Divertindo-se dando saltos de uma plataforma e mergulhando nas águas calmas da Lagoa do Peixoto, em Osório, o casal Nathanael Fernandes, 18 anos, e Tamires Santos, 17, não havia se dado conta da placa que dizia: "condições da água impróprias para banho". Afixado no final da semana passada, o aviso pegou de surpresa alguns banhistas, mas não chegou a afugentar outros que resolveram aproveitar a lagoa mesmo assim.
Pais de Nathanael, os empresários Ronaldo e Natália saíram de Gravataí para aproveitar um dia de descanso no local, que associam a tranquilidade, sombra e águas límpidas. Pela manhã, na segunda-feira, haviam ido a Tramandaí, mas logo acharam a praia muito movimentada e preferiram passar o dia na lagoa de Osório. O aviso chamou atenção, mas não impediu o banho da família.
— A água está boa, normal. Limpinha — disse Ronaldo.
— Impróprio seria não entrar nessa água abençoada — completou Natália.
Mas a placa, colocada no local pela Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), que em conjunto com a Corsan está avaliando a balneabilidade das águas em boa parte do litoral gaúcho, alerta para os riscos que a contaminação fecal das águas e a possibilidade de intoxicações a partir do contato com elas podem causar aos banhistas.
— É um risco tomar banho em local que está impróprio, principalmente no caso de crianças e idosos. O resultado indica que aquelas águas podem causar doenças. Em alguns locais, isso acontece por causa do esgoto que cai ali e pode levar a problemas como diarreia, doenças de pele e até hepatite — explica o engenheiro químico André Milanez, coordenador do Projeto Balneabilidade da Fepam.
Durante todo o verão, o projeto está monitorando 79 balneários de 40 municípios do Litoral Norte, Médio e Sul e das Regiões Hidrográficas do Guaíba e do Uruguai. Os resultados têm sido atualizados semanalmente e estão disponíveis para consulta pelo site balneabilidade.rs.gov.br, que informa ainda a previsão do tempo e pode funcionar como um guia para os veranistas verificarem como estão as condições de banhos nas águas gaúchas.
Atualmente, há sete locais impróprios para banho no Estado, conforme a Fepam: além da Lagoa do Peixoto, não estão em condições adequadas as águas da praia Recanto das Mulatas, em Barra do Ribeiro; da praia Carlos Larger, em Candelária; do Balneário Rainha do Sol, em Manoel Viana; do Balneário Nova Palma, em Nova Palma; da Praia das Areias Brancas, em Rosário do Sul; e do Balneário de Mata, em Mata. Os locais recomendados para banho têm mudado com frequência, por isso é importante verificar o site e as placas informativas, erguidas somente nos locais impróprios, para saber as condições da água.
Moradora de Osório, a profissional de educação física Naty Sochacki se assustou ao saber que as águas da Lagoa do Peixoto não estavam próprias para banho. Ao lado dos sobrinhos Luís Felipe e Tchelen, que saíram de Torres para ver a tia, ela decidiu que nenhum deles tomaria banho por ali enquanto o relatório de balneabilidade não desse um sinal verde.
— Agora não dá para entrar, né? Vamos ter que ficar só com a sombra e o vento. Não dá para arriscar pegar uma doença assim — afirmou Naty.
No caso da Lagoa do Peixoto, foi o excesso de cianobactérias — resultado de matéria orgânica nas águas, e não da incidência de esgoto, conforme o coordenador do Projeto Balneabilidade —, que em quantidade além da recomendada pode causar intoxicações, o responsável por alterar as condições de banho no local.
Cuidando da segurança dos veranistas na lagoa, o guarda-vidas Giovane Machado explica que alguns até o procuram para perguntar o que a placa com o aviso vermelho quer dizer.
— Eu digo que não é recomendado que eles se banhem ali, mas muitos acabam ignorando — lamenta Machado.
Neste verão, todos os pontos impróprios estão localizados em águas interiores. Nenhuma das praias de água salgada analisadas pela Fepam e pela Corsan apresentou níveis acima dos recomendados nos testes realizados desde meados de dezembro.
Como é feito o teste de balneabilidade
- Equipes de analistas da Fepam e da Corsan colhem amostras das águas em 40 municípios do Rio Grande do Sul. Essas amostras são encaminhadas para análise em laboratório.
- Os relatórios do Projeto Balneabilidade são elaborados com base nos resultados das informações obtidas em cinco coletas realizadas nas semanas anteriores.
- Para analisar as condições bacteriológicas nas praias e balneários, são utilizados os parâmetros coliformes termotolerantes e escherichia coli, que indicam contaminação fecal, além da contagem de cianobactérias, organismos que podem causar intoxicações.
- Se duas das cinco últimas amostras colhidas apresentarem coliformes e/ou cianobactérias além do recomendado, a área é considerada imprópria para banho.
- Novos relatórios são divulgados a cada sexta-feira durante o verão.
Como conferir a balneabilidade das águas
- Acesse balneabilidade.rs.gov.br
- O mapa mostra os locais próprios e impróprios para banho, conforme análises da Fepam e da Corsan
- Um ponto vermelho não significa que as águas daquele local estão inadequadas até o fim do verão: os resultados são atualizados semanalmente, e frequentemente há alterações
- Também um ponto verde não quer dizer que aquele local está completamente a salvo de contaminação fecal e excesso de cianobactérias. Por isso, é recomendado conferir toda semana antes de se banhar
- Além de informar as condições de balneabilidade, o projeto também disponibiliza uma previsão do tempo e a cor da bandeira erguida nas guaritas do local consultado
- A Fepam está monitorando 79 balneários de 40 municípios do Litoral Norte, Médio e Sul e das Regiões Hidrográficas do Guaíba e do Uruguai até o final de fevereiro.