Circular pelas ruas do bairro Mathias Velho, em Canoas, ainda causa surpresa. As montanhas de entulho contrastam com a força do povo de se reerguer. A ONG Chimarrão da Amizade foi um dos inúmeros pontos da cidade que teve suas estruturas tomadas pela água barrenta da enchente de maio. E também é mais um local que exala esperança de reconstrução.
Criada em 1981 por dois casais, a Chimarrão atua em diversas frentes de inclusão das pessoas com deficiência. Entre as ações, estão serviços de convivência e fortalecimento de vínculos com bebês, crianças e jovens, atendimento às famílias de pessoas com deficiência de média complexidade e acolhimento de idosas com deficiências de alta complexidade. Desde o dia 3 de maio, porém, os atendimentos realizados na sede tiveram que ser interrompidos, pois a água começou a subir. Priscila de Oliveira, gestora administrativa da Chimarrão e bisneta de um dos fundadores, conduziu a reportagem pelo espaço da instituição que, atualmente, está em fase de reconstrução.
A ONG contou com a ajuda de doações e voluntários para limpar e organizar um de seus pavimentos. Entre os apoiadores está a atual Miss Grand RS, Talita Hartmann. O local, que antes abrigava diversas cozinhas, agora servirá de sede administrativa para as atividades da instituição. Na sala, estão presentes mesas de escritório, também oriundas de doações. A reabertura desse espaço ocorrerá no dia 8 de julho.
Desafio
Apesar da limpeza pesada, as manchas marrons são visíveis em quase todos os cômodos da ONG. Em um deles, nem o ar-condicionado, instalado próximo ao teto, escapou da água. O pátio, que abrigava árvores frutíferas, agora está recebendo carrinhos de mão e vassouras. No entanto, por mais desafiadora que seja a reconstrução neste momento, Priscila afirma que desistir não é uma opção, pois entende a importância dos seus serviços para a comunidade.
– O logo da Chimarrão é um coração, porque representa o amor que a gente tem. Nós queremos inspirar as pessoas a recomeçar. Não temos nem o direito de desistir – diz a gestora.
Momentos de desespero
Sempre solícita, a publicitária de formação conta que o momento que teve que retirar as idosas que estavam no lar de acolhimento foi desesperador. Priscila descreve que no dia da evacuação separou apenas um pacote de fraldas por idosa, por não imaginar que o cenário fosse se alongar por tanto tempo nem que os estragos seriam tão fortes:
– Foi uma tomada de decisão. A última idosa foi retirada às 23h30min do dia 3, mas elas não queriam sair. Diziam: “Essa aqui é minha casa”. Foi bem assustador.
As idosas foram encaminhadas para o Centro de Convivência do Idoso, da prefeitura de Canoas. Segundo Priscila, estão bem instaladas, pois receberam doações de camas e colchões. No entanto, sentem falta da ONG, onde já tinham sua rotina estabelecida e os espaços de atividades segmentados.
Reconstrução
Mesmo com a sede interditada por conta dos danos causados pela enchente, o acolhimento da ONG não cessou. Priscila relata que, no momento, os voluntários estão realizando visitas em escolas e residências em Canoas, para ajudar no processo de reconstrução das famílias. Segundo a gestora, o objetivo, além de oferecer carinho, é conscientizar as pessoas sobre como utilizar o dinheiro disponibilizado pelos auxílios.
– Nós queremos que eles fiquem seguros e se fortaleçam, para que voltem para a ONG o mais rápido possível – relata Priscila.
E esse sempre foi o propósito da Chimarrão: a reabilitação. A mudança e o desenvolvimento das pessoas com deficiência, construído a partir de uma série de atendimentos especializados, são o cerne da instituição, que hoje atende 300 famílias do município.
– Nós não cuidamos apenas da pessoa com deficiência, atendemos a família como um todo – finaliza Priscila.
Ajude a Chimarrão da Amizade
- São necessários serviços voluntários de todos os tipos para a reconstrução da sede. Se puder ajudar, contate (51) 99742-0875 (Alessandra) ou (51) 98164-0763 (Priscila)
- Doações em dinheiro podem ser feitas para o Pix (CNPJ) 90.093.634/0001-29
Produção: Elisa Heinski