É batismo no velho estilo, na água, mas esse tem puxão e tombo. Quem quer aprender a andar de kitesurfe, um dos esportes radicais que mais arregimentam adeptos no litoral gaúcho, tem de passar primeiro algumas horas na água para aprender a controlar a pipa (kite), que são as "asas" do kitesurfe, e só depois subir na prancha para velejar.
Aos 56 anos, a professora Doris Teresinha Spadaro de Freitas, de Caxias do Sul, decidiu que queria aprender o kitesurfe. Amante da natureza e fã de esportes radicais, ela aguardou durante a semana pelas melhores condições do vento para começar as aulas na escola Rajada. Na tarde de quinta-feira, vestiu o trapézio - cinturão onde se prende as linhas da pipa - e o colete flutuante e se aproximou da beira da Lagoa dos Barros, em Osório, na companhia do professor Rafael Freitas, 34 anos.
- Primeiro se aprende a velejar com o corpo. O aluno vai com a água na cintura para saber como o kite puxa com o vento. Depois de umas cinco, seis horas na água, fica simples. Leva de 10 a 12 horas para se formar um aluno - explicou o professor.
A aluna estava concentradíssima. O vento soprava a cerca de 30 km/h, velocidade considerada baixa e que permitia o uso de pipas maiores, que podem ter 18 metros quadrados. As pipas menores costumam ter três metros quadrados e servem para dias de ventos mais fortes, de até 50 km/h.
Doris levou a pipa para a direita, depois para a esquerda. Os olhos acompanhavam a luta da pipa com o vento, tentando domá-lo. A pipa voltou para a direita, mas com muita força.
- Uuuuuuuuu! - berrou Doris, de repente, e o kite caiu na água com força.
O custo para praticar kitesurfe não é baixo. A pipa custa cerca de R$ 5 mil. A prancha, R$ 1,5 mil. Acessórios como o colete e o trapézio saem por aproximadamente R$ 500. O preço total das 10 aulas na Rajada é de R$ 1,5 mil.
Depois de meia hora, Doris parecia mais acostumada ao jogo do vento. Usou a mão esquerda, depois a direita, para controlar uma lufada de ar mais violento. Em uma dessas rajadas, a pipa subiu, o sol cegou Doris momentaneamente, ela se desconcentrou e o kite foi parar na água. Apesar do percalço, Doris já conseguia ter um controle melhor.
O segredo é controlar o vento e usá-lo a seu favor, segundo Clarisse Mallmann, 34 anos, mulher e sócia de Rafael. A maior dificuldade ocorre nos puxões, isto é, quando o vento sopra mais forte e é preciso controlar os golpes na pipa. Se o vento a empurra para a direita, é necessário soltar a corda da mão direita e puxar a da esquerda. Normalmente, ao sentir o puxão para a direita, as pessoas acabam reagindo com a mão direita, o que faz a pipa cair ainda mais rápido. Foi o que ocorreu em seguida.
- Aaaaaaaaaa! - gritou Doris, desabando na água após um puxão, sob os risos do professor.
Pronto, a aluna estava batizada.