Altos, luxuosos e milionários. Nos últimos sete anos, os apartamentos nos arranha-céus de Balneário Camboriú, em Santa Catarina, viraram objeto de desejo e atraem clientes ricos e famosos de todo o país e do exterior. O que nem todo mundo sabia – e veio à tona nas últimas semanas – é que as gigantescas estruturas balançam com o vento. Um fenômeno natural e necessário do ponto de vista da engenharia, mas que deixou muita gente intrigada. Imagens que rodaram o Brasil pelas redes sociais mostraram as ondas que se formaram na piscina de um dos apartamentos do maior residencial do país, um gigante de 177 metros de altura e 46 andares, durante o temporal do dia 23 de janeiro. A água transborda com a movimentação (veja imagens).
A construtora que ergueu o prédio informou não ter recebido reclamações de proprietários sobre o balanço. O engenheiro Bruno Ricardo Franzmann, que trabalhou em projetos de nove dos 10 prédios mais altos do país, todos em Balneário Camboriú, diz que a água e os lustres, por exemplo, podem refletir um movimento que a maioria das pessoas não sente.
– O que ocorreu é normal do ponto de vista da engenharia. Eu arriscaria dizer que foi imperceptível, mas como tem piscina dentro do apartamento, a água intensifica a sensação – afirma.
A mobilidade dos edifícios é necessária para que, durante a ação de vento muito forte, a estrutura não seja danificada. Os projetos adaptam as tubulações e a estrutura para que sejam capazes de ceder levemente à ventania. É assim que se evitam rachaduras, por exemplo.
Os arranha-céus de Balneário Camboriú são reconhecidos pelas técnicas de engenharia avançadas – muitas delas, trazidas de lugares como Dubai, a Meca dos superedifícios. A cidade sediou no ano passado o primeiro congresso internacional sobre projetos de grandes edifícios no país, em que foram debatidas as tecnologias utilizadas em todo o mundo.
Os projetos dos arranha-céus passam por testes em túneis de vento, em que maquetes arquitetônicas em escala são submetidas a corredores de ventania intensa. Sensores indicam qual efeito o fenômeno terá sobre a estrutura e servem como baliza para os cálculos estruturais.
Atualmente em obras, o maior residencial da América Latina – que terá duas torres de 81 andares cada uma – precisou ir além para garantir que o morador não sinta a força dos ventos a 271 metros de altura. Dois andares inteiros, que correspondem a oito apartamentos, foram reservados como “andar técnico”, área que teve a estrutura reforçada para aumentar a rigidez das duas torres.
Curiosamente, esta não costuma ser uma preocupação entre os compradores dos apartamentos de arranha-céus. Fernanda Godoy, corretora especializada no mercado de luxo de Balneário Camboriú, diz que o pedido costuma ser outro:
– Quando começaram os projetos dos arranha-céus e o primeiro foi para venda, em 2012, a primeira preocupação foi haver rejeição dos andares mais altos por medo da altura, das janelas. Mas quando saímos para vender, o cliente queria sempre o andar mais alto, e continua assim. Vendemos exclusividade, e o céu é o limite.
Normas adaptadas
Terrenos cada vez mais caros e escassos foram o principal incentivo para que a construção civil de Balneário Camboriú se especializasse em alturas monumentais. Os arranha-céus, no entanto, demandaram uma série de adaptações que acabaram virando norma no Estado.
Quando o primeiro prédio com mais de 50 andares foi construído não havia, por exemplo, norma nacional de prevenção contra incêndios para edifícios tão altos. Foram dois anos de debates entre os projetistas e o Corpo de Bombeiros para chegar a processos mais seguros, que incluem chuveiros automáticos para compensar a dificuldade de acesso – hoje uma regra para prédios com mais de 150 metros.
Outra inovação foi a mudança na regra que exigia helipontos em cima dos prédios em Santa Catarina. Os construtores das supertorres conseguiram autorização para trocar o heliponto por reforço na prevenção contra incêndios: escada pressurizada, elevador de emergência e gerador dentro de uma antecâmara com proteção antichamas. As regras foram elaboradas pelo curso de prevenção contra incêndios da Universidade Regional de Blumenau (Furb), e também viraram normas.