antes eram de 92cm, deveriam passar a ter 1,05m. Para ninguém se incomodar, a altura foi aumentada de uma vez para 1,10m. Cerca de 1 mil dos 5 mil tijolos das novas paredes da plataforma foram doados pelos organizadores de um festival de churrasco que ocorreu na praia, em janeiro.
A obra em Atlântida, no entanto, ainda não terminou. Os bombeiros já foram consultados e prorrogaram o prazo, levando em consideração o bom ritmo dos trabalhos. O local deve ser entregue em 25 de fevereiro. Ainda está prevista a pintura do piso e dos novos muros, deixando toda a estrutura na coloração azul que se assemelha com a do céu.
— A plataforma não tem apoio de nenhum órgão governamental e só depende dos associados. Já estivemos com eles, mas não podem nos auxiliar. Então dependemos das nossas ações. A gente faz provas de pescarias e conta com a contribuição de sócios — afirma César Matias, piloto aposentado e vice-presidente da associação.
O comerciante de Porto Alegre Jurandir Davi, 52 anos, diz que chegou a temer uma interdição como a que ocorreu em Cidreira:
— A gente ficou apreensivo por um momento, ainda mais agora, no verão. Eu, por exemplo, tiro umas férias agora e se chega a interditar fica ruim. Mas a reforma ficou boa — comenta.
O que diz o Corpo de Bombeiros
O tenente-coronel Jeferson Ecco, comandante da Operação Golfinho 2019, explica que hoje as plataformas "não estão mais inviáveis" e já estão com alvará em dia, mesmo que alguns itens ainda estejam sendo regularizados. Ele diz que as solicitações e os pedidos acabaram se intensificando no veraneio por coincidência, já que as notificações para reformas já se estendem há alguns anos.
— Nada disso é de agora. É uma novela que se arrasta, em função de um prazo concedido que não foi cumprido, uma legislação que mudou. Nada foi feito a margem do que é previsto — declara.
De acordo com o tenente-coronel, o risco de interdição agora é mínimo, já que as adequações foram feitas por todas as plataformas. Ainda assim, a corporação acompanha o prazo de cada uma das associações para regularização completa e diz que elas podem ser novamente notificadas caso não cumprirem o cronograma.
— O que tem é a legislação de prevenção de incêndio para cumprir. As plataformas são edificações costeiras que tem que seguir as mesmas normas das edificações do perímetro urbano — completa o oficial.
Visite as plataformas
Todas as plataformas estão abertas à visitação do público em geral. De dentro da estrutura, é possível ter uma bela vista do amanhecer. Pescadores dizem, inclusive, que não é rara a visita de baleias e de golfinhos nas proximidades.
Plataforma Marítima de Atlântida
– Tem restaurante, churrasqueira, sanitários, loja de iscas e materiais de pesca, e mirante com cadeiras e guarda-sóis.
– Ingresso para visita: R$ 7, por duas horas, das 7h às 20h.
– Não sócios que quiserem pescar pagam R$ 10 por hora. Após cinco horas, o pescador ganha uma hora extra. O ingresso é das 6h às 21h.
– A plataforma fica aberta até 0h.
– Informações pelo telefone: 99281-7680 ou no site: http://www.plataformadeatlantida.com.br.
Plataforma de Pesca de Cidreira
– Tem churrasqueiras, sanitários, dois bares e um museu com os principais peixes pescados no local.
– Ingresso para visita de não associados: R$ 5 por 30 minutos, das 8h até 17h30min.
– Não sócios que quiserem pescar pagam R$ 15 por duas horas com um caniço, podendo ser renovado até 18h. A entrada é até o meio-dia.
– A plataforma fica aberta durante 24h.
– Depois das 18h, só os associados podem continuar pescando.
– Informações pelo telefone: 97400 7474 ou no site: https://plataformadecidreira.com.br/site/
Plataforma Marítima de Tramandaí
– Tem restaurante, banheiros, proíbe churrascos no local e tem uma área social.
– Ingresso para visita: R$ 5 por 30 minutos, das 9h às 11h30min e das 14h às 19h
– Só associados podem pescar e ter acesso ao T da plataforma.
– A plataforma fica aberta durante 24h.
– Informações pelo telefone: 3661-1390 ou no site: https://www.plataformadetramandai.com.br