Nas redes sociais, "bonito", "gente boa" e "inteligente" são alguns dos adjetivos atribuídos ao norte-americano Luigi Mangione, principal suspeito de assassinar o CEO da UnitedHealthCare, Brain Thompson, na semana passada. Desde segunda-feira (9), quando foi preso pelo crime ocorrido nos Estados Unidos, o jovem de 26 anos tem conquistado uma legião de fãs.
Em poucos dias, Mangione ganhou centenas de milhares de seguidores no X (antigo Twitter) e no Instagram. Em algumas publicações, usuários confessam estar encantados pelo suspeito. O psiquiatra e coordenador do curso de Medicina da Universidade Feevale, Pedro Beria, explica que essa obsessão pode ser vista como um fenômeno social, já que o suspeito foi encontrado com um manifesto condenando o sistema de saúde dos Estados Unidos.
— O que eu vejo é um fenômeno de insatisfação com o sistema de saúde norte-americano. Tanto que já houve a glorificação antes de se saber a identidade dele. Não sabiam quem havia cometido o crime, mas já estavam buscando saber para, então, enaltecer. As pessoas não o ouviram falar, não se conectaram com ele. Mas se sentiram representadas através das suas frustrações em relação ao acesso à saúde e imaginaram que ele seria uma pessoa que poderia ampará-las — avalia.
O "charme superficial" dos serial killers
O interesse por criminosos não é novidade. Autores de casos famosos, como Jeff Dahmer, Ted Bundy, Charles Manson e os irmãos Menendez também conquistaram fãs. Documentários e livros mostram que esses assassinos recebiam, frequentemente, cartas de amor na prisão. O Maníaco do Parque, serial killer brasileiro preso há mais de vinte anos, recebe presentes e visitas de mulheres apaixonadas.
Para Beria, não é possível comparar Mangione com esses famosos, uma vez que o jovem de 26 anos ainda não foi avaliado por psicólogos e psiquiatras forenses e, portanto, não recebeu um diagnóstico. Os criminosos com Transtorno de Personalidade Antissocial, como é o caso de alguns assassinos em série, costumam ter comportamentos que os tornam mais interessantes.
— Nesses casos, de serial killers conhecidos, muitas vezes o que acontecia? Carisma, comportamentos de ousadia, algo que no Transtorno de Personalidade Antissocial é chamado de charme superficial. Isso é, de uma maneira sistemática, que para eles pode ser natural desenvolver comportamentos que sabidamente vão ser bem aceitos, falar coisas que vão ser agradáveis, agir de uma maneira que as outras pessoas entendam como tolerável ou que chame atenção. Eles fazem isso para se mostrarem agradáveis e as pessoas se aproximam.
A beleza de Luigi ajudou
Para os fãs de cultura pop, outro marco sobre a paixão por criminosos é a música Criminal, da Britney Spears, lançada em 2011. Na letra, a cantora fala uma série de características negativas do homem pelo qual está interessada e diz: "Estou apaixonada por um criminoso, e esse tipo de amor não é racional, é físico".
Beria acredita que a beleza de Luigi Mangione pode ter sido um facilitador para o sentimento de conexão, embora ele já tivesse ganhado fãs antes mesmo de ser identificado pela polícia.
— Pessoas que são consideradas bonitas tendem, muitas vezes, a se aproximar de forma carismática do ideal da humanização, mesmo que tenham cometido crimes — acrescenta o especialista.
Para o psiquiatra, o sentimento de admiração ou encantamento por uma pessoa que comete crime hediondos não deve ser considerado saudável. Mas ele defende que é importante separar que, na maioria dos casos, as pessoas não estão glorificando o crime em si, mas sim a possível manifestação contra um sistema que causa descontentamento.