* Por Alexandre Garcia, jornalista da Rede Globo
Meu encontro com o Oceano Atlântico no litoral gaúcho foi em março de 1950. Eu tinha nove anos, e meu pai alugou uma casa em Santa Teresinha. Em março, era fim de temporada, e o aluguel, mais barato. De Estrela ao destino era um dia inteiro de viagem. Duas barcas no Rio Taquari e uma no Rio Caí. Estradas encascalhadas, à exceção da "faixa" de cimento entre São Leopoldo e Porto Alegre. Parada em Porto Alegre para o almoço e em Santo Antônio da Patrulha para esfriar com baldes de água os pneus da van Fordson inglesa. Quando avistamos a Lagoa dos Barros, gritaria geral: "É o mar! É o mar!". Mas ainda faltava passar por Tramandaí e Imbé, onde começava um perigoso trecho na areia da praia.
Meu pai parou várias vezes para se informar com pescadores sobre o estado da trilha e das marés. Por fim chegamos ao chalé de madeira, já escurecendo. Fui dormir sonhando com o dia seguinte, as ondas, a areia, o sal da água. Até então, só fora molhado com água salgada no batismo.
Café da manhã de pão com manteiga e café com leite e a angústia de sair logo para conhecer o mar. Ele estivera a noite toda rugindo. A primeira entrada no mar a gente nunca esquece. A água fria com "iodo" atingiu meus pés e quando a onda voltou a areia começou a sumir debaixo de mim e me assustei.
Pensei nas histórias de areias movediças. Com a mão em concha, provei a água: deixou-me a boca salgada. Haviam me contado que quando a onda viesse era preciso pular, para não ser derrubado. Pulei até cansar. Não havia mais que 200 pessoas na praia. Santa Teresinha não tinha mais que 200 casas, de madeira, e boa parte já estava fechada. Cômoros trazidos pelo vento já começavam a cobrir as casas da periferia. Não havia telefone, e a oferta de eletricidade, por um motor diesel, ia até 10 da noite.
Era um isolamento gostoso. Pela manhã, catávamos marisco na areia, enchendo latas. Minha mãe limpava e fazia com arroz. Uma exótica delícia. Dona Maria, da banca de frutas, me emprestou o cavalo e eu me desesperei. O bicho, sem responder ao meu tíbio comando, simplesmente tomou o rumo da casa da dona, continente adentro. Ela teve que me trazer de volta de carroça. Depois do almoço, eu brincava numa lagoa costeira aquecida pelo sol e entre dunas bem altas. A imaginação me transportava para um oásis no Sahara. Ao fim de 15 dias sob o sol, eu parecia um indiano.
Era um paraíso. Não havia alto-falantes na praia, nem carros, nem vendedores, nem ladrões, nem asfalto, nem gente demais, nem sujeira. Não existia ainda televisão, nem celular, nem twitter e as famílias e amigos tinham assunto para o tempo todo. O hotel, parece, fazia um baile no sábado à noite, que terminava quando o gerador parava. Naquele tempo a gente realmente descansava na praia.
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