Os olhos contrariam todas as recomendações de permanecerem abertos, fechando instantaneamente enquanto a cabeça mergulha em meio a imensidão do céu. O vento gelado seca a boca por dentro assim que ela é aberta para gritar. O berro exorciza, ali, todo o medo da queda livre a 220 km/h. Tudo que vem a seguir é mar, lagoa e os morros: a combinação de uma visão incrível de Torres, no Litoral Norte, vista de um salto de paraquedas a cerca de 4 mil metros do solo.
Senti na pele tudo o que você leu até aqui, na manhã desta sexta-feira (19), durante o 1° Avante Summer Camp/Sul-Brasileiro de Paraquedismo, em Torres. Organizado pela Arcanjos Shows Aéreos com apoio da prefeitura de Torres, o evento, que ocorre até domingo (21), deve contar com 700 lançamentos. Além dos paraquedistas experientes, o encontro é uma boa oportunidade para novatos – como a repórter – experimentarem a modalidade em saltos duplos.
Extremamente seguro, o paraquedismo está longe dos primeiros colocados no ranking das atividades radicais mais perigosas. Hoje, ocupa a 23ª colocação, diz o instrutor e proprietário da Arcanjos, Newton Nogueira. Tecnologia dos equipamentos e volume de paraquedistas pelo mundo contribuem para reduzir os acidentes. Mesmo com os avanços, não faltam cuidados antes de entrar no avião.
— Temos uma verificação inicial da aparelhagem. Esses equipamentos são lacrados a cada seis meses. Saltamos com dois paraquedas. O de emergência é zero saltos. Temos um dispositivo de segurança, que se a gente não fizer nada até determinada altura, ele vai ler que você está em queda livre e vai fazer o disparo automático. Temos inspeções na saída e no embarque e o grupo é muito unido. Um sempre está supervisionando o outro — enumera Nogueira, que me "guiou" com total tranquilidade nessa aventura.
Segurando o equipamento preso ao meu corpo com toda força que podia, resisti às orientações para me ajoelhar na porta da aeronave. Quando dei por mim já estava caindo avião afora. Em um misto de medo e adrenalina, consegui abrir meus olhos só alguns segundos depois. Com tudo isso, quase que esqueci do pedido para soltar os braços, sorrir e abanar para a câmera presa à mão esquerda de Nogueira. Passado o susto inicial da queda livre, o voo com o paraquedas aberto é, além de um colírio, um calmante natural para corpo e mente. O céu azul, o sol brilhando, o mar limpo de um lado e a Lagoa da Itapeva do outro são os melhores remédios para baixar os batimentos.
Saltos podem ser realizados o ano todo
Ao meu lado em categoria "iniciante" também estava Gabriel Cartelli, 20 anos. Acostumado a sentar na cabine ao lado do piloto, o ajudante de solo e aspirante a piloto saltou em Torres, com o grupo de paraquedistas que tocou o solo pela primeira vez, nesta sexta, depois de virem de Novo Hamburgo.
— Geralmente, eu fico do lado de dentro pilotando e, pela primeira vez, eu acabei do lado de fora. Estava embarcando lá em Novo Hamburgo e me convidaram. Eu topei na hora. Fiquei tranquilo, só com um pouco de medo na porta. Mas é muito legal, vale a pena — conta.
No evento deste final de semana, a aeronave usada tem capacidade para 15 paraquedistas. Nos outros finais de semana, a Arcanjos trabalha com um avião para quatro aventureiros. Para realizar os saltos duplos, é preciso fazer agendamento prévio por WhatsApp e contar com uma mãozinha de São Pedro.
Saiba mais
Localização: Aeroporto de Torres (RS-389 s/n)
Funcionamento: sextas, sábados e domingos, das 8h às 20h (dependendo das condições climáticas)
Salto duplo (inclui foto, filmagem e certificado): R$ 680 (parcela em 12x de R$ 68 no cartão)
Telefone para agendamento por WhatsApp: (51) 98278-3000