O Caminho dos Vales e das Águas, lançado em novembro passado, é uma rota que reúne atrações de nove municípios do Litoral Norte. São passeios para todos os gostos: gastronomia, banhos em cascatas, trekking, turismo rural e turismo religioso são algumas das opções – mais roteiros devem surgir ao long o do ano. Nesta parte da reportagem, conheça o turismo rural no Morro Azul.
A próxima parada é o Morro Azul, comunidade de Três Cachoeiras com sítios e turismo histórico voltado à imigração italiana e alemã. A primeira parada é o almoço na propriedade da professora aposentada Zilda Maggi Rech, 75 anos, e do dentista prático Elio Maggi Rech, 78. Há 13 anos, eles abrigam turistas em casa e, agora, fazem parte do Caminho dos Vales e das Águas. Na entrada do sítio, uma figueira de mais de 80 anos, exemplo de uma paisagem comum à região, recepciona os visitantes. Antes da porta do casarão de madeira, um quadriciclo azul chama a atenção.
A nonna é mais expansiva, o nonno é mais tímido. De avental, cumprimentam os convidados com afeto e chamam para um farto almoço colonial: à disposição, polenta, carne de panela, galinha caipirinha, arroz, feijão, aipim, saladas e bebidas. Para beber, um suco de limão e gengibre que mais parece refrigerante. A receita? Segredo da vovó. Enquanto os pratos são apreciados, os aposentados contam causos do passado.
– Fui professora a vida inteira. Depois, abri uma creche. Hoje trabalho com turista e amo. A gente conhece muita gente, já veio gente até da Palestina aqui. Não consigo ficar parada, senão envelheço. Não dirijo mais, mas ando no quadriciclo azul que comprei.
Na propriedade ao lado fica a Casa da Imigração Italiana, construção que traz objetos antigos remetendo à história dos imigrantes que vieram ao Estado no século 19 com o mesmo objetivo de haitianos, camaroneses e venezuelanos hoje. Próxima também está uma réplica da primeira capela do Morro Azul, construída em 1894 – repare no sino, construído em uma torre fora da igreja.
Pegamos a estrada salpicada de muros de pedra, construídos pelos imigrantes e tombados pela prefeitura, e menos de 1km à frente chegamos a outra propriedade familiar. A agricultora Cenira Boff, 52, recepciona a reportagem e um grupo de turistas que realiza a rota. O primeiro passo é percorrer uma trilha de 15 minutos para chegar à cascata de 7,5m de altura nos fundos do sítio. O trajeto é fácil: basta subir a colina e entrar em uma floresta. A localidade é alta, o que permite uma boa vista do horizonte e uma brisa agradável.
– Aqui beleza que vê e que se sente – brinca Cenira.
Após entrar no mato, a trilha se torna estreita – próximo à cascata, é preciso fazer fila indiana e segurar cordas para não cair. Ao fim, chegamos à cascata, localizada a 1.022m de altitude. É possível tomar banho por ali, mas o visitante deve se segurar em pedras para descer uma altura de cerca de 2m. Uma família de Brasília aproveitou para dar um mergulho.
– Estamos acostumados às cachoeiras da Chapada dos Veadeiros, em Goiânia. Achamos aqui tudo mais limpo, a água mais gelada e as pessoas mais hospitaleiras. Lá no Centro-Oeste também somos receptivos, mas não é qualquer um que entra na nossa casa como aqui – diz o psicólogo João Pedro Abreu, 45, acompanhado da esposa e da filha adolescente.
Aqui beleza que vê e que se sente"
A última parada em Três Cachoeiras é em um sítio de 70 hectares da Dona Lúcia para ver mais três cachoeiras – totalizando cinco em um dia. Somos recebidos pelos gentis agricultores Ciro Carlos Boff, 72, e Lucia Boff, 66. O nonno é o guia em uma trilha de dificuldade moderada de cerca de 40 minutos nos fundos da propriedade. O tour exige cruzar córregos, subir em terra íngreme e pisar em pedras escorregadias. O trajeto, apesar de menos acessível, vale a pena para se afundar nos sons de córregos d'água e ficar debaixo de cascatas em busca de relaxamento.
Voltamos exaustos e, para a surpresa geral, há uma mesa de café da tarde montada na sala de uma casa de madeira construída 72 anos atrás – as paredes são verde e as janelas, cor de rosa. Aqui tem de tudo: bolos, pães, roscas, pizzas, pastéis, porco, geleias (pêssego, ameixa, figo, goiaba, banana), fortaia (salame com ovo), amendoim açucarado, fregolá da nonna (farinha, amendoim, açúcar e ovo) e mais.
– É muita coisa boa, não consegui comer nem a metade – diz a moradora de Torres Elaine Martins dos Santos.
Como conhecer o Caminho dos Vales e das Águas
- Onde comprar: há pacotes em agências de turismo de Torres, Arroio do Sal, Mampituba, Caxias do Sul, Campo Bom, Farroupilha (na Serra, voltados ao turismo de aventura).
- Quanto tempo dura o passeio: um dia
- Preço: varia se incluir transporte e alimentação. De Torres, contando com ambos, sai por R$ 130. De Caxias do Sul, a viagem para Três Cachoeiras custa R$ 120 (com translado, sem alimentação) ou R$ 60 (direto no município litorâneo)