* Por Maurício Saraiva, comentarista da RBS TV e TVCOM
Um acidentado fim de semana em Rainha do Mar é a história contada pelo comentarista Maurício Saraiva: de contusão no futebol feminino a uma inconveniente mãe dágua, aconteceu um pouco de tudo na família, que passava o verão em uma colônia de férias
No desafio de ontem, quatro leitores de Zero Hora acertaram que a criança da página 31 era Maurício Saraiva.
Aconteceu na década de 70, quando futebol feminino era tão fora de contexto como mulher afegã sem burka no regime talibã. Na colônia de férias do Banrisul, as mulheres dos maridos bancários decidiram jogar um Gre-Nal. A ideia foi bem aceita por eles e a perspectiva da efeméride virou atração na praia de Rainha do Mar.
Os homens anteviam as cenas cômicas do domingo para o qual foi marcado o clássico. Na época, mulheres não tinham a mais remota noção de como jogar bola. Logo, o divertimento masculino estava garantido.
Nossa atenção se transferiu totalmente para o evento anunciado. O Gre-Nal de mulheres em que minha mãe jogaria vestida de Grêmio para desespero do meu pai, colorado. Dona Lia nunca tinha chutado uma bola antes, como de resto nenhuma de suas outras 21 parceiras de aventura, mas era o de menos.
No sábado anterior ao clássico, porém, meu irmão Luciano, de cinco anos, teve uma crise respiratória e preocupou a todos. Puxava o ar, não vinha. Os olhos incharam, angústia. Meu pai chamou médico, comprou remédio, passamos a esperar pela melhora do Luciano durante a noite inteira. Ao amanhecer, ele só tinha como herança da crise os olhos ainda inchados.
A alegria de criança estava de volta, intacta. O Gre-Nal seria à tarde, minha mãe almoçou leve, dormiu para descansar da noite insone e se apresentou para o jogo. Os times entraram em campo, fizeram pose para fotos, havia um juiz tirado sei lá de onde. Não faltava quase nada. Só as chuteiras.
Não havia chuteiras ou tênis, só as camisetas e os calções para as mulheres jogadoras. Se o jogo já era de risco, imagine. A bola, pobrezinha, foi maltratada desde o primeiro minuto. Antes dos 10, minha mãe foi chutar a bola, errou, chutou o chão, caiu e ficou. Acabava o Gre-Nal para ela e para nós, que já vínhamos de uma noite infernal por causa da crise respiratória do meu irmão.
Como dona Lia, com o pé enfaixado, foi descansar no quarto, seu José Mauro pensou em algo que nos distraísse. Convidou a mim e ao Luciano para que fôssemos à praia. Era fim de tarde, ventava como os gaúchos sabem que venta à tardinha no nosso litoral, mas nada nos desencorajou. Para minha surpresa, a água normalmente fria estava mais quente, embora o colorido ainda variasse entre o marrom claro e o escuro.
Só eu entrei no mar, dei saltos acrobáticos e mergulhos não menos, até que senti o calção folgar e uma mãe dágua se autorizou a invadir minha intimidade. Foi rápido, ela entrou de um lado do calção e saiu do outro. O dolorido e a queimação demoraram dias para deixar a parte tão delicada do meu corpo. Era um fecho de domingo digno dos episódios anteriores.
Agora, ao relembrar esta história litorânea a convite de Zero Hora, um sorriso toma conta ponta a ponta do meu rosto. Na época, tudo pareceu muito grave. Hoje, é uma lembrança deliciosa de cenas de uma infância feliz. Mesmo assim, ainda hoje sonho regularmente com aquela maldita mãe dágua.
Sabe quem é a pessoa da foto? Clique e dê seu palpite! A resposta será publicada na Zero Hora de amanhã.