O médico pediatra Thalis Bolzan, que namora o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, concedeu sua primeira entrevista nesta sexta-feira (6), para o programa Timeline, da Rádio Gaúcha. Durante a conversa, falou sobre o início de sua relação e relatou que, nesta época, sofreu preconceito pela primeira vez em sua vida.
O primeiro caso foi ainda na pandemia, quando visitava Leite e ocorriam manifestações em frente ao Palácio Piratini. De dentro, Thalis escutava.
— Ouvi coisas que nunca tinha ouvido na minha vida, questionando quem é o Eduardo para falar em família, que ele não é capaz de dar uma primeira-dama (ao Estado), que não é capaz de ter filhos. Foi logo no começo, então, era tudo muito novo para mim, e foi o primeiro sentimento que eu tive de alguém que realmente sofre o preconceito na pele — recorda o médico, complementando que esse tipo de ato precisa ser denunciado e punido.
Em sua posse, Leite fez história ao declarar, durante discurso no Piratini, seu amor pelo namorado. O governador disse, na ocasião, que a eleição de 2022 foi a primeira vez em que se apresentou “sem precisar deixar de falar algo pessoal” e que entende que é preciso “ir na direção correta, do ponto de vista civilizatório”.
— Se nós acreditamos efetivamente no amor, como acreditamos, ele não pode ser seletivo, mas sim a cada uma das pessoas, como o próprio Deus ensinou. E, por isso, é com muita alegria que estou aqui ao lado do Thalis, o meu amor. O Rio Grande do Sul não tem uma primeira-dama, mas tem alguém que é de verdade, podem acreditar — afirmou o governador, durante sua fala.
O médico de 31 anos conta que a declaração foi uma surpresa que lhe deixou sem reação:
— Eu via o pai dele, que estava perto de mim, e dizia “mas que cena mais linda” e chorava e não conseguia se controlar. E eu tentava me controlar, não sabia para onde olhar, o que fazer, as pessoas todas se levantando para aplaudir. Mas foi um gesto de muita coragem, que saiu do fundo da alma dele.
Thalis destacou, ainda, que Leite sempre disse desejar falar abertamente sobre sua orientação sexual e que a entrevista ao jornalista Pedro Bial, em julho de 2021, quando falou sobre ser gay, motivou o médico a também revelar sua sexualidade para o pai.
— Minha mãe já sabia e sempre me apoiou, mas o meu pai, não. Três dias antes de a entrevista ir ao ar, o Eduardo falou: prepara. Apoiei ele, ele tem consciência, eu tenho consciência, de quanto isso é representativo para tantas pessoas. Acho que muitas pessoas se enxergam na gente. Fiquei assustado no começo, a gente nunca se sente preparado. (...) Aí, minha mãe avisou meu pai. Ela falou que eu era gay e, ao mesmo tempo, que eu namorava o governador do Rio Grande do Sul — relata o médico.
A reação do pai, Carlinhos, foi chorar durante uma semana, segundo o pediatra. O tempo, contudo, tratou de curar as feridas:
— Hoje, eu tenho certeza de que ele sabe que o meu caráter e tudo o que ele me ensinou, nada disso muda.
Especialista em endocrinologia pediátrica, Thalis cursa o segundo ano de mestrado em São Paulo e trabalha no departamento médico de uma indústria farmacêutica focada em medicamentos para doenças raras. Atualmente, é responsável por capacitar outros médicos no tratamento de crianças com nanismo. A terapia foi autorizada há cerca de um ano no Brasil e permite uma aceleração no crescimento de pessoas cometidas pela doença quando ainda estão na infância.