Desde as 8h da manhã desta quinta-feira (30) de feriado, frio e sol tímido, cerca de 200 fiéis confeccionam tapetes na celebração de Corpus Christi na rua em frente à Igreja Santa Ana, em Gravataí. Participam da elaboração, especialmente, grupos ligados à igreja: turmas de catequese, grupos de jovens, movimentos e pastorais. Os quadros dos tapetes são feitos com serragem pintada e materiais como cal, café, erva-mate e caroço de abacate ralado. São 30 quadros, cada um com 2,40m x 3,40m, que formam um tapete de 72 metros.
— O tapete quer expressar a ideia de que somos peregrinos da esperança, perseverantes na fração do pão e na oração — explica o padre Inácio Messa.
A confecção dos quadros segue até as 15h, quando haverá missa, seguida de procissão. Este é o quarto ano consecutivo em que a celebração é realizada na paróquia.
— Quisemos manter justamente para, além da questão da fé, ter uma terapia, focando em outro tema, em meio à enchente — destaca o padre, que deixa uma mensagem para o povo gaúcho: — Há a necessidade de que, motivados pelo Evangelho, sejamos capazes de construir uma sociedade que tenha como alicerce o amor, o respeito e a solidariedade.
Cada grupo recebeu um texto, previamente definido pela paróquia ainda em abril, para ler e interpretar em forma de desenho. Depois, os desenhos foram confeccionados nos tapetes. Os temas se baseiam no Sínodo 2021-2024; no Jubileu do Ano Santo 2025, ano da oração e estudo das Constituições do Concílio Vaticano II; e na Campanha da Fraternidade 2024, com o lema “Vós sois todos irmãos e irmãs”.
A paróquia é uma das poucas da Região Metropolitana que manteve a tradicional ação neste ano. As outras optaram por arrecadar doações para as vítimas das enchentes, formando “tapetes solidários”.
Na Igreja Santa Ana também foram solicitadas doações dos fiéis. No local, funciona um centro de arrecadação e distribuição de doações. Muitas pessoas na cidade estão acolhendo vítimas de outros municípios, em especial do bairro Humaitá, de Porto Alegre, e de Eldorado do Sul, segundo o padre.
— Como sinal visível de que a solidariedade de pessoas, instituições e empresas é maior do que a enchente das águas, há uma campanha de alimentos — acrescenta.
A estudante Mariana Fabry Souza, 17 anos, espera pelo evento o ano todo. Ela auxiliou na montagem do quadro do movimento Jovem Onda, do qual participa, organizando e colocando as serragens coloridas para montar Jesus.
— Eu sempre venho, todo ano, é muito legal para mim, me entrego 100%, estou até de meia. A gente acaba confraternizando, independentemente dos diversos grupos — relata. — É muito boa essa coisa de um ajudar o outro para um propósito só, uma meta.
Impossibilitado de se ajoelhar para ajudar na montagem, o aposentado Paulo Ricardo Cerqueira, 62, vinculado ao movimento Encontro de Casais com Cristo, ajudou na concepção de ideias para os tapetes. A missão do grupo era representar a importância dos elementos do católico; para isso, elegeram os temas “igreja” e “Cristo com crianças”, que simboliza o início da comunidade. Católico praticante, Cerqueira considera a data importante por reunir a comunidade.
— A gente participa há mais de 30 anos e vê uma nova geração, amigos lá do início, filhos, netos, uma importante união para esse lindo objetivo — comenta.